Durante a pandemia, os pequenos estabelecimentos comerciais foram os que mais sofreram com a inflação e os impactos econômicos da Covid-19, segundo estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Uma outra pesquisa, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mostrou que o aumento no preço de insumos e mercadorias, seguido pela alta dos combustíveis, aluguéis e energia elétrica, são os fatores que mais pressionam os negócios de pequeno porte no país.
“A pesquisa fez uma estimativa de que 50 milhões de brasileiros que ainda não empreendem, mas querem abrir um negócio. Desse total, um terço teria sido motivado pela pandemia”, disse o presidente do Sebrae, Carlos Melles, em entrevista para a CNN.
Ainda segundo o Sebrae, as micro e pequenas empresas (MPE) puxaram a criação de empregos formais em 2021. Dos cerca de 2,5 milhões de postos de trabalho formais criados no Brasil, 1,8 milhão, o equivalente a 71% do total, originou-se em pequenos negócios.
O Brasil registrou um número recorde de abertura de pequenos negócios no ano passado. Foram mais de 3,9 milhões de empreendimentos, aumento de 19,8% em relação a 2020. Do total de Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas (CNPJs) criados no ano passado, 3,1 milhões optaram por ser Microempreendedor Individual (MEI), o que corresponde a 80% dos negócios abertos.
Os jovens irmãos empreendedores Kaique, 25, e Leonam, 19, criaram um negócio de pasteis durante a pandemia. Localizado no Tucuruvi, Zona Norte de São Paulo, o empreendimento foi inaugurado neste ano e sofreu, de cara, com o aumento dos produtos utilizados nas obras.
“O setor da construção civil cresceu durante a pandemia e não parou, porém o aumento da matéria-prima (ferro, inox, alumínio, areia, pedra, etc) estava crescendo também. O preço desses itens aumentava 5% todo mês, alguns 7%, toda vez que ia atrás comprar”, afirma Kaique.
Segundo ele, os preços subiam muito e atrapalharam a abertura do negócio: “O valor estimado da construção do estabelecimento foi duas vezes maior do que o preço estabelecido no início do projeto, por conta desse aumento das matérias-primas básicas para erguer o local.”
Após erguer o local, que teve de ser aberto antecipadamente por conta da necessidade de fazer o dinheiro girar, para não ficar no prejuízo e se complicar, os irmãos avaliam que será necessário readaptar o preço dos pasteis. Leonam explica o porquê:
“O preço do produto final, o pastel, aumentou muito por conta dos ingredientes usados. O pastel custava sete reais antes da pandemia, agora está em nove e será necessário ir para dez, aumentando cerca de 42% em relação ao que era antes. Então, a pandemia influenciou muito nesse aumento”.
A principal proposta, para se diferenciar dos pasteis da feira, foi a criação de um produto que, mesmo não sendo lucrativo, atrai os clientes para o estabelecimento
“Nossa ideia é equiparar os preços com os da feira, para manter nossos clientes. Abaixamos o preço de algo, mesmo que não nos beneficie. Por exemplo, nossa aposta é o pastel especial, onde você monta o pastel com quantos ingredientes quiser. É um preço maior, mas é personalizado e com o tamanho maior também. É uma forma de manter um cliente pagando dez, onde ele já pagou cinco anteriormente”, explica Kaique.
Por fim, Leonam contou sobre as entregas, que diminuíram por devido aos problemas econômicos que o Brasil vive por causa, entre outros motivos, da inflação:
“Sobre o consumo, é uma média de 270 entregas por final de semana. Nesses últimos meses, abaixou para 180. É uma redução grande, cerca de 30%”.
O Sebrae adverte em seu site sobre os perigos da inflação. Com o aumento de preços nas contas de energia, combustíveis, alimentação, dólar, aluguel e matérias-primas (mencionado pelos irmãos Leonam e Kaique), somado a toda a crise já enfrentada nos últimos anos devido à pandemia, crescem os desafios aos pequenos negócios, o que exige dos empreendedores muito mais cuidado, planejamento e inteligência na gestão.
Por fim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, ficou em 0,47% em maio, após alta de 1,06% em abril. A inflação atingiu 11,73% no acumulado de 12 meses e 4,78% no acumulado do ano.