Jogos Mundiais dos Povos Indígenas é plataforma de resistência

É o que defende Lamarr Oksasikewiyin, repórter fotográfico que cobriu o evento em duas edições: 2015, em Palmas, no Brasil, e em Alberta, no Canadá, em 2017
por
Arthur Pessoa, Bruna Damin e Gabriel Albert.
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16/11/2021 - 12h

A ideia da criação do World Indigenous Games (WIN), ou Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMI), em português, surgiu primeiramente em 1977, pelo Willie Littlechild, um respeitado advogado canadense e líder da tribo indígena Cree. Littlechild pregava que jogos indígenas seriam benéficos para as tribos de todo o mundo, promovendo assim a integração entre os povos através dos esportes, mesmos princípios observados nas Olimpíadas. O fotógrafo e professor Lamarr Oksasikewiyin, indígena originário de Sweetgrass First Nation, reserva no Canadá, divide o mesmo pensamento que Littlechild: “esses jogos mostram para os colonizadores que nós ainda estamos aqui, mostram a cultura que eles estavam tentando se livrar, a nossa cultura”.

Os povos indígenas frequentemente sofrem repressão pela sociedade, não apenas nos dias de hoje, mas desde os primórdios do contato entre os europeus ocidentais com as outras civilizações. Suas culturas nunca foram respeitadas em todos os parâmetros, inclusive os esportivos. Buscando o devido reconhecimento, os povos indígenas reuniram-se em prol da criação dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, o qual teve sua existência em 2015, com a primeira edição ocorrendo em solo nacional, na cidade de Palmas, capital de Tocantins.

O fotógrafo contou que, por sorte, conseguiu uma vaga para participar de última hora: “de um modo foi um sonho que se tornou realidade, e quando isso aconteceu foi irreal”. Porém, não deixou de criticar a organização da 2ª edição do evento, “vários países não conseguiram ir por ser longe de tudo”. Já sobre o ocorrido no Brasil, Lamarr elogiou as cerimônias de encerramento: “eles ficaram mostrando os jogos de diferentes tribos para todos, e isso foi emocionante e incrível”, além de ressaltar as interações entre as tribos.

O canadense realçou a importância de mostrar as peculiaridades de cada tribo e de seus jogos: “se eu pudesse dar uma sugestão, seria dar mais oportunidades para todos se concentrarem em compartilhar seus próprios jogos”. Lamarr contou então, sobre a experiência que teve assistindo um jogo chamado “Fireball”, onde os jogadores usam suas próprias mãos para passar uma bola de fogo: “é um jogo de cura, quando jogam eles convidam pessoas que eles sabem que estão com problemas para elas pensarem em tudo de mal e passarem para a bola durante o jogo”.

 

Um dos pontos altos do evento, segundo Oksasikewiyin, foram os jogos de futebol das tribos indígenas. Em uma dessas partidas (Tocantins vs Canadá) ele teve a oportunidade de jogar lado a lado com o ex-jogador Cafu, um dos melhores laterais direitos da história do futebol: “eu também tive a oportunidade de jogar com o Cafu, e nós tivemos que driblar a bola com ele”.

 

“Os colonizadores não gostam de ser incomodados” diz Lamarr sobre os protestos indígenas de 2015 contra projeto que alterava a demarcação de terras, além de pedir o impeachment da ex-presidente. O fotógrafo diz que: “se realmente tivesse uma maior mídia sobre os jogos, eu deixaria eles falarem e protestarem, mas não por muito tempo. Exatamente para não tirar o principal foco dos jogos, que é mostrar para o mundo a nossa cultura”. 

 

“Eu não sei como o mundo nos vê, mas o Canadá é na verdade um país muito racista com os povos indígenas, o Brasil e os Estados Unidos também” adiciona Oksasikewiyin. Além de terem sido massacrados, escravizados e exterminados, os mesmos não recebem quase nenhuma visibilidade, principalmente nos Jogos Mundiais, cujo principal objetivo é dar esperança de um futuro melhor.