Ministro Paulo Guedes em reunião ministerial (Foto: Adriano Macho/Reuters)
A última saída de um ministro do governo Bolsonaro foi a de Abraham Weintraub, que era responsável pela pasta da Educação. Sua saída é mais uma das várias que aconteceram. A primeira foi a de Gustavo Bebianno, que morreu em março deste ano. Ex-ministro da Secretaria-Geral, ele deixou o cargo em 18 de fevereiro do ano passado. De lá para cá, nove mudanças ocorreram, inclusive a demissão de um dos principais nomes desse governo: Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).
Somente neste ano, Bolsonaro já passou por três crises ministeriais. Enquanto o Brasil enfrenta a pior crise sanitária e econômica de sua história, o governo insiste em criar ainda mais rixas contra seus adversários políticos. A famigerada “governabilidade” está tão complicada que Bolsonaro, que em campanha afirmava jamais negociar com o sistema, agora se vê sem alternativas e, numa verdadeira ginástica mental, fala que isso nunca foi dito. Essa aproximação com o centrão, que detém diversos nomes ligados aos piores casos de corrupção que esse país já viu e se mostra tão contrário à agenda reformista do Ministério da Economia, promete balançar o casamento, como o próprio presidente gosta de classificar, entre ele e o último pilar da época de campanha, o ministro Paulo Guedes.
Apesar de os líderes de partidos como DEM, MDB, Podemos, entre outros, elogiarem as tentativas de reforma por parte de Guedes, na prática têm atitudes extremamente opostas. Partidos de centro sempre foram os que mais gastaram o dinheiro do contribuinte, seja com Fundão, com auxílios, ou qualquer outra farra com o dinheiro público que a legislação permita. Um exemplo clássico foi a resistência dos políticos em votar a reforma da Previdência, que só foi possível após a liberação das emendas parlamentares.
A velha política, classificada por Bolsonaro e seus aliados como principal inimigo da nação, de uma hora para outra virou a principal aliada para sua continuidade no poder. Nomes como Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto, que foram indiciados em escândalos de corrupção do Mensalão ainda no governo Lula, são os líderes dessa parte do Legislativo em Brasília. O presidente sabe que a única forma de manter o apoio é a liberação de dinheiro, e isso desagrada muito Guedes.
Mais recentemente foi apresentado pelo general Braga Neto o programa desenvolvimentista Pró-Brasil, sem o aval ou sequer a participação de Paulo Guedes em seu desenvolvimento. Essa atitude caiu como uma luva para os partidos de centro. Isso porque o plano exclui o teto de gasto e seria mais uma forma de conseguir capital público. Cada vez mais Guedes perde força dentro do governo e isso pode atrapalhar muito os planos de Bolsonaro.
O professor de economia da PUC-SP Claudemir Galvani explica que a eventual saída do ministro da Economia desgastaria ainda mais o atual governo, uma vez que Guedes é um dos quadros respeitados deste limitado ministério. Além dele, somente o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é considerado competente e com currículo para o cargo. Desta forma, Bolsonaro ficaria só com os amigos na sua equipe e somente teria apoio dos 25% de brasileiros classificados por ele como jihadistas.
Além do desgaste com o eleitorado, Bolsonaro perderia popularidade dentro do mercado financeiro. André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, conta que a saída do ministro colocaria um ponto final na agenda liberal do governo, o que faria os preços dos ativos caírem fortemente, e pioraria ainda mais o ambiente de negócios brasileiro. Ele ainda fala que a curto prazo a economia não seria tão impactada, contudo, em longo prazo a situação seria desafiadora, com uma queda da bolsa bastante importante.
As próximas semanas em território tupiniquim serão intensas. O número de casos de Covid-19 não parece diminuir, o número de desempregados e empresas encerrando atividades só cresce. Enquanto isso, em Brasília, o governo parece mais preocupado com a reeleição em 2022 e o presidente parece não se importar com o povo que o elegeu.