Para quem esperava um Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra a parede na entrevista ao Jornal Nacional desta quinta-feira (25), a expectativa caiu por terra nos primeiros minutos. Ao receber um afago de Willian Bonner quando o apresentador citou as anulações das condenações pela Lava Jato, Lula se sentiu em casa. Tão em casa que conseguiu fazer referências ao futebol brasileiro, em um sinal de conforto.
Diante de um ambiente amigável, ex-presidente traçou a estratégia de tentar atrair os votos dos indecisos.
Em pelo menos quatro momentos, citou Geraldo Alckimin, sua nova versão viva da Carta ao Povo Brasileiro , para passar a imagem de que não vai governar sozinho e nem inclinado totalmente à esquerda. A impressão era de que o ex-governador de São Paulo estava junto na bancada.
Lula deu um sinal para a classe média brasileira ao criticar, mesmo que timidamente, os governos venezuelano e cubano pela falta de polarização política. Por muito tempo, o ex-presidente foi taxado de apoiar ditaduras à esquerda e finaciá-las. Com essa declaração, o petista não dá mais munição aos seus adversários políticos nesse aspecto.
O ex-presidente a todo o momento tentou passar a imagem pacificador e de que estava se candidatando para "arrumar o Brasil". Afirmou para Bonner e Renata Vasconcellos que caso seja eleito, cobrem ele para a melhora do país
ECONOMIA
No campo econômico, ao ser questionado pelos entrevistadores sobre quais serão as estratégias para barrar a crise econômica, Lula colocou os feitos dos seus governos anteriores como escudo. Afirmou mais de uma vez que no primeiro mandato pegou um país em crise econômica e que conseguiu recuperá-lo.
Entretanto, o candidato petista não deixou claro quais serão suas ações, colocando para jogo a estratégia "Kinder Ovo": vote em mim que vai descobrir.
A única coisa que o petista deixou evidente para o campo econômico é de que não vai repetir as mesmas estratégias da ex-presidente Dilma Rousseff. Criticou brevemente sua ex-ministra ao falar que ela errou nas políticas da Petrobrás, mas não teve saia justa.
"Eu acho que cometeram equívoco na hora que fizeram R$ 540 bilhões de desoneração", afirmou Lula.
CORRUPÇÃO
O ex-presidente admitiu que houve corrupção nos governos petistas, já que houve confissões, principalmente o caso da Petrobrás. Mas Lula se defendeu dizendo os mecanismos anticorrupção criados nos seus tempos de governante, como o Portal da Transparência. Segundo o petista, só houve delação, pois o seu governo estimulou a investigação.
Aproveitando o tema, o candidato à presidência criticou fortemente a operação Lava Jato. Segundo Lula "a Lava Jato enveredou por um caminho político delicado. A Lava Jato ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política".
Desde que os processos foram anulados pelo Supremo Tribunal Federal, Lula vem aumentando suas críticas ao ex-juiz Sérgio Moro. Na sabatina, o petista afirmou que o ex-ministro de Bolsonaro "levou a mentira longe demais" e que era "parcial".
CUTUCADAS EM BOLSONARO
Como era de se esperar, Lula atacou Bolsonaro, seu principal adversário político. O petista afirmou que em seus governos, os Procuradores Geral da República não eram seus "amigos" e que não escolheu "engavetador" para assumir o cargo, uma clara alusão a Augusto Aras.
Aras já arquivou mais 100 pedidos de investigação contra Bolsonaro encaminhadas pelo STF.
Além do tema sobre a PGR, o ex-presidente lembrou dos sigilos de cem anos que Jair Bolsonaro decretou sobre diversos assuntos em seu governo.
"Eu poderia por exemplo fazer decreto de cem anos, sabe decreto de sigilo hora está na moda agora? Eu poderia, para não apurar nada, decreto cem anos de sigilo para o Pazuello, ou poderia não investigar, pega um tapete e coloca em cima de qualquer denúncia e nada vai ser apurado e não vai ter corrupção", disse o petista.
O candidato do PT também chamou Jair Boslonaro de "bobo da corte" e disse que o atual presidente não governa o país, pois o poder está nas mãos do centrão.
Segundo a última pesquisa DataFolha de 18 de agosto, Lula tem 47% das intenções de votos, tendo possibilidade de vencer no 1° turno. Os acenos aos centro foram uma tentativa clara de vencer o pleito já no dia 2 de outubro.