Lázaro Ramos fala sobre a importância da literatura infantil na 26º Bienal do Livro em São Paulo

O encontro ocorreu com a escritora Pétala Souza na Arena Cultural da Bienal em São Paulo no dia 04 de julho
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09/07/2022 - 12h

No último dia (04/07) de Bienal do Livro em São Paulo, a escritora Pétala Souza entrevistou o artista Lázaro Ramos. O tema abordado no bate-papo foi a importância da literatura infantil, O ator iniciou o encontro contando como foi escrever livros infantis sobre seus filhos. 

O autor explicou o processo de escrita do  livro “Caderno sem rimas da Maria”, composto de palavras inventadas para descrever brincadeiras ou ações que as crianças fazem e não tem nome, foi um processo de afeto e carinho, descoberto a partir da vivência e de uma descrição da poeta e escritora Luciene Nascimento “se eu permitir que você toque no meu cabelo crespo e sua mão travar, isso não é um embaraço, é um convite para fazer um carinho por mais tempo”. O embaraço é nomeado de “denguindacho”.

Acerca da aproximação entre a criança e a literatura, Lázaro diz que o primeiro passo para aproximar os pequenos é ser o exemplo, para que quando adulto o leitor torne o livro um objeto natural na vida deles.

Além disso, a identificação com personagens e assuntos que os interessem são fatores que mudam a experiência da leitura, o autor explica que um dos dilemas na sua infância e juventude eram a falta de personagens negros, ou quando tinham, eram coadjuvantes. 

Por isso, nos livros que escreve, Lázaro destaca a  importância de falar sobre questões raciais e colocar personagens negros como protagonistas, e ressalta que procura falar sobre diferentes temas como valores, autoestima e outros que transmitam afetividade e informação para quem ler. Orienta também que todos devem ler escritores pretos, não só pelos livros serem uma ação social, mas por serem de qualidade. 

Quanto a distribuição e acesso aos livros feitos por escritores negros, o autor afirma que ainda há dificuldades, os livros são preteridos ou tem distribuições modestas, mas ao mesmo tempo, na atualidade, estes estão ocupando lugares como a Bienal. Ainda aponta para as vendas e produções alternativas que são uma forma de aumentar o acesso e distribuição. 

O estudo denominado Literatura Brasileira Contemporânea - Um Território Contestado (Editora Horizonte/UERJ) analisou 258 romances publicados por três grandes editoras entre 1990 e 2004 e constatou que 93,9% dos autores eram brancos, 68% residiam em São Paulo ou Rio de Janeiro e 72% eram do sexo masculino.

O autor explica, quanto à recepção dos seus livros, que a organização de caravanas por escolas públicas e particulares para conversar com os leitores traz riqueza e aprendizagem para produzi-los a partir da resposta do público, mas ainda valoriza os comentários por redes sociais e diz se sentir abraçado pelos seus leitores. 

Em relação a reconstrução do país por meio da literatura, o Lázaro deixa claro que é necessário que a educação junto a literatura e cultura voltem a ser valorizados pela política brasileira e critica o atual período político apontando a celebração a ignorância, desvalorização da educação e figura dos(as) professores(as),  do poder e da importância dos livros, além da tentativa de taxação destes, pelo ex-ministro da Economia Paulo Guedes em 2021, e liberação de armas no lugar da influência a leitura. 

Quanto à abordagem de assuntos políticos em livros infantis, o ator diz que é importante pesquisar e adaptar a linguagem e que é possível trazer o debate para os pequenos. Conta o exemplo de uma criança que avaliou seu livro antes de ser publicado, em que, no livro, foi representado um dia chuvoso como triste e para ela era feliz pois faltava água onde morava, evidenciando o potencial das crianças de enxergarem os problemas. Afirma que mesmo que não existam respostas fáceis para problemas complexos, o silenciamento não é o caminho.

Em relação a literatura como ferramenta de manutenção da infância e desenvolvimento do ser, Lázaro conta que foi a uma escola em Salvador-BA em que o nível de leitura era muito baixo e as crianças não sabiam que poderiam sonhar, e a partir de um projeto de literatura, as perspectivas de mundo e sonhos se ampliaram. 

O autor salientou acerca de livros que tratam de assuntos relacionados a desenvolvimento como capacidades socioemocionais e o quão importantes são para as crianças aprenderem a nomear o que sentem. 

Com empolgação, encerrou-se o bate-papo e  Pétala finalizou com o questionamento para Lázaro, sobre qual livro ele gostaria de ter lido na infância, este relatou que desejaria ter lido Kiusam e Nei Lopes e que ainda lê e gosta de livros infantis, inclusive quando lê histórias de ninar, termina o livro para si mesmo depois que os filhos dormem.

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