Manifestações do dia 7 de setembro - Por que neste ano são diferentes?

Especialistas discutem as pautas das manifestações
por
Giovanna Crescitelli e Leonardo Matias Duarte
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07/09/2021 - 12h

Encaramos uma polarização muito violenta e evidente na situação política nacional. No dia 7 de setembro, teremos ao mesmo tempo manifestações de esquerda lutando pelo fim do governo Bolsonaro e manifestações da direita, onde estarão os apoiadores do presidente. Além disso, existem motivos para acreditar que os próprios policiais também estarão no ato apoiando o governo.

O jornal O Estado de São Paulo revelou que no dia 22/08/21 - um domingo - o coronel Aleksander Toaldo Lacerda publicou mensagens de apoio a Bolsonaro em suas redes sociais e convidou todos para a manifestação na data que marca a independência do Brasil. No mesmo dia,
Ricardo de Mello Araújo, atual diretor da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais (Ceagesp), órgão ligado ao governo federal, convocou em suas redes sociais os “veteranos da Polícia Militar” para irem à manifestação. Mello Araújo é ex-comandante da Rondas Ostensiva Tobias Aguiar (Rota). Em outra matéria publicada em 23/08/21, o jornal apurou que existe um ponto de concentração dos veteranos da ROTA para a manifestação, de onde caminharão juntos até a Paulista. 

Os posts indicam a imaginada escalada da bolsonarização das forças policiais. Não é em vão que o Coronel Lacerda foi afastado na segunda-feira seguinte. Diferente de Mello Araújo, Aleksander é um oficial da ativa, com cargo de comando na PM do estado mais populoso do país. Na nota emitida pelo governo paulista, está em destaque que a instituição da PM tem “o dever e a missão de defender a Constituição e os valores democráticos do país nela expressos”.

A questão não é exclusividade de São Paulo. Os governadores opositores à Bolsonaro (sem partido) como Rui Costa (PT) do estado da Bahia, Camilo Santana (PT) do Ceará, Paulo Câmara (PSB) de Pernambuco e Flávio Dino (PSB) do Maranhão também estão em estado de alerta em relação a bolsonarização de suas tropas. 

Em entrevista a CartaCapital, o procurador de Justiça Pedro Falabella, que trabalha no TJM, afirmou: “Não há hipótese de se poder comparecer, enquanto militar da ativa, do ponto de vista do regulamento em vigor. Não há margem para discussão. Mesmo sem farda e em horário de folga o PM está submetido ao regulamento disciplinar”.


A presença dos militares da ativa em protestos é ilegal principalmente por dois motivos: o caráter coletivo da manifestação e a presença da ativa e da reserva ser contrária ao regimento disciplinar interno que proíbe “petições, manifestações de caráter reivindicatório, de cunho político-partidário e religioso de crítica ou apoio a ato de superior e para tratar de assunto de natureza policial”. Falabella reforça que “Você pode discutir se o regulamento é justo ou não, mas não pode escolher se vai ou não cumpri-lo. Esse é o sentido da disciplina. A Lei tem de ser cumprida. Se não, é o caos. Se você não quiser cumprir a lei, vá ao Congresso e tente mudá-la”.

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