Mesmo com o cenário incerto, o setor de tecnologia é tido como um dos possíveis propulsores da recuperação pós-pandemia. O mercado brasileiro deve crescer 4,9% neste ano, segundo estimativa da empresa de pesquisa International Data Corporation, IDC Brasil. O aumento da demanda de softwares durante o período de isolamento social é um dos fatores responsáveis pela projeção.
O professor de administração da FEA-USP, Cesar Alexandre de Souza, afirma que “a necessidade de isolamento social acabou servindo como impulsionador para adoção em massa de uma série de tecnologias que já vinham se consolidando”. Para ele, as tendências, no pós-coronavírus, “já estarão criadas, os hábitos criados agora vão permanecer e não haverá volta para trás”. Ou seja, este setor deve continuar crescendo e recuperar facilmente as perdas sofridas na pandemia.
Ainda de acordo com o IDC, o mercado de soluções de software voltadas para analytics (uso de dados para analisar comportamentos de um consumidor) e inteligência artificial deve crescer 11,5% neste ano, movimentando US$ 548 milhões a mais que em 2019.
Mesmo com bons índices, o setor de tecnologia também está sendo afetado pela crise. O professor da PUC-SP Jefferson de Oliveira, especialista em inteligência artificial, diz que toda a cadeia de suprimentos já sofreu impactos. “Isso atrasou, por exemplo, novos smartphones da Xiaomi, Realme e Vivo, que postergaram os lançamentos dos aparelhos até que a situação seja controlada”, comenta.
Apesar disso, Oliveira destaca a importância do setor de tecnologia para amortecer o impacto econômico ocasionado pela Covid-19. “Como a pandemia será uma preocupação até que uma vacina seja desenvolvida (se é que será), existe a possibilidade de contarmos com inovações tecnológicas, que podem potencializar os ganhos mesmo mantendo-se variáveis do cenário atual.”
Pandemia pode facilitar o acesso à tecnologia no mundo
A demanda por plataformas de softwares explodiu nas últimas semanas. Realização de videochamadas e mensagens, comércio eletrônico, delivery de alimentos e produtos farmacêuticos, ensino à distância para substituir as aulas presenciais, além do trabalho remoto, tornaram-se parte da rotina das pessoas em isolamento social.
A concentração do avanço tecnológico em grandes empresas, como Google e Amazon, tende a se manter, já que é “uma consequência natural das forças atuantes nas tecnologias digitais, principalmente as externalidades de rede”, segundo Cesar Alexandre de Souza, da FEA-USP. Ele acrescenta que “mesmo que novas empresas, como a Zoom, tenham a oportunidade de surgir, o espaço das grandes continuará amplo”.
Em relação às pequenas e médias empresas do setor, o período de pandemia pode facilitar a consolidação no mercado e garantir um espaço importante, como no caso da Zoom.
A possibilidade de consolidação de pequenas empresas, como as startups, ganha mais espaço neste cenário. Oliveira, da PUC-SP, diz que há espaço para todos. “Existem centenas de startups que procuram constantemente maneiras disruptivas para crescer e se tornar grandes. A startup Yellow, empresa de aluguel de bicicletas, que acabou virando Grow, é um exemplo de crescimento num mercado que parecia dominado pela Uber.”
Tecnologia como importante aliado para o combate à Covid-19
A tecnologia, além de facilitar a comunicação, tem sido crucial para combater a Covid-19. Umas das principais ferramentas utilizadas é a inteligência artificial.
“Imagine como seria uma crise sanitária dessa proporção há 20 anos? As pessoas em sua maioria ficariam isoladas em casa, sem a possibilidade de trabalhar e colaborar tão intensamente como hoje. A informação e o conhecimento se disseminariam muito mais lentamente e a ciência teria dificuldade em trabalhar em conjunto para uma resposta”, exemplifica Souza.
Oliveira, por sua vez, cita empresas de inteligência biomédica que buscam obter informações para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas. “A DeepMind está usando dados de genomas para prever a estrutura de proteína de organismos, para iluminar quais fármacos podem funcionar melhor contra a Covid-19”, cita o professor da PUC-SP.
Ele acrescenta que traços da doença podem ser identificados através da análise de imagens de raio-X, graças a um modelo computacional inspirado no sistema nervoso central, também chamado de rede neural. A ferramenta foi desenvolvida pela DarwinAI e tem auxiliado médicos no diagnóstico e tratamento de pacientes.