A pressão estética sobre as mulheres que trabalham com sua imagem na internet é constante. A influenciadora Nayra Mesquita, cria um conteúdo no Instagram voltado para a autoaceitação e amor próprio. Foi no começo da pandemia que Mesquita se dedicou mais a plataforma “no ano passado eu fiquei desempregada, então consegui trabalhar mais com o Instagram, comecei a conversar e ver que o retorno era muito legal”.
Um dos motivos que a incentivou a compartilhar o seu processo foi uma mudança em seu corpo devido a um problema de saúde, que a deixou muito abalada. “Eu estava conhecendo um corpo que eu não conhecia, isso mexeu muito com a minha cabeça. Vim pra terapia e comecei a postar pra conversar com as pessoas mesmo, foi aí que eu percebi que eu não tava sozinha e o quanto é importante nós falarmos cada vez mais sobre os corpos.”
Quem resolve lutar por essa causa ainda tem que enfrentar muitos obstáculos, “o maior de todos é o nosso núcleo pessoal porque se você conseguiu passar por esse, você consegue passar por qualquer coisa”. Outro desafio é o boicote por parte da plataforma que muitas vezes é gordofóbica e bloqueia publicações de mulheres gordas por serem “explícitas” mas permitem que posts iguais, feitos por mulheres magras, permaneçam em seus feeds.
Atualmente, Nay acumula mais de 13 mil seguidores nas redes sociais (@nay_mesquita) e compartilha diariamente com seus seguidores suas angústias e vitórias do seu processo de autoconhecimento e amor. Mesmo com o tema gordofobia ganhando um espaço muito grande nas discussões ainda vemos marcas que evitam fugir dos padrões “eu trabalho com meu corpo há muitos anos, então às vezes eu perco coisas porque não estou no padrão de beleza da sociedade”.
As redes sociais podem reforçar padrões estéticos e interferir em questões de saúde. O uso abusivo da internet acaba por romper a conexão das pessoas com os próprios corpos, como apontado pela psicóloga Cristiane Tacla. “As pessoas vão buscar naquele espaço virtual o seu modelo de perfeição que às vezes é retocado e inatingível. Isso acaba interferindo no seu próprio esquema corporal, na própria imagem corporal e no valor de si.”, complementa.
A necessidade de seguir um padrão estético surge sobretudo no começo da adolescência. A psicóloga explica que “para fazer parte de um grupo as pessoas acabam achando que tem que ficar com o corpo igual, é uma forma de se inserir”. Com essa vontade, muitos pacientes vão atrás de acompanhamento nutricional com motivações e objetivos rígidos. A nutricionista Bruna Figueiredo afirma que “São poucos que pensam na saúde. A maioria vem com umas ideias absurdas do tipo: emagrecer 10 kg em três semanas ou caber em um tamanho x de roupa porque vai ter uma festa”.
Muitas informações sobre exercícios e dietas milagrosas vindas de pessoas não especialistas podem ser prejudiciais à saúde. Figueiredo ressalta que “o maior problema disso é que você não trabalha a individualidade do paciente, e o que funciona para um não funciona para o outro”. Cada dieta da moda traz um problema a depender das particularidades de cada pessoa, e ela reforça que “o ideal mesmo é estudar as pessoas e fazer um trabalho individualizado para chegar na saúde e não em padrões ou números”.
Diante do impulso de querer atingir rapidamente determinados corpos, Tacla alerta os perigos. “Isso que começa como um padrão de exigência muito grande, vai virando um transtorno e a pessoa tem dificuldade de sair porque acaba tendo uma alteração da autoimagem”. Ela diz ainda que na sociedade, existe muito a tentativa de corresponder às expectativas culturais e padrões e com a busca por se enquadrar a qualquer preço, a pessoa mais facilmente desenvolve um transtorno alimentar. Por isso, conclui que os padrões existentes são um recorte e é mais do que necessário conectar as pessoas como elas são, a vida como ela é.