A Louca Obsessão

Fã ou não do “mestre do terror”, Misery se torna uma leitura obrigatória e também uma excelente escolha para quem deseja conhecer melhor Stephen King e suas histórias
por
Beatriz Alencar
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23/10/2023 - 12h
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Foto: Debb Cabral/GatoQueFlutua

 

Os amantes pela literatura sinistra podem se demonstrar mais ativos agora com a chegada de outubro, mês do halloween e das maratonas de terror. Se possui um gosto pelas obras de Stephen King, recomendações de obras dele é o que não faltam para essa estação do mês/Dia das Bruxas. Se tornando filmes e até mesmo peças de teatro, as escritas do “mestre do horror” nunca saem de moda no mundo das escritas “dark”. Classificado como um dos livros mais conceituados e clássicos do autor, “Misery - Louca Obsessão” foi, e ainda é, muito bem aclamado pela crítica.

Seguindo um de seus traços de compor sua obra com reviravoltas que podem chegar a ser um pouco “revoltantes” para seus leitores, o livro traz a história de Paul Sheldon, um escritor “reconhecido pela série de best-sellers protagonizados por Misery Chastain” (sinopse). Conseguindo escrever mais uma parte de um manuscrito, decide comemorar fora de casa. Sozinho. Numa grande nevasca. O fim do que era para ser uma comemoração, acaba sendo o início da tortura de vida de Paul. Após sofrer um acidente de carro, devida às más condições climáticas, o escritor é socorrido pela enfermeira aposentada Annie Wilkes. O que ele mal sabe, é que a moça que se diz sua fã número 1, está em tamanha indignação com o final da série bem-sucedida do autor, que é capaz de tentar de tudo para conseguir Paul só para si.

Annie leva seu ídolo para sua casa e o prende em um quarto com a condição de: em troca de seus cuidados, o escritor refaça o final do livro para um que faça sentido” e abandone a sua, então nova obra, sobre Carros Velozes. O autor está extremamente dependente: devido ao acidente, ficou sem o movimento das pernas e ainda recuperando o dos braços. Quando não a obedece, fica sem os remédios para dor, comida ou mesmo penico (tendo que urinar em si mesmo).

A forma como o cenário é construído, imerge o leitor como se estivesse participando da história, e o agoniza junto com o personagem. Apresenta diversas faces que nos prendem na história: desde a Annie solícita que quer ajudar, que admira seu autor favorito e diz que o ama em contraste com o desespero que provoca, à resistência de Paul em querer fugir, e em outros momentos querer desistir. Stephen King não deixa nenhuma ponta solta, e como na maioria de seus livros, cada personagem pode carregar um significado para além do que está escrito nas páginas.

Estar diante de uma mulher com diversas faces de personalidade por meio das palavras de King, faz com que você sinta aversão e pena na mesma medida. O sadismo da vilã se demonstra em diversas cenas e a facilidade de como ela esconde rapidamente contando lembranças boas que ela tem da vida, baqueiam.

Como uma maneira de tentar não ficar sem os tratamentos de Annie, Paul tenta convencê-la e encantá-la de diversas maneiras; a elogiando, deixando que ela conte sobre sua vida e seus gostos, e dizendo o quanto estava grato por ter sido Annie a sua salvadora. Aos poucos melhorando sua condição física, o autor explora o restante da casa da enfermeira nos momentos em que ela não está. A agonia do leitor volta novamente, sempre afobado, achando que a sádica pode chegar a qualquer momento.

A cada cena em que ocorre um diálogo com Annie, o receio sobre ela aumenta, mas de uma maneira que sempre nos surpreende com tamanha facilidade em ser tão complicada e tão assustadoramente real. Traduzindo, “misery” seria o sofrimento prolongado, física e mental sem fim que persegue Paul, e, de certa forma, piora a situação psicológica instável de Annie.

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Kathy Bates como Annie Wilkes; Foto: reprodução/filme

Para quem gosta de ler, imaginar essas cenas agonizantes já são suficientes, mas para aqueles que preferem obras mais cinematográficas, temos o filme “Louca Obsessão”, de 1993. Kathy Bates entendeu o que é Annie Wilkes em um nível, que sua atuação lhe rendeu um Oscar. O próprio Stephen King a elogiou. Claro, filmes tem suas adaptações e releituras, mas a mesma agonia desse suspense psicológico que você encontra nas páginas, encontra nas cenas reproduzidas.

Resumidamente, diria que é um terror claustrofóbico. Se quer dormir tranquilo (ou não), adicione “Misery – Louca Obsessão” na sua lista de leitura e assista ao filme, para ótimo sonhos.

 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

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