Influenciadores impulsionam leitura entre jovens

Perfis do TikTok atraem público com vídeos curtos sobre livros; grandes editoras também investem na plataforma
por
Beatriz Porto
Giovanna Oliveira
Marina Gonçalez
|
25/04/2023 - 12h

Segundo a quinta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada
pelo Instituto Pró Leitura entre 2019 e 2020, é considerado leitor quem leu pelo
menos um livro nos últimos três meses. Ainda de acordo com a pesquisa, a
porcentagem de leitores no país é maior que a de não leitores e o hábito da
leitura é mais frequente entre estudantes.


A principal motivação para a leitura é o gosto, principalmente entre os
estudantes mais jovens. Enquanto isso, os estudantes do ensino superior são
uma parcela significativa dos que leem livros que adicionem ao seu
aprendizado. Da lista dos livros mais lidos pelos brasileiros, se destacam obras
como Diário de um Banana, Turma da Mônica e Harry Potter, voltadas para o
público infanto-juvenil. A internet tem um papel importante no hábito de leitura
dos brasileiros. Mesmo não sendo a principal atividade realizada digitalmente,
a leitura é significativa nesse meio. No caso dos livros digitais, eles são lidos
principalmente nos celulares, baixados gratuitamente, e mais consumidos por
adolescentes e jovens adultos.


Com a possibilidade de leitura on-line, os influenciadores digitais com foco em
literatura ganharam mais espaço com a expansão de redes como o TikTok, em
especial entre o público jovem. Em entrevista, três criadores de conteúdo
literário compartilharam suas experiências e percepções sobre seu nicho de
atuação.

(Jess Martins/ Foto de arquivo pessoal)

(Jess Martins/ Foto de arquivo pessoal)

Jéssica Martins (@surtandonasleituras) começou seu perfil no TikTok em
2020. Em geral, suas leituras são de romances eróticos. Ela escolheu essa
temática por ser maioria entre os livros que consome e por passar, segundo
ela, a mensagem: “Você pode ler o que quiser. Jamais deveríamos ser julgadas
por isso”. Jéssica diz que, apesar da aceitação cada vez maior, ainda existe um
tabu em torno da leitura de livros eróticos. “Muitas pessoas ficam chocadas em
como falamos tão abertamente sobre (livros eróticos) ..., mas as redes estão
ajudando a levantar mais esse tema.”


A criadora de conteúdo conclui dizendo estar feliz com o crescimento do nicho
literário nas redes sociais, pois isso significa um aumento na quantidade de
leitores.

(Leo Alves/ Foto do Instagram)

(Leo Alves/ Foto do Instagram)

Leo Alves (@theleoalves) começou em 2020 o projeto de produzir vídeos
sobre literatura. Leo gera conteúdo para o TikTok, Instagram e YouTube. Seu
critério para a escolha das leituras é ler o que lhe dá prazer. “O principal na
criação é pegar o que eu gosto e elaborar um vídeo que seja diferente e que
seja possível mesclar com outras mídias como as adaptações de filmes e
séries.”


Segundo Leo, seu público hoje é mais de 50% feminino e jovem, que gostam
de sua opinião sobre os romances que viralizam no booktok, como é chamado
o nicho literário da rede. Ele avalia que as redes como as quais trabalha
influenciaram positivamente na leitura entre jovens, “O Booktok está aí como
prova disso. Muita gente está compartilhando como desenvolveu o hábito de
leitura de 2020 para cá. Sem falar nas listas de mais vendidos, que são livros
muito comentados na plataforma”, comenta.

Leo diz que, inicialmente, teve receio de que o booktok fosse apenas uma
tendência rápida. No entanto, ressalta: “De 2019 para cá deu para perceber
como a internet mudou e as tendências vão surgindo. A moda hoje são os
vídeos curtos e rápidos, mas eu acredito que, quando ela se reinventar, o
cenário dos criadores vai junto”.

(Patrick Torres/ Foto de Arquivo Pessoal)

(Patrick Torres/ Foto de Arquivo Pessoal)

Patrick Torres (@patzzic) começou no TikTok em 2020 e utilizava a rede para
produzir vídeos para entreter uma amiga. Certa vez, a amiga demorou para ver
o vídeo, que viralizou na rede. Logo ele se consolidou como influenciador
literário. Patrick usa técnicas como contar a história do livro como se fosse a
sua e só depois revelar a verdade e compartilhar curiosidades sobre a vida dos
autores.


Os livros que Patrick mais lê são os clássicos. A tradução que faz da linguagem
rebuscada desses livros para se aproximar dos jovens ajuda a literatura
brasileira a sair do meio acadêmico para adentrar o cotidiano daqueles que
consomem o conteúdo do influenciador.

As redes sociais revolucionaram a forma de divulgar produtos e com os livros
não foi diferente. Atualmente as redes de mais influência são o TikTok e o
Instagram. “Hoje em dia as editoras estão mirando muito em cima do TikTok
para o público jovem e um pouco no Instagram”, diz o diretor comercial e de
marketing da Rocco, Bruno Zolotar.

Conforme Zolotar, a editora Rocco tem aproximadamente 120 influencers nas
redes. Nem todos são do mesmo gênero. Na Rocco eles mandam dois ou três
livros por mês para os influencers publicarem.

Na editora Aleph, por sua vez, a divulgação funciona diferente. Há um
calendário de publicação com pré-venda e lançamentos. “Nossa principal rede
social é o Instagram, mas nós estamos no Twitter, no Telegram e no TikTok”,
afirma Júlia Serrano, analista de marketing da Aleph.

Júlia acredita ser praticamente impossível fazer marketing sem o apoio de
influenciadores, em especial no mercado editorial com indicações de livros. “Se
você acompanha alguém nas redes sociais, conhece o gosto dela. Então,
quando ela indica um livro, você pensa: ‘eu gosto do mesmo livro que ela,
talvez eu goste deste’”.

Ainda que os influencers ganhem pelas suas publicações, há quem faça de
graça, como aconteceu na Rocco. “Tivemos o Felipe Neto falando de graça de
livro nosso, porque livro é uma causa. Elas falam de graça, elas querem
divulgar por causas importantes, incentivar a leitura”, conta Zolotar.

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