Incêndio ameaça Parque Nacional da Serra da Capivara.

De acordo com a prefeitura da cidade, o maior empecilho para a contenção das chamas têm sido o difícil acesso aos focos que se encontram a apenas 8km de distância da Serra da Capivara.
por
Ana Kézia Carvalho
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09/09/2021 - 12h

Teresina/PI

Desde o último sábado (04), as chamas consomem a vegetação do município de São Raimundo Nonato. A localidade abriga o maior número de sítios arqueológicos do Brasil, o Parque Nacional da Serra da Capivara, que conta atualmente com 172 espaços catalogados e possui em seu acervo os vestígios mais antigos do homem nas Américas. O fogo se alastra, põe em risco moradias e se aproxima cada vez mais dos sítios arqueológicos.

 

Segundo nota publicada pela prefeita da cidade, Carmelita Castro (PP), em sua conta no Instagram: "Foram vários focos ao mesmo tempo. Infelizmente é um fenômeno difícil de se controlar, pois apesar das campanhas de conscientização contra queimadas, muitos não colaboram e a Prefeitura, por meio do secretário do Meio Ambiente, André Landim, se prontificou, junto aos órgãos competentes, a dar todo apoio para combater as chamas. Temos feito o que está ao nosso alcance: suporte às brigadas do ICMBIO com o envio de carros pipas. Nos unimos numa força-tarefa para mobilizar a equipe do Corpo de Bombeiros estadual ” 

 

De acordo com o João Costa, comandante da Operação dos Bombeiros encaminhada para conter as chamas, o relevo e a vegetação local favorecem a propagação frenética dos focos de incêndios. Em entrevista ao G1, ele lembra que o fogo se encontram a apenas 8 km de distância do Parque Nacional Serra da Capivara.

bombeiros tentando conter as chamas na região/ Foto: Larissa Ribeiro (assessora municipal)

       A vegetação predominante na região de São Raimundo Nonato é a caatinga, como explica o ambientalista e jornalista Alcide Filho em entrevista à Agemt: “Impedir o início do fogo é mais fácil que querer apagá-lo. A natureza fez da adaptação aplicada na Caatinga uma sentença. Ao perder as folhas, [a vegetação deposita sobre o solo um tapete inflamável, ao mesmo tempo estopim e pólvora, de rápida propagação de chamas. Com os galhos expostos, sem uma proteção antifogo natural, como a cortiça das árvores do Cerrado, o ar seco, ventos circulando e soprando sem obstáculos  pela mata adentro, facilita que as linhas de fogo marchem, sem resistência e implacáveis, como as mortais fileiras de centúrias romanas. “ Tal fenômeno explica o risco que correm tanto os moradores da região quanto o Patrimônio Nacional Histórico, de importância histórica mundial.

 

O Parque da Serra da Capivara, criado em 1979,  é patrimônio mundial da Unesco. Reúne 172 sítios arqueológicos, além de pinturas rupestres dos povos mais antigos das Américas, também possui esqueletos humanos e animais. No parque também estão o Museu do Homem Americano, que apresenta em sua exposição o crânio de Zuzu, considerado o mais antigo do Brasil, com cerca de 12 mil anos, e o Museu da Natureza, com exposição de esqueletos e réplicas de animais pré-históricos encontrados na região

 

Ainda sobre medidas de atuação da gestão pública e dos próprios moradores, Alcide afirma: ``Tanto para medidas contra a fome quanto aquelas contra o fogo, há pressa e necessidade de planejamento. Isso não combina com gestão pública, incapaz de se antecipar a uma tragédia anualmente anunciada. Sinais de fogo e fumaça no horizonte da Caatinga, ao final de agosto e já no começo de setembro, são tão previsíveis quanto fogueira apache nos  filmes de faroeste americano”

 

O ambientalista ainda defende a adoção de medidas preventivas como a educação ambiental teórica e prática para os moradores e agricultores da região como forma de conscientização sobre a vegetação e a importância do manejo consciente do solo e da vegetação.

Ele também aponta a importância dos aceiros, largas faixas de terra sem plantas, no entorno do parque e povoados, das Brigadas Voluntárias e Civis de Combate e Prevenção a incêndios, com o envolvimento da população e o investimentos em equipamentos, treinamentos e poder de mobilização política.

As prefeituras deveriam ter uma Central de Monitoramento de Incêndios Municipal, pois a partir do  monitoramento local, as áreas mais críticas e com ocorrências recorrentes podem ser mapeadas e a atualização das informações mantidas, através de  boletins e avisos em emissoras de rádios.

Alcide Filho também sugere a criação de uma Rede Social Contra o Fogo, com informação dinâmica como suporte para incentivar o envolvimento social e contribuir para o sentimento de corresponsabilidade com o patrimônio arqueológico e a biodiversidade da caatinga. 

No dia 8, a prefeitura de São Raimundo Nonato notificou em sua página do Instagram que “ O combate aos incêndios nesta região é extremamente difícil, com poucos acessos pela estrada, além do enorme volume de grande vegetação seca. O vento mais forte durante o dia também dificulta o trabalho, o fogo tem maior facilidade de propagação".

A força-tarefa com aproximadamente 20 homens do Prevfogo seguem no combate às chamas.

O humorista piauiense Whindersson Nunes também se pronunciou em suas redes sociais sobre a situação de risco sofrida pelo Parque Nacional Serra da Capivara ."Deixa isso acontecer na Serra da Capivara não, gente, por favor. Esse fogo é perto dos fósseis mais antigos das Américas, vcs sabem que a gente não consegue controlar um fogo num museu numa capital, imagina assim isolado" referindo-se  ao incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018.

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