Influenciadores: a campanha (não) oficial de Bolsonaro

Grupos bolsonaristas no telegram fornecem diariamente listas focos de fake news
por
Artur dos Santos
Fernanda Querne
|
28/09/2022 - 12h

Influencers bolsonaristas compõem núcleos de disseminação da Fake News e têm alcance considerável nas redes sociais. Alguns desses apresentam um crescimento significativo em perfis, como é o caso de Cristina Graeml da Jovem Pan,  que, em duas semanas, ganhou 60 mil seguidores no Instagram.

Diariamente nos grupos de telegram bolsonaristas apurados pela AGEMT, são enviadas listas com canais, veículos de imprensa e influenciadores digitais de direita conservadora que pautam seus vídeos e produções na ameaça esquerdista no Brasil, e, ultimamente, na perseguição de conservadores no período eleitoral, além da “parcialidade” da imprensa na cobertura das eleições da Itália.

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Mensagem retirada do "chat" do canal oficial de Eduardo Bolsonaro (filho do atual presidente) no telegram

Sobre as eleições da Itália (nas quais a previsão de vitória é do partido ultra conservador “Irmãos da Itália” representado por Giorgia Meloni), os comentários desses grupos afirmam que a abordagem da mídia brasileira representa um “terrorismo midiático comunista”, “Imprensa falida vermelha”, além de apoiarem a candidatura: “felizes estão os italianos”.

Dentro das listas de influenciadores enviadas diariamente nos grupos, estão listados sempre os mesmos 76 nomes como indicação de fontes de informação. Dentro deles estão figuras como Alexandre Garcia (ex-porta voz do General João Batista Figueiredo e atual comentarista da Jovem Pan), Augusto Nunes, Caio Coppolla e Daniel Lopez, que, sozinhos, somam 4,7 milhões de seguidores no Instagram e 476 milhões de visualizações no Youtube, aproximadamente. 

Sobre as manifestações do 7 de Setembro, Alexandre Garcia afirma que foram “pacíficas, ordeiras e, sobretudo, democráticas”. 

Quanto ao cenário atual da imprensa no Brasil, Augusto Nunes comenta que “a Jovem Pan é o único veículo que apresenta comentaristas com opiniões divergentes” reforça que  “a Folha é um coro desonesto contra o governo'' e que a Revista Piauí “ não tem importância, é um brinquedinho dele [João Moreira Salles]”. As três afirmações de teor falacioso reforçam o esforço destes grupos em desmobilizar a credibilidade de veículos de imprensa.

Comentários com teor de ameaça ao Quarto Poder foram encontrados em diversos grupos apurados pela AGEMT. Dentre umas das formas que os jornalistas são apelidados dentro desses grupos está o termo, derivado de trocadilho, “Jornazistas”. 

A AGEMT fez uma apuração de dois desses canais que disseminam fake news e fazem ameaças à imprensa brasileira.

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Logo do canal de Caio Coppolla, no Youtube.
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Boletim Coppolla” - quadro de Caio Coppolla na Jovem Pan (JP), comentarista político,  o qual refere-se às eleições, economia e justiça. Retrata como o Datafolha induz o eleitorado a antecipar as suas escolhas. 

Segundo Caio, os institutos de pesquisas favorecem os números petistas. Nos seus vídeos, ao invés de se referir ao ex-presidente como Luiz Inácio, optou por classificá-lo como ex-condenado por corrupção: “Lula, um mentiroso confesso” - denuncia o influenciador.

Coppolla insiste na narrativa a qual diz o como a inocência do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) é uma farsa: “Essa ladainha inverídica é um mantra da propaganda petista” - martiriza o comentarista da JP. No seu canal do Youtube, nomeou como seu vídeo mais importante o que convoca os seus seguidores a aderirem às manifestações do 7 de Setembro.  

Nessa mesma plataforma digital, o seu conteúdo ataca a o petismo, repudia o Poder Jurídico como o Superior Tribunal Federal (STF), insinua que a imprensa é petista - já que não favorece o candidato do Partido Liberal (PL) - e iguala a figura de Lula com a do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. 

Já no seu Twitter, Caio eternizou na sua descrição um abaixo-assinado do impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - Alexandre de Moraes. O ministro investiga o inquérito das fake news, preocupando não só o clã da família Bolsonaro, mas também seu eleitorado. 

Coppolla divulga o seu conteúdo nos seus tweets como no vídeo o qual alega que Geraldo Alckmin (vice da chapa do candidato Luiz Inácio Lula da Silva) é um “cúmplice” do petista. 

Além da JP, Coppolla participou do quadro da CNN Brasil chamado “O grande debate”. A sua participação contou com argumentos questionando a eficácia do isolamento social no período de quarentena, parabeniza não só a  operação Lava-Jato e chama o ex-juiz Sergio Moro de icônico. 

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Bárbara do Te Atualizei

Seguida pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter, "Bárbara do Te Atualizei" é a mente por trás do canal Te Atualizei - marcado por opiniões contraditórias e disseminação de fake news. Suas redes sociais (dentre elas Instagram, Youtube e Twitter) somam 2 milhões de seguidores. Além de sua presença nas redes, já foi à Jovem Pan conversar com o comentarista Caio Coppolla no quadro “Conversa de Boletim”.  

O seu conteúdo é voltado para elogios da conduta presidencial de Bolsonaro, como fez quando aclamou o discurso do presidente na Organização das Nações Unidas (ONU). Tipicamente, usufrui do antipetismo. Bárbara descreve o ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como “multi condenado, depois descondenado mas nunca inocentado”. Abordou o conceito de “Globo Lixo” devido ao jornalista, William Bonner, ser “coleguinha” do ex-presidente.

No Twitter, a criadora do Te Atualizei alega que Jair não é homofóbico, defende o quanto ele ajudou na deflação econômica e afirma o abuso de poder do presidente Alexandre de Moraes. O ministro, a quem condena de abusar de seu poder, cortou a monetização do seu canal pelo inquérito das fake news. 

Bárabra mantém a narrativa de “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”. Ironicamente, chama o petista de “nine” - por ter nove dedos. Referência já dita pelo seu candidato à presidência: o capitão do povo - Jair Messias Bolsonaro.