“Quando eu recebi a notícia de que seria feito um livro sobre a história da minha família, dos meus avós, mencionando todo o trabalho que eles fizeram pela cidade, eu fiquei muito orgulhoso". Quem se emociona ao falar de seus ancestrais é João Victor Vellani, meu pai. Sem medo de se arriscarem, a família montou desde o primeiro posto de gasolina até salões de dança.
Fundada em 1870, Poço Fundo se localiza no interior sul de Minas Gerais. Antes nomeada de Gimirim, a cidade foi se desenvolvendo em torno do setor rural e agropecuário, principalmente por conta da produção de café. “Meu bisavô era o empreendedor da época. Ele tinha uma loja que vendia artigos para selar cavalos, armas e grãos para que o setor rural pudesse prosperar”, diz.
Com a urbanização do interior e a chegada dos carros, Giovanni Vellani - o bisavô de meu pai - investiu no primeiro posto de gasolina, o que também lhe gerou considerável reconhecimento por parte da população. “Além das bombas de abastecimento de combustível, eles criaram um salão de baile, o que não era tão comum para a época”.
Por estarem prosperando na região, em meados de 1913, o patriarca enviou o filho, João Vellani para estudar na Itália, na cidade de Lucca, região da Toscana. Era como um intercâmbio: ele morava no país e do Brasil, seu pai enviava dinheiro para que se mantivesse e pagasse os estudos.
O problema, no entanto, chegaria dois anos mais tarde, em 1915 quando a Itália abandonou a Tríplice Aliança e se recusava a participar da Primeira Guerra Mundial. Entretanto, assinou um tratado secreto com a Inglaterra e França, o que marcava a entrada do país na guerra. O fim da história: vitória da Tríplice Entente (Inglaterra, França e seus aliados) e derrota alemã.
A guerra trouxe assim, problemas econômicos nunca sentidos pelos europeus, como por exemplo, a inflação. Como citado na matéria “Como a Primeira Guerra Mundial arruinou a economia da Europa” realizada por Aabla Jounaïdi e publicada no UOL, a impressão de dinheiro e a especulação fizeram com que as moedas europeias perdessem valor rapidamente. Aos poucos, a família Vellani sentia os impactos da guerra, porque começaram a perder o dinheiro que era enviado.
De volta ao Brasil, mais especificamente em Poço Fundo, a segunda geração da família - João Vellani, avô de meu pai - precisou lutar para reconquistar tudo o que foi perdido devido a guerra. “Ele sempre foi muito gentil, muito trabalhador. Em 1951, em Poço Fundo, ele foi nomeado ao cargo de Adjunto do Promotor de Justiça. Mas com o êxodo rural, seguindo o filho José Victor Vellani, veio para São Paulo e como era formado em Ciências Contábeis, ele foi trabalhar no Sindicato dos Contabilistas”.
Em 1953, aos 18 anos, José Victor Vellani deixava a cidade em que sua família mantinha uma longa história e vinha para São Paulo, em busca de melhores condições de vida. Porém, nunca esqueceu suas raízes e foi assim que transmitiu este sentimento ao seu filho - finalmente, o meu pai.
“Na minha infância, eu pude constatar o prestígio que a família tinha e tem na cidade, porque ainda hoje existe a Praça Antônio Vellani, que carrega o nome do meu tio-avô, além do banco que carrega o nosso sobrenome”, comenta.
“Vários momentos acabaram enobrecendo o nome da família. Eu, como bisneto, mesmo distante da cidade, me sinto na obrigação de fazer algo para perpetuar toda história”. Eu te entendo, pai, sou trineta.