De acordo com um estudo realizado pela Pretahub, intitulado Empreendedorismo Negro no Brasil 2019, cerca de 51% dos brasileiros que empreendem são pretos ou pardos. Com o objetivo de traçar o perfil desse grupo, foi constatado que 31% dos entrevistados articula os seus produtos à cultura afro, de modo a tratar de atender às demandas dos consumidores negros.
Segundo Iraê Mariana Medina, uma das fundadoras da Feira Ébano, espaço multicultural de divulgação de empresas feitas por pessoas negras, os afroempreendedores brasileiros movimentam "trilhões de reais por ano", apesar de ainda terem dificuldade de serem enxergados como uma potência: “Acredito nos afronegócios como sinônimo de liberdade para esse grupo, ocupando um espaço que não havia sido pensado até então para eles.”
A pesquisa feita pela Pretahub constatou também que 46% dos entrevistados empreendem por necessidade econômica em razão do desemprego, enquanto os outros 51% afirmam que o fazem por vocação e desejo. Assim, Medina ressalta a importância do trabalho da Feira Ébano: “Divulgar e consumir afroempreendedores ajuda a manter o dinheiro circulando entre pessoas negras, gerando renda, emprego e promovendo a sua integração à sociedade e ao sistema financeiro.”
Dentro do empreendedorismo, a moda é um dos ramos que mais cresce na indústria. Do ponto de vista antropológico, a Moda Afro é aquela produzida por pretos, para pretos e não pretos, resgatando a estima e reputação da cultura dos brasileiros afrodescendentes na sociedade.
Com o objetivo de trazer referências e valorizar a cultura africana, a maior parte dessas marcas recuperam elementos de sua ancestralidade. Com uma história plurinacional, essas inspirações são variadas. Como exemplo, vale ressaltar que considerável parte dos grafismos e desenhos usados nas estampas afro tradicionais foram trazidos pela nação Bantos, da África Subsaariana.
Outra cultura que exerce muita influência nesse ramo da moda é a do povo Nagô, pelos trajes que hoje são usados pelas mulheres baianas. Além disso, eles trouxeram uma série de lendas, mitos e tradições religiosas que são fundamentais na confecção de roupas para essas marcas, como conta Maria Eduarda Bona, dona da loja Saevus: “Sou muito ligada com a minha espiritualidade. Intuições, sonhos e a natureza são as principais inspirações para as minhas peças, isso é o que me conecta ao Candomblé, aos Orixás e à Umbanda.”
A maior parte das referências a essas culturas que hoje existem no Brasil foram trazidas pelos escravizados vindos do continente africano. Apesar de terem sido privados de viver e de se comportar de acordo com os seus costumes e de fazerem parte de um processo de miscigenação cultural, esses grupos conseguiram deixar uma herança fundamental na construção da cultura do país.
A dificuldade de pessoas negras em alcançar maior visibilidade e reconhecimento de suas próprias marcas é consequência dessa opressão histórica que ainda se mantém presente. Segundo Bona, que tem meninas jovens e negras como público alvo, os algoritmos das redes sociais acabam por sabotar o engajamento de sua loja: “O trabalho para uma pessoa não branca e que faz seus produtos à mão é o dobro de tempo e dificuldade. Além disso, quando abrimos uma rede social, a primeira coisa que aparece são conteúdos feitos por brancos. Essa diferença é discrepante.”