O debate sobre jornalismo em tempos de pandemia marcou a terceira mesa da 42ª Semana de Jornalismo da PUC-SP e contou com a presença da bióloga Natália Pasternak (IQC) e das jornalistas Mariana Varella (Portal Drauzio Varella) e Cristiane Segatto (UOL). Mediada pelo jornalista Leonardo Sakamoto, a conversa se estendeu por duas horas na manhã de terça-feira (22).
De acordo com Natália Pasternak, se não fosse pela atuação da mídia tradicional não haveria campanha para o uso de máscara e isolamento social, o que poderia ocasionar ainda mais mortes: “A imprensa veio suprir um vácuo que foi deixado pelo próprio governo federal”, disse Natália. Segundo ela, durante a pandemia, houve um casamento perfeito entre jornalistas e cientistas que conseguiram informar a população de forma muito acessível e esclarecedora. Para a jornalista Cristiane Segatto, com mais de 24 anos de experiência na área de ciência e saúde, a mudança constante dos técnicos no Ministério da Saúde dificultou muito o acesso à informação de qualidade: “Nunca tinha visto antes um Ministério tão confuso na forma como divulga as suas informações e nunca os jornalistas tiveram tanta dificuldade para ter acesso à informações confiáveis”, relatou Cristiane. Segundo ela, a disputa política e a falta de alinhamento das estratégias por parte do governo prejudicou muito o trabalho da imprensa.
Mariana Varella, que durante a pandemia sofreu vários ataques na internet devido à desinformação e as campanhas de difamação, falou sobre a importância de saber se pronunciar quando necessário, mas também de ignorar em certos casos, a fim de frear a visibilidade de informações equivocadas: “A gente tinha muito essa dificuldade como portal de saúde de não dar mais lenha para a desinformação ao responder, então muita coisa a gente acabou ignorando”, falou Mariana.
Além disso, a jornalista também ressaltou como foi difícil o acesso à informação junto ao Ministério da Saúde, durante a pandemia, que muitas vezes segurou a divulgação dos dados, colocou pessoas que não tinham noção da área para falar com a imprensa e utilizou da campanha de desinformação em benefício das disputas políticas. Para ela, “a população ficou extremamente confusa no meio disso tudo” e “foi muito difícil assumir uma responsabilidade num momento em que todas as informações dos órgãos oficiais são contraditórias e que não há uma coordenação nacional”. Questionada sobre vacina da Rússia, Natália Pasternak alertou sobre a importância da transparência no processo do desenvolvimento da vacina para dar credibilidade ao tratamento e impedir que teorias conspiratórias ganhem espaço e prejudiquem a própria população. Para ela, a vacina russa está sendo testada precocemente e isso pode gerar uma falta de controle da sua real eficácia.
As entrevistadas ainda falaram sobre o riscos da volta às aulas determinada pelo governo de SP, da importância de também mostrar o bom comportamento das pessoas em relação ao distanciamento social e uso de máscara e de conduzir as ações baseando-se na ciência e em evidências.