Você já se imaginou comprando uma roupa que nunca vai vestir? E assistindo um desfile sem modelos reais? Parece estranho, mas experiências como essas estão começando a ganhar espaço no mundo da moda. A moda digital vem aparecendo nas passarelas e em novas coleções de algumas marcas. Fazendo com que a inteligência artificial fique literalmente na moda. Mas afinal, quais são os benefícios e impactos dessa nova tendência?
A inteligência artificial, também conhecida como IA, busca reproduzir a inteligência humana em computadores, e por meio de muitos dados as máquinas conseguem suprir necessidades que o ser humano nem sabia que tinha.
Hoje a IA está muito presente em quase tudo, e se tornou tão comum que o seu uso passa despercebido. Rico Malvar, um dos cientistas-chefe da Microsoft Research afirma que é uma tecnologia essencial, tão importante como a eletricidade.
Cada vez mais, essa tecnologia está sendo implantada na Indústria e todos os seus setores, trazendo muitas novidades e questionamentos. Ela está na palma da sua mão, dentro da sua casa, nas operações bancárias, na área da saúde. E um dos setores que a IA está sendo aplicada e vem trazendo diferenciais é o da moda.
Desde o ano passado, a IA vem se unindo à moda de uma forma bem futurista. Nos últimos meses pudemos observar o fenômeno das Fashion Weeks em formato digital em diversas partes do mundo.
A Shanghai Fashion Week foi o primeiro evento de moda a acontecer de forma totalmente digital em março de 2020. O evento tradicionalmente presencial havia sido inicialmente cancelado na China por conta da pandemia do covid-19, porém acabou acontecendo nesse novo formato. A semana aconteceu pela plataforma Tmall, marketplace de e-commerce chinês, contando com os desfiles e live shop, nova técnica de venda online.
No Brasil, surgiu, também no ano passado, o Brazil Immersive Fashion Week, exposição de roupas virtuais e desfiles em realidade aumentada com criações que misturam o “mundo real” com elementos do universo virtual. Uma das grandes atrações da edição 2021 foi a coleção do designer Lucas Leão, que também exibiu presencialmente em um galpão com cenário invisível a olho nu.
Com a popularização da IA e do metaverso, grandes empresas devem investir logo nesse próximo passo. “Quando o Facebook apareceu, era só uma brincadeira criada para falar quem era a mais bonita da faculdade, hoje o Mark Zuckerberg não para de falar nesse assunto. Não dá mais para acreditar que é algo irrelevante. Nessas primeiras edições, ainda estamos na fase de explicar para as pessoas o que são essas novidades”, disse Olívia Merquior, uma das idealizadoras do BRIFW, em entrevista à Veja São Paulo.
Na moda virtual, as roupas não são produzidas em tecidos ou qualquer outro tipo de material, são criadas a partir de softwares 3D, que não só ativam a movimentação dos tecidos, mas também estampa e diversifica modelagens de forma única e exclusiva. As roupas são inseridas digitalmente nas fotos ou vídeos do usuário.
As tecnologias são as mais diversas e as marcas como The Fabricant, Dress X e The Replicant Fashion são pioneiras e já dispõem de várias peças e looks diários que estão em evidência nas redes sociais.
A marca The Fabricant, especializada em avatares virtuais, foi uma das primeiras da moda virtual, ela permite que o cliente crie seu próprio avatar e disponibiliza as peças digitais para aplicação. Em 2019, vendeu a primeira roupa digital de luxo do mundo, um vestido de pixels, que foi leiloado em Nova York por US $9.500, mais de R $53 mil, na cotação atual. A proposta da marca recém-nascida vai além, e passa pelo metaverso.
No Brasil, essa moda vem sendo aderida e roupas digitais estão começando a cair no gosto do público. A empresa Genyz é a precursora em criações de avatares no Brasil e passou a ser responsável por peças das influencers virtuais, chamadas de Mia Bot e Princess A.I. Essa marca também é a primeira da América Latina a oferecer um serviço de escaneamento corporal digital para fabricação de roupas físicas.
Studio Acci, também é uma marca nacional que faz roupas 3D a partir de desenhos, fotografias e ideias para empresas do setor, que podem usar as peças tanto em propagandas quanto em editoriais.
Com os avanços tecnológicos e rápidas adaptações - ainda mais após enfrentar um cenário pandêmico - o mundo recebe de bom grado softwares e tecnologias inovadoras que geram mercados de consumidores mais conscientes e preocupados com o meio ambiente. Isto se dá pelo fato de que a utilização de algumas estratégias desenvolvidas pelo ramo da IA são capazes de traçar uma “previsão” de tendências, pois são desenhadas através do comportamento humano.
Como exemplo, no Brasil, a marca de moda Amaro é conhecida no meio por armazenar dados de seus consumidores através de observações de suas preferências. Uma vez armazenados, os dados geram um algoritmo capacitado para o desenvolvimento de novas produções que se encaixem nas expectativas dos clientes. Desta forma, a produção tem mais chances de ser assertiva e, portanto, não há grande margem para excessos de produções que podem não sair da vitrine e virar resíduos.
A partir de tudo o que já se conhece sobre a aplicação da IA no dia a dia, entende-se que, no mundo da moda, ela pode ser uma ferramenta útil para além da confecção de ideias e inspirações artísticas. Neste caso, a IA está se tornando uma forte aliada no segmento de estudos do mercado da moda. Isto é, mais uma ferramenta que se soma às análises de comportamento dos consumidores, além de ser uma das apostas para tornar essa indústria mais sustentável pois sabe-se que as produções têxteis são grandes geradoras de resíduos.