‘Lídia explode de tanta gordura’ abala estudante aos 10 anos

Além de gordofobia, Lídia Rodrigues, agora com 17 anos e estudante de jornalismo na PUC-SP, sofreu assédio homofóbico por funcionária, que foi demitida do Arquidiocesano
por
Laura Paro
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23/06/2022 - 12h
Lídia Rodrigues (Foto: Laura Paro)

 

“A minha infância foi marcada por episódios de gordofobia. Quando eu tinha 10 anos, criaram um grupo nas redes sociais chamado ‘Lídia explode de tanta gordura’. Isso me deixou muito abalada”, afirma Lídia Rodrigues, estudante de 17 anos. 

Rodrigues conta que foi criada a vida toda por sua mãe, após seus pais se separarem quando tinha dois anos de idade. Ela conta que quando era criança foi muito feliz, pois sua mãe a criou com muito carinho, esforço e dedicação. Porém, em uma parte de sua infância, se encontrou emocionalmente abalada e desenvolveu um colesterol emocional: “Foi a partir daí que eu comecei a engordar muito e começaram a praticar bullying comigo na escola. Eu descobri através do meu melhor amigo da época, que me contou que os colegas da turma tinham feito esse grupo nas redes sociais”.  

No entanto, a gordofobia não foi o único preconceito enfrentado por Lídia durante a sua infância: ela também conta que passou por ataques homofóbicos na adolescência devido a sua orientação sexual. Isto é apenas um de vários exemplos de violências relacionadas a homofobia que podem ser comprovadas a partir dos dados da organização de mídia Gênero e Número, ao demonstrar que 92,5% de pessoas – dos 20 milhões de brasileiras e brasileiros que se identificam como indivíduos do grupo LGBTQIA+ – relataram o aumento da violência contra essa parcela da população. "Com 15 anos, recebi ameaças de morte pela enfermeira da escola Arquidiocesano, onde eu estudava, quando ela descobriu que eu estava em um relacionamento com a filha dela. Ela dizia que ia me matar, acabar com a minha vida e que ninguém se lembraria de mim. Era super homofóbica e quase proibiu a minha relação com a menina”, afirma Lídia.  

O desfecho dessa história com a enfermeira foi trágico, porém justo. Lídia diz que, ao contar o ocorrido para os seus pais, no dia seguinte já participaram de uma reunião, juntamente com três advogados e a diretora da escola. A enfermeira, que ameaçou a estudante e praticou assédio homofóbico, foi demitida. 

A adolescente de 17 anos afirma que passou por muitos outros momentos difíceis devido a episódios decorrentes de preconceitos. Além de desencadear problemas de saúde em sua vida, como transtornos alimentares, afetou muito o seu emocional. Porém, Lídia conta que sempre tratou desses problemas com profissionais da área da saúde, que foram essenciais para o seu desenvolvimento e para a superação desses traumas vividos durante a sua infância e adolescência.  

Mesmo com todas essas dificuldades, Rodrigues diz que conseguiu enfrentá-las e se reencontrou ao participar de um retiro espiritual quando tinha 15 anos, em 2019: “Eu estava passando por uma fase muito difícil na época, sofri muito depois de toda essa história com a enfermeira da escola e desde que voltei do retiro, nunca mais fui a mesma. Hoje em dia eu sou uma mulher mudada e penso muito em tudo que aprendi nessa experiência, foi tudo muito intenso”. 

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