Luta contra o câncer tem novos tratamentos

Os tratamentos menos tóxicos são a grande esperança dos especialistas para tratar os pacientes oncológicos de maneira eficiente e com menos efeitos colaterais.
por
Luísa Ayres
Manuela Dias
|
30/10/2023 - 12h

Por Manuela Dias (audiovisual) e Luísa Ayres (texto)

 

Joselita Ferreira dos Santos tem 55 anos e foi diagnosticada em 2021 com câncer de mama. Ela conta que devido a negligência médica, o tumor não foi diagnosticado no tempo necessário para enquadra-se nas chances de cura e quando iniciou o tratamento já estava com estágio avançado de status de proteína HER5, um dos graus mais altos da doença. Depois do diagnóstico ela já entrava em tratamento. Foi muito pesado. Porque o tumor estava muito avançado e com 11 centímetros. Sua mama inteira estava inchada. O oncologista não lhe deu chances de vida, mesmo assim ela foi encaminhada para tratamento.

Por conta do estágio avançado em que o tumor se encontrava, Joselita foi imediatamente encaminhada para as sessões de quimioterapia, que realizava a cada 21 dias, durante 6 meses. “Graças a Deus a primeira (quimioterapia) já reagiu bem e meu seio murchou. Na segunda, eu fiquei muito ruim porque eu tive muitos efeitos colaterais.”, ressalta a paciente.

Por muitos anos, o diagnóstico do câncer foi visto como uma sentença de morte para muitos pacientes, que dispunham de uma única alternativa para tentar reverter a situação, o uso da quimioterapia, um tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células doentes que formam um tumor ou se multiplicam desordenadamente. Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes e impedindo, também, que elas se espalhem. Mas, da mesma maneira que impede o surgimento de novas células cancerígenas, a quimioterapia vai tirando de pouco a pouco a essência dos pacientes, que além das dores, precisam enfrentar os efeitos colaterais, como queda do cabelo, náuseas, ressecamento das mucosas, perda de apetite, entre muitos outros.

Nas últimas duas décadas, a oncologia foi uma das áreas da medicina que mais evoluiu. Técnicas cirúrgicas com o uso da robótica foram aprimoradas, novos avanços foram feitos com a chegada da chamada terapia-alvo e também da imunoterapia, sem contar as tecnologias que ainda estão em fases de teste, como as vacinas. Se antes a cura contra o câncer era praticamente impossível, com a chegada dessas novas tecnologias o cenário mudou completamente. Além do aumento da sobrevida, os pacientes também ganharam mais qualidade de vida e finalmente puderam tratar a doença de frente sem os tão temidos efeitos colaterais.

Câncer de mama

Joselita Ferreira dos Santos tem 55 anos e foi diagnosticada em 2021 com câncer de mama. Ela conta que devido a negligência médica, o tumor não foi diagnosticado no tempo necessário para enquadra-se nas chances de cura e quando iniciou o tratamento já estava com estágio avançado de status de proteína HER5, um dos graus mais altos da doença. “Depois do diagnóstico eu já entrei em tratamento. Foi um tratamento muito pesado. Porque ele (câncer), estava muito avançado e com 11 centímetros. Minha mama inteira estava inchada. O oncologista não me deu chances de vida.”, comenta a paciente.

Por conta do estágio avançado em que o tumor se encontrava, Joselita foi imediatamente encaminhada para as sessões de quimioterapia, que realizava a cada 21 dias, durante 6 meses. “Graças a Deus a primeira (quimioterapia) já reagiu bem e meu seio murchou. Na segunda, eu fiquei muito ruim porque eu tive muitos efeitos colaterais.”, ressalta a paciente.

Após longos 6 meses de quimioterapia, Joselita tocou o sino de comemoração à sua última sessão.  Reprodução: pessoal
Após longos 6 meses de quimioterapia, Joselita tocou o sino de comemoração à sua última sessão. Reprodução: pessoal

Efeitos colaterais

Os tratamentos tradicionais contra o câncer, como a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia, têm salvado muitas vidas, mas também vêm com um alto custo. Os efeitos colaterais são uma realidade inevitável para a maioria dos pacientes oncológicos, entre eles estão náuseas, vômitos, fadiga extrema, perda de cabelo, distúrbios gastrointestinais, depressão e ansiedade, entre outros.

Ao contrário do que muitos pensam, os efeitos colaterais não afetam apenas o corpo, mas também a qualidade de vida dos pacientes. Muitos relatam dificuldades em manter empregos ou relacionamentos durante o seu tratamento, tornando a jornada ainda mais desafiadora para aqueles que têm famílias e filhos para cuidar. “A quimioterapia é um tratamento muito pesado. Tem muitos efeitos colaterais. Você fica pensando “Será que eu vou aguentar a segunda (quimioterapia)?”. Eu tive náuseas, vômito e perda de apetite.”, explica Joselita.

Ex-cabeleireira e ajudante na oficina de costura da sua filha, Joselita conta que teve sua vida totalmente modificada de um ano para outro, precisando reunir todas as suas forças para lutar de frente contra o câncer e os efeitos colaterais que estavam em torno do tratamento. A boa notícia é que pesquisas médicas sobre o assunto estão avançando cada vez mais e os tratamentos oncológicos menos tóxicos e mais eficazes já são uma realidade próxima para os pacientes.

Joselita tendo ajuda da sua filha para cortar o cabelo após a primeira sessão de quimioterapia. Reprodução: pessoal
Joselita tendo ajuda da sua filha para cortar o cabelo após a primeira sessão de quimioterapia. Reprodução: pessoal

Avanços na ciência e tecnologia

Há cerca de 40 anos, o tratamento base de qualquer tumor maligno eram as cirurgias. A grande questão é que elas podiam ser extremamente invasivas e mutiladoras, principalmente para as mulheres com câncer de mama que eram obrigatoriamente submetidas à mastectomia radical, um procedimento no qual o cirurgião retirava a mama inteira junto com o músculo peitoral situado sob ela e esvaziava o conteúdo da axila para retirar os linfonodos (gânglios). Após isso, a paciente era encaminhada para receber radioterapia na região operada, na axila e na fossa supraclavicular do mesmo lado, no intuito de eliminar qualquer foco de células malignas residuais nos linfonodos da região.

Somente a partir da segunda metade do século 20 que surgiu a quimioterapia, um método terapêutico importante, que utilizava drogas como o gás mostarda para o tratamento do câncer. Atualmente, ela ainda permanece sendo base de muitos tratamentos oncológicos, mas trouxe consigo um dos principais receios dos pacientes: os efeitos colaterais.

Nas últimas duas décadas, assistimos a um crescimento significativo no desenvolvimento de terapias mais direcionadas e personalizadas, estas que prometiam ser mais eficientes com menos efeitos colaterais e indesejados. A terapia alvo, por exemplo, visa componentes específicos das células cancerígenas, poupando células saudáveis e reduzindo os efeitos colaterais. A imunoterapia, por outro lado, fortalece o sistema imunológico do paciente para combater as células cancerígenas, o que também pode resultar em menos efeitos adversos em comparação com a quimioterapia convencional. Além disso, terapias menos invasivas, como a cirurgia robótica e técnicas de ablação por radiofrequência, estão se tornando mais comuns, oferecendo a pacientes com câncer alternativas menos traumáticas e mais rápidas.

Felipe Peres, médico oncologista formado pela Universidade de São Paulo (USP), explica como os novos tratamentos menos tóxicos são a melhor alternativa para o tratamento de câncer. “Atualmente, a gente tem ganhado com o acesso à tecnologia, diversos novos tipos de tratamentos, principalmente no campo de imunoterapia, terapia-alvo, terapia conjugada droga e anticorpo que vem substituindo a própria quimioterapia, que é um tratamento muito antigo e na maioria das vezes, tóxico. Agora a gente tem tratamentos mais modernos e com menor toxicidade e efeitos colaterais para o paciente”.

A quimioterapia envolve o uso de produtos químicos capazes de identificar, localizar e destruir células e tecidos malignos sem danificar os normais. A pesquisa nesse campo começou com a investigação de um único produto químico e, ao longo do tempo, expandiu-se para incluir uma variedade crescente de medicamentos. A busca é por produtos químicos seletivos que possam envenenar seletivamente as células cancerosas, sem prejudicar as células saudáveis.”, completa o oncologista.

Rede de saúde pública x privada

O câncer continua sendo uma das principais causas de morte no mundo, com mais de 7 milhões de óbitos anualmente. No entanto, os avanços na pesquisa e na tecnologia oferecem esperanças de que, no futuro, o câncer possa ser visto e tratado como uma doença crônica, em vez de uma sentença de morte. Para isso, seria necessário que os pacientes na rede pública tivessem acesso aos mesmos recursos de tratamento que na rede privada.

A rede de saúde pública, embora desempenhando um papel vital na assistência médica de muitos pacientes com câncer, muitas vezes enfrenta desafios financeiros e logísticos significativos. Isso resulta em limitações nos recursos disponíveis, o que, por sua vez, afeta a capacidade de fornecer tratamentos de ponta e as mais recentes terapias menos invasivas. Em contrapartida, a rede de saúde privada frequentemente oferece tratamentos de última geração, graças a maiores investimentos em infraestrutura, equipamentos e recursos humanos. Pacientes que possuem planos de saúde ou podem arcar com tratamentos particulares tendem a ter mais opções e acesso a tratamentos de câncer mais avançados, minimizando os efeitos colaterais e melhorando suas perspectivas de cura.

Essa discrepância entre a rede de saúde pública e privada é particularmente notável quando se trata de tratamentos menos tóxicos. Tecnologias de ponta, como a terapia gênica, a imunoterapia, a nanotecnologia e a medicina de precisão, ainda não estão amplamente disponíveis na rede pública de saúde, devido aos custos significativos associados a essas terapias e à falta de recursos financeiros. Além disso, mesmo quando esses tratamentos estão disponíveis na rede pública, a demanda muitas vezes supera a capacidade de atendimento, resultando em longas listas de espera e atrasos no início do tratamento, o que pode ser crucial para a evolução da doença. “Tem muitos tratamentos novos já desenvolvidos, principalmente para o câncer de pulmão, mas a gente sabe que eles vão demorar pra chegar aqui no Brasil e quando chegam, são destinados para o pessoal do plano de saúde. No SUS, infelizmente, a gente não tem acesso a maior parte das novas medicações, como a imunoterapia que ajuda bastante no câncer de pele”, comenta o Dr. Felipe.

A disparidade no acesso aos tratamentos de câncer é uma questão que exige atenção urgente. A equidade no tratamento oncológico é fundamental para garantir que todos os pacientes tenham uma chance justa de sobreviver e viver uma vida de qualidade durante e após o tratamento. Ainda assim, é importante resgatar o fato de que a medicina humanizada, tal qual conhecemos hoje, surgiu no sistema público.

Joselita e sua família em Campos do Jordão para comemorar o término da radioterapia. Reprodução: pessoal
Joselita e sua família em Campos do Jordão para comemorar o término da radioterapia. Reprodução: pessoal

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Direito a vida

A humanização da medicina e tão fundamental quantos seus tratamentos mais básicos ou efetivos. Pensar em métodos de curar ou amenizar a manifestação de doenças como forma de oferecer dignidade e maior bem-estar aos pacientes e seus familiares e amigos e retomar um dos principais itens do código de ética da profissão: zelar pela saúde e dignidade de cada paciente.

A evolução dos tratamentos contra o câncer
Reprodução: Manuela Dias e Luísa Ayres

 

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