Nascido em Michigan nos Estados Unidos, formado em arquitetura pela universidade de Maryland, com mestrado na Parson, o artista Evan Roth traz ao ambiente artístico um novo aspecto, moldando assuntos atuais com sua vida pessoal e criando obras originais e inusitadas.
Atualmente morando na cidade de Berlim, Roth lembra sobre seu começo no ambiente artístico mencionando o período escolar: não tinha interesse em seguir um caminho nas artes, o que acabou o levando para o curso de arquitetura. Durante esse período, ocorreu o surgimento da internet, que fez Roth se interessar mais pelas artes através das redes. Ele comenta: “ Em um certo ponto, eu percebi que eu estava tendo muito mais satisfação criativa fazendo isso depois do trabalho, criando coisas na internet, do que no escritório de arquitetura.”
Assim, após terminar a faculdade, ele decidiu se dedicar à sua nova paixão. Procurou cursos que estavam começando a fazer design digital, o que acabou o levando a fazer um mestrado na faculdade de Comunicação, Design e Tecnologia da Parsons. No período acadêmico, já estava desenvolvendo projetos, como Taxonomia de Graffiti, Ilustração Tipografia, entre outros.
Atualmente, Roth dá aulas em um curso de graduação na mesma faculdade em que completou seu mestrado, no programa de arte midiática. Ele trabalha em projetos de tese com os alunos, ao longo do último ano de graduação deles. Sobre dar aulas, ele consta: “ Eu gosto de ensinar. (...) Eu gosto de estar perto de estudantes e jovens, é um bom entretenimento”.
Em palestras passadas, o americano tinha comentado sobre sua relação conturbada com a internet. Como foi um ponto inicial para sua inspiração nas artes, a forte mudança no ambiente tecnológico trouxe uma alteração pessoal no modo de observar esse fenômeno. Ele comenta sobre como antes o ambiente trazia um aspecto fortalecedor, o fato de tudo estar ao seu alcance foi algo que ele descreveu como “fascinante”.
Com o tempo, o cenário do espaço virtual foi se modificando, assim como sua concepção. De algo leve e descontraído, em que era quase irônico chamar de um negócio, a internet foi logo se adaptando ao que é hoje. Essa perda de descontração e, de certa forma, liberdade, foi uma característica que impactou Roth. Ele menciona, “Acho que também a Internet estava mudando porque as pessoas estavam descobrindo, muito rapidamente, que muito dinheiro poderia ser feito lá.”
Ele também comenta sobre como essa modificação o fez questionar sua carreira artística: “Essa dinâmica mudou totalmente, e foi meio decepcionante assistir, porque meus olhos não previram isso (...) Eu passei por uma fase em que foi decepcionante, e então fiquei meio que questionando minha própria prática artística, tipo, pensando que não preciso que a Internet seja o ponto central da minha prática”
Mesmo ela não sendo o ponto central de todos seus trabalhos artísticos, o início da sua juventude, que de certa forma foi determinada pelo seu uso da internet, trouxe inspirações que até hoje é destacada em suas criações.
Algumas de suas obras podem ser definidas como um trabalho que visualiza a cultura através da tecnologia. Ele é capaz de misturar arte em sua forma estética, com seu interesse pela internet e seu funcionamento.
PROJETOS
Em seu projeto mais longínquo, a série “Landscape” (Paisagens) Evan Roth trabalha com a ideia da fisicalidade da internet, e assim, constrói imagens de paisagem da natureza, modificadas pelo uso da tecnologia. Iniciado em 2014, o americano visitava instalações de cabos submarinos de fibra óptica da internet que emergiram do oceano.
Ele menciona sua busca em mudar seu relacionamento e sua forma de pensar com a internet, e como esse projeto foi uma busca por esse movimento. Na época em que o projeto começou, não existiam tantas discussões sobre a infraestrutura da internet como há hoje, o artista relembra. Ele complementa: “E essa foi outra maneira interessante de pensar de forma diferente sobre a web. Em vez de apenas pensar nisso como uma espécie de fenômeno social, pensar nisso como algo físico, e através da compreensão da fisicalidade da web, não apenas como ela funciona tecnicamente, mas onde ela funciona.”
No começo da série, ele utilizava instrumentos de caça fantasma e tirava fotografias em preto e branco das paisagens encontradas. Todavia, ao pesquisar sobre o assunto de forma técnica, ele chegou aos fundamentos das fibras ópticas, e procurou entender as faixas de frequência, o que o levou ao espectro infravermelho. Essa descoberta modificou o projeto, que passou a ser reproduzido através de imagens na frequência semelhante à internet, por modificações manuais das câmeras.
De outro modo, essa série se destaca em sua vida, que de forma não intencional, se relaciona com o atual funcionamento da internet. Roth explica: “A outra coisa que fiz com aquela série, que foi diferente de outros projetos, foi permitir que fosse um pouco lento. Na minha experiência com artes midiáticas, socialmente, eu diria que há esse impulso de ‘o que vem a seguir? Qual é o próximo?’ (...)“
Sobre a intencionalidade de desacelerar com o projeto, que continua até hoje, ele complementa “ Aquele projeto que foi importante para mim, foi como pensar na lentidão como uma forma de combater alguns dos tipos de impulso que sei que sinto. Acho que muitas pessoas sentem, sempre tendo que seguir em frente rapidamente para a próxima coisa”.
Outro projeto do artista é o intitulado “Since you were born” (desde que você nasceu), em que ele expõe seus dados de navegação na internet, desde o dia que sua segunda filha nasceu, em 29 de junho de 2016, até preencher a Atrium Gallery, contabilizando em torno de quatro meses de pesquisa na rede.
Do chão ao teto a sala é coberta por imagens. As cores vibrantes que nos prendem na tela de aparelhos tecnológicos tomam outros significados ao serem apresentadas em uma galeria. Utilizando páginas da internet, uma história é traçada da forma mais pessoal possível, ao mesmo tempo, demonstra como a internet passou a traçar a história da nossa vida, através do que consumimos nela no dia a dia.
Mesmo a tecnologia sendo grande parte de sua arte, ao tratar de sua relação com ela, ele expõe um alívio em não ter nascido nos dias atuais, e ter evitado crescer com as redes sociais, “Eu tenho tantos problemas, como me forçar a não ficar preso nesses pergaminhos de destruição infinita, penso como é para os jovens.”
Mas sua relação com o assunto, deixou de ser algo preto e branco. De fascinado com esse novo mundo em seu início à uma relação turbulenta com sua mudança, atualmente ele se encontra em outro lugar: “Não é que eu ache que seja apenas um lugar incrível e fortalecedor. Eu não acho que seja pura maldade ou algo assim. Mas eu acho que é assim, você sabe, é como qualquer outra coisa, como se você devesse sempre questionar quem se beneficia com o sistema de participação.”
NOVO PROJETO
Evan Roth varia quando se trata de formas de arte. Ele navega por diferentes criações artísticas, sendo a mais nova delas, a música. Em 2023 ele começou um projeto chamado “Rotary Farm”. Sobre isso, ele comenta: “Para mim, música é algo que estou fazendo apenas como um projeto de paixão.”. Ele mencionou que ao contrário do seu trabalho artístico, no qual leva de forma mais séria e profissional, com a música ele procura se divertir.
Sobre sua relação com a música, Roth expressa: “A música é incrível (...) Para mim, a música é a arte original, na qual você pode fazer algo divulgá-lo. Você não precisa dizer nada sobre isso. Pode afetar o humor de alguém, pode mudar o pensamento de alguém. Para mim a música é realmente. Não sei. Há algo na música que é muito difícil de descrever e simplesmente poderoso.”
Com influências do Pop e no Hip Hop, (artistas como Killer Mike e André 3000 estão em seu repertório musical) ele se vê recorrendo a interesses do passado em seu projeto. Ao discorrer sobre o assunto, ele comenta: “ a música também é estranha, porque é tão baseada na nostalgia, o que geralmente sou crítico, em relação à nostalgia, mas muitas das minhas práticas de ouvir música vêm de crescer com música hip hop, então muitos dos meus pontos de contato para ouvir música pop contemporânea são de escutar muito rap dos anos 80, 90 e início dos anos 2000, o que para mim foi muito interessante.”
A obsessão do mundo pela tecnologia, fez com que muitas coisas acabassem mudando junto com sua chegada. Uma delas foi a arte, que como apresentada, é um dos temas principais tratados na obra de Evan Roth. Ao discorrer sobre o significado de arte, Roth desenvolve a ideia da importância de obras que não estão baseadas na necessidade de “resolver os problemas do mundo”. Ele conclui: “Acho que uma coisa à qual estou voltando cada vez mais ultimamente é a sinceridade. Eu acho que se os artistas estão fazendo coisas de um ponto de vista sincero, e estão fazendo algo porque estão entusiasmados com isso e amam isso, para mim, no final das contas, isso comunica mais e isso é mais comovente do que muitas outras coisas.”