Atualmente, a inteligência artificial (IA) é um dos temas mais relevantes e mais comentados no mundo. O tom alarmante dos debates alimenta cada vez mais o medo das pessoas em relação aos impactos que a IA causará. No mundo artístico, as dúvidas sobre o tema também atingiram artistas e apreciadores de arte, assombrados com as transformações que a inteligência artificial provoca.
Em entrevista, Marcus Bastos, professor livre-docente da PUC-SP e coordenador do curso de Comunicação e Arte do Corpo, explicou o seu ponto de vista sobre arte e IA. Segundo ele, a inteligência artificial está transformando uma série de processos na sociedade contemporânea, inclusive a arte. “A IA já tem uma longa história e passou por diferentes fases de que as históricas partidas de xadrez entre homens e computadores são exemplos a serem destacados”, comentou, acrescentando que a inteligência artificial atingiu um novo grau de complexidade, fenômenos como o ChatGPT, no qual a IA cria textos ou imagens a partir de conversas ou instruções.
Segundo Bastos, é necessário exaltar a profundidade das obras feitas por artistas humanos para que possa tranquilizar a ideia de desvalorização de seus trabalhos devido à utilização da IA. "A inteligência artificial não vai desvalorizar a arte, pois o tipo de imagem que ela produz, apesar de visualmente elaborado, não atinge a complexidade conceitual das obras de arte. Uma obra de arte é um gesto de desconstrução crítica do sensível que pressupõe uma consciência crítica em ação”, disse o professor.
No entanto, mesmo que a falta de consciência impeça a IA de substituir alguns trabalhos humanos, o empresário Alexandre Messina, fundador da ferramenta de inteligência artificial ZapGPT, integrada ao aplicativo WhatsApp, acredita que a competição com as máquinas representa um desafio para os seres humanos. "Minha visão é que as produções humanas vão ser menos valorizadas porque vai ter mais concorrência”. Segundo ele, na lei de oferta e procura por obras artísticas, a IA oferecerá mais opções do que as produções humanas.
Além de a arte ser um campo para expressar sentimentos, também é um recurso crítico ao mundo a partir da visão do artista. Ao pensar se a IA tornará a arte acrítica, Bastos disse: “Há muitas experiências com o uso da inteligência artificial na arte, o problema é quando as pessoas criam a expectativa de que ela é capaz de substituir o artista. Esta é uma visão empobrecedora, pois os dispositivos de IA não são complexos o suficiente para fazer a pesquisa crítica com linguagem que o artista faz”.
Para superar a visão competitiva contra a inteligência artificial e eliminar o medo de que a sociedade perda sua força produtiva, Messina defende a cooperação entre homens e tecnologia. “A IA vai substituir muita gente, por outro lado, vai dar mais poder às pessoas”, diz o empresário, citando o acesso ilimitado à informação que permitirá que qualquer pessoa produza conteúdo de qualidade. “Acho que é muito mais como os humanos trabalham com a IA do que algo que vai só tirar as pessoas”, acrescenta.
"É possível pensar em algumas coisas, como por exemplo a existência de visitas de museus guiadas por agentes inteligentes, a curadoria feita em colaboração com dispositivos de IA e as obras de arte feitas em colaboração com dispositivos de inteligência artificial”, cita, por sua vez, Marcus Bastos. “Me parece que é mais produtivo pensar na IA como um recurso que permite tornar mais complexas as atividades artísticas do que algo que vai substituir o papel dos homens neste processo”, avalia.
Segundo ele, um ponto negativo é o fato de a IA ser uma ferramenta poderosa para promover informações falsas devido ao seu alto potencial de manipulação de imagens. Bastos pontua os dilemas que cercam o mal uso da inteligência artificial: “É uma ferramenta perigosa quando usada no contexto das fake news, o processo bastante problemático das ‘deep fake’ em que algoritmos de inteligência artificial são usados para sincronizar um áudio fictício a um vídeo verdadeiro criando falsificações extremamente enganadoras. Além disso, a capacidade especial de criar imagens falsas que sejam retoricamente convincentes é realmente grande”.
Em relação às ‘deep fake’, o CEO da Zap GPT ressalta a possibilidade de hackers acessarem informações sensíveis de indivíduos através da produção de avatares com a capacidade de copiar e reproduzir suas vozes e rostos para realizar uma chamada com gerentes de bancos e solicitarem dinheiro. Mas, Messina também ressalta que essa vulnerabilidade abrirá espaço para a cibersegurança por meio das buscas de novos métodos de autenticidade e proteção de dados.
O potencial que a inteligência artificial oferece se mostra maior do que a capacidade humana de compreender e lidar com essa ferramenta. Não à toa especialistas em tecnologia propuseram uma suspensão nas pesquisas e desenvolvimento de sistemas de IA mais poderosos que o GPT-4, último modelo de inteligência artificial lançado pela OpenAI. “Este é um dos problemas éticos que precisa ser discutido entre criadores de inteligência artificial, e um dos motivos pelos quais, ultimamente, tem se falado em paralisar por seis meses as pesquisas em inteligência artificial para permitir que a sociedade construa mecanismos regulatório satisfatórios como acontece com todas as técnicas e como acontece com todas as tecnologias. Os homens parecem sempre pensar como a inteligência artificial", finaliza o professor Marcus Bastos.