O Lollapalooza voltou neste final de semana para sua 10a edição no Brasil. O Autódromo de Interlagos hospedou aproximadamente 300 mil pessoas durante os três dias de festival. Essa edição trouxe estreias para o público brasileiro, como Billie Eilish e Lil Nas X, e contou com artistas nacionais como Dubdogz, O Grilo e Os Paralamas do Sucesso. O cardápio artístico seguiu a diversidade dos anos anteriores, apresentando ícones da música eletrônica, do pop e do rock. Como um dos maiores festivais de música no Brasil o Lollapalooza é relevante dentro da cultura brasileira, principalmente para os jovens.
Este ano o festival teve duas atrações principais canceladas: Blink-182 e Drake. Devido a problemas de saúde, a banda americana cancelou seu show no início de março, o que permitiu que aqueles interessados em vê-los se organizassem como preferissem. O executivo Renato Carneiro, 47, conta que adquiriu um ingresso só para ver Blink-182. Quando recebeu a notícia, até tentou vender seu ingresso, mas não encontrou ninguém que estivesse disposto a pagar o preço que ele havia pagado. “Entre perder dinheiro e aproveitar o festival, mesmo sem o Blink, eu preferi dar uma chance pros artistas que eu ainda não conhecia”.
Renato não gostou do Twenty One Pilots, banda que substituiu Blink-182 no sábado. “Não me surpreendi com nenhuma apresentação, tudo foi muito voltado pro público jovem. Eu entendo o porquê, mas não viria de novo”.
Os fãs de Drake apresentaram outra perspectiva. Com um histórico de descuido com os fãs brasileiros, a estudante de psicologia Camila Merlo, 23, conta: “Eu já imaginava que isso fosse acontecer, eu gosto muito das músicas do Drake, mas não é a primeira vez que ele faz uma coisa dessas. Se alguma coisa realmente tivesse acontecido, talvez minha opinião fosse outra, mas tá na cara que ele só não queria fazer o show, até porque ele saiu da Colômbia e foi direto pra Miami curtir uma balada.”
O artista, que foi um dos headliners de domingo, foi substituído por Skrillex, um dos maiores nomes do dubstep. “Pra mim, valeu muito mais a pena, apesar de eu ouvir muito mais Drake do que Skrillex, dava pra ver que ele tinha prazer de estar no palco se apresentando pra gente. Foi uma experiência incrível porque pudemos ver o quanto ele valoriza nossa cultura. Tenho certeza que se Drake viesse, ele faria uma apresentação bem meia-boca.” contou a estudante.
Camila não foi a única a apoiar a mudança de última hora. No palco Budweiser, antes, durante e após o show do Skrillex, ouvia-se diversos xingamentos ao Drake como se ele fosse o juiz de uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina.
A plateia vibrou ao som de “Carinhoso”, de Elis Regina, que foi a música escolhida por Skrillex para abrir seu show. O espetáculo também contou com muito funk brasileiro e para a música “Malokera”, Ludmilla subiu ao palco para se apresentar junto ao DJ.
Não é a primeira vez que isso acontece no Lollapalooza. Em 2019, Post Malone trouxe Kevin O Chris para o palco durante seu show, em 2022, a artista galesa Marina (antes conhecida como Marina & the Diamonds) cantou com Pabllo Vittar, que voltou aos palcos este ano com Lil Nas X, no sábado, e com Tove Lo, que também convidou MC Zaac, no domingo.
“Não é a primeira vez que eu vejo artistas internacionais dividindo palco com os nossos [artistas] no Lollapalooza, mas a sensação é sempre incrível. Só de saber que pode ter um gringo ouvindo e curtindo um funk como a gente curte, porque viu o Lolla pela TV, eu já fico animada. Quem sabe o funk não vira o novo K-pop no futuro?”, brincou Chloe Goldstein, 22, estudante de publicidade e propaganda.
O funk realmente está conquistando espaço no cenário internacional. No sábado, caminhando pelo palco Budweiser, conversamos com Lachlan Inwood, 19, intercambista neo-zelandês - ou “kiwi”, como ele descreveu. Lachlan estava com mais quatro amigos, também intercambistas, voltando do show da Ludmilla. Ele conta que teve o primeiro contato com o funk brasileiro pelo TikTok e que quando descobriu que teria a oportunidade de fazer intercâmbio para o Brasil, não pensou duas vezes. “A Ludmilla foi espetacular! A energia, a batida, o figurino, tudo foi muito impressionante. Mesmo eu não sabendo dançar como os brasileiros, eu não parei em nenhum momento!”
Com quase 30 artistas por dia, o Lollapalooza apresenta personalidades de diferentes portes. As menores são responsáveis por abrir o dia, enquanto as mais famosas, fecham. Luiza Cordeiro, 22, estagiária de mídias, já veio ao festival diversas vezes: “Acho que uma das partes mais interessantes do Lolla, para mim, é o contato com bandas novas. Em 2017, eu cheguei mais cedo e sentei para comer enquanto o Catfish and the Bottleman tocava. Eu conhecia uma música só, mas o show foi tão incrível que eu virei fã! O guitarrista se machucou e não parou de tocar, a mão dele sangrando e ele lá, foi surreal”.
Renato, o executivo que sofreu com o cancelamento do Blink-182, conseguiu aproveitar um pouco o festival: "Um show que me surpreendeu foi o do Tame Impala, foi uma apresentação digna de gravar na memória. (...) Fiquei até o final”. Depois de responder as perguntas, Renato puxou o telefone e mostrou suas últimas músicas curtidas que provaram que de fato, havia sido conquistado por Tame Impala.
O Lollapalooza é um ator importante para a cultura, graças a ele o Autódromo de Interlagos abandona a velocidade dos carros de corrida para se envolver com o movimento da música. Durante um final de semana, ele se transforma em um espaço de integração para os mais variados tipos de público, oferecendo novos artistas, novas batidas e novas experiências, conquistando mais fãs a cada ano.