12 de maio. Dia das mães. Mãe às vezes pode ser avó. A tia. A madrinha. Uma irmã. Talvez a prima. Alguém que destine a nós um carinho extraordinário. Difícil colocar em palavras o que é o amor de uma mãe - seja ela quem for - para com o seu filho ou filha.
E quando ela já não está mais entre nós, o que fica? Alguns vão dizer que ficam as memórias. Lembranças de momentos felizes que dividimos juntos com quem se foi. Estudos apontam que as memórias que persistem por longos períodos envolvem uma região profunda do cérebro, chamada de área tegmental ventral. Isso porque alguns fatos, em um curto espaço de tempo, são "deletados" da nossa mente.
Sabe aquela pessoa que você trocou olhares no transporte público na última semana? Você sabe, mas não lembra o rosto. Não sabe exatamente em que momento começou a olhar. Porque essa memória não te marcou. É óbvio que uma mãe marca o filho, e o inverso também.
Mas e se você esquece? O que fica? Antes de qualquer indignação com a pergunta, adianto que, sim, é possível. Talvez você, assim como eu, esteja encarando o primeiro dia das mães sem essa pessoa aqui. Ou talvez já seja o segundo. Terceiro. Se você conta, é porque lembra.
Uma vez li um artigo sobre a importância da memória. Para o autor, o neurocientista Carlos Tomaz, a memória é a base para os nossos conhecimentos, planos e desejos. Nesse artigo, intitulado "A Psicobiologia da Memória", o professor afirma que a memória é essencial para compreender a psique humana.
Outro dia, no feed de uma rede social, uma moça escreveu que, após seis anos da morte da mãe, estava com a sensação de estar esquecendo detalhes sobre ela. Voz. Trejeitos. A moça disse que se sentia "traída" pela própria memória. Nesse caso, a falta dela. Essa sensação acompanha o luto. Qualquer que seja ele. Isso porque quando perdemos algo ou alguém, somos submetidos a um elevado nível de estresse. Esse estresse afeta nossos neurotransmissores cerebrais. E então ficamos "desconfigurados" com relação a algumas memórias.
É comum que nesse momento algumas pessoas sejam medicadas. Os medicamentos benzodiazepínicos - mais vendidos e prescritos - além do efeito tranquilizante, também podem afetar nossa capacidade de guardar informações por mais tempo - a chamada amnésia anterógrada. Mas, lembrar de quem já foi é manter vivo dentro da gente o amor. Mais do que a "psique", memória é sobre gente. Memória é sobre a gente. Eu. Você que lê.
Qual música sua mãe cantarolava quando te colocava para dormir? Qual o cheiro dela? O que ela fazia que você gostava? Onde ela gostava de ir? O que ela gostava de fazer? Talvez você fique em dúvida nas respostas. Normal. São os neurotransmissores afetados. Mas, você lembra. Porque do amor a gente nunca vai esquecer.
Se memória é sobre quem somos, lembrar quem partiu, ainda que com algumas confusões, é nos entender um pouco mais. Ou tentar.
Seja seis anos ou algumas horas. Sempre vai dar saudade. E a saudade vai nos fazer lembrar. As memórias, ainda que por nós confundidas, serão o vínculo até a eternidade.
O amor é a resposta para toda e qualquer pergunta quando falamos de mãe. Isso não está em nenhum artigo ou publicação em rede social. Por sorte da vida, tive duas. Me despedi de uma, mas sigo tendo outra. Não tem amar uma mais ou menos. Tem amar. Quem me ensinou isso foram elas. Para elas, a crônica e o meu amor. E o compromisso de lembrar do que for possível, sempre que possível, até não poder mais. Mãe é eterna dentro da gente. Feliz seu dia, mãe.