Lilia Schwarcz toma posse na ABL

Em discurso na Academia Brasileira de Letras, a escritora homenageou Lima Barreto, com reflexões e críticas sociais
por
Beatriz Brascioli
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25/06/2024 - 12h

A historiadora e antropóloga, Lilia Moritz Schwarcz,  tomou posse no dia 14 de junho da cadeira número 9, após a morte do diplomata e também historiador, Alberto Costa e Silva, em novembro de 2023, considerado por ela um “segundo pai”.

 

"Foi Alberto da Costa e Silva quem me levou pela mão para muitos lugares e, de certa maneira, para essa Cadeira [...] Ele que era, para mim, uma espécie de pai ancestral. Foram quase 30 anos preenchidos com uma intensa troca de cartas, reuniões, almoços, projetos, viagens e telefonemas semanais. Tudo que alimenta uma amizade, regada para durar.” Relata a escritora.

 

Quem é Lilia Schwarcz?

Lilia Moritz Schwarcz, 66, é formada pela Universidade de São Paulo (USP) no curso de Ciências Sociais e tem mestrado e doutorado em antropologia. Hoje é professora titular no Departamento de Antropologia da USP e leciona como visitante da Universidade de Princeton, Nova Jersey, Estados Unidos. Lilia é autora de mais de 30 livros, com traduções para outros idiomas e vencedora de dois Prêmios Jabuti pelas obras “As Barbas do Imperador” e “A Enciclopédia Negra”. 

Super engajada nas redes sociais, ela faz publicações no Instagram sobre as notícias, sempre trazendo informações e história com muita reflexão. Tem também um podcast chamado “Oi, Gente”, onde traz semanalmente análises e opiniões.  Lilia, junto de seu marido Luiz Schwarcz, fundaram a editora Companhia de Letras, com foco inicial em literatura e ciências humanas e hoje sendo a maior editora do país. 

Cerimônia: 

A imortal Rosiska Darcy de Oliveira, foi responsável pelo discurso de apresentação de Schwarcz. Em sua fala, disse que Lilia “é uma paulistana de pele branca, é uma grande intelectual presente na luta antiracial”. O colar, parte da cerimônia, foi entregue pelo ex-chanceler Celso Lafer. 

O evento aconteceu no Palácio Petit Trianon, sede da academia das letras localizada no centro do Rio de Janeiro. Entre os presentes estavam o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, a ministra do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia.  

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Acadêmicos celebram a chegada de Lilia Schwarcz na Academia Brasileira de Letra. Foto: ABL/Reprodução

A votação para escolher quem iria suceder a cadeira número 9 aconteceu em março de 2024 e Schwarcz foi eleita com 24 dos 38 acadêmicos. A primeira mulher a tomar posse foi a escritora moderna Rachel de Queiroz. Agora, a professora se torna a 11ª mulher a fazer parte da acadêmica. Atualmente, dentre os 40 imortais, contam apenas com 5 mulheres - Fernanda Montenegro, Rosiska Darcy de Oliveira, Ana Maria Machado, Heloisa Teixeira e a recém chegada Lilia Schwarcz. 

"As instituições públicas e privadas têm o papel de encampar lutas da sociedade brasileira. Uma luta muito forte é pela diferença. Entro na ABL no momento em que a Academia dá vários sinais de abertura para as populações negras que são maioria, mas minorizadas na representação, abertura para a população LGBTQIA +, para indígenas, para mulheres" disse a antropóloga em seu discurso de posse.

Seguindo a fala, Lilia homenageou o escritor Lima Barreto, que tentou entrar na academia três vezes e não conseguiu:

 "Lima Barreto tentou três vezes entrar na Academia e desistiu. Depois, dois de seus biógrafos, Francisco de Assis Barbosa e eu mesma, aqui estamos. Penso que não será coincidência, tampouco, sermos brancos. Em mais cem anos de República não conseguimos modificar as desigualdades que interseccionam."

Ela continua sua reflexão voltada ao seu papel na academia: “A biografia que escrevi sobre ele, e que intitulei ‘Lima Barreto triste visionário’, de alguma maneira sedimenta uma trajetória de estudos voltada a entender não só o fenômeno do racismo, a maior contradição nacional, como o papel da sociedade branca nesse perverso processo histórica [...] A maneira como a população negra, majoritária no país, é constantemente transformada em uma “maioria minorizada” na representação.”

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