Imprensa em xeque no terceiro ano do governo Bolsonaro

Quase tão criticado e atacado como na época da ditadura, jornalismo passa por momento complicado no Brasil
por
Raphael Dafferner, Lucas Martins e Paulo Castro
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17/06/2021 - 12h

Na segunda-feira (7/06) foi celebrado, no Brasil, o Dia da Liberdade de Imprensa. A data é comemorada por conta da forte censura que a mídia sofreu durante o período do Estado Novo e, principalmente, durante a Ditadura Militar, que perdurou no Brasil por mais de 20 anos (1964-1985). O dia se tornou ainda mais significativo após a eleição de Jair Bolsonaro, quando ataques a jornalistas se tornaram frequentes por parte do governo e de seus apoiadores.

Breiller Pires
Breiller Pires usando a camiseta do Observatório da Discriminação Racial no Futebol (foto: reprodução Twitter)

Breiller Pires, jornalista da ESPN e do El Pais, acredita que a liberdade de imprensa já estava sendo atacada mesmo antes do governo de Jair Bolsonaro, mas se intensificou desde sua eleição em 2018. Os dados confirmam a opinião de Breiller. Segundo o Relatório Anual de Violações à Liberdade de Expressão, divulgado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), os casos de agressões contra a imprensa aumentaram em 167% de 2019 para 2020, de 56 para 150, sendo 40% do total de ataques, ligado ao nome do presidente Jair Bolsonaro. 

Além disso, os constantes ataques fizeram com que o Brasil caísse 5 posições no ranking mundial de liberdade de imprensa, organizado pelos Repórteres sem Fronteiras (RSF). O país, que em 2018 se encontrava na 102ª posição, caiu para a 107ª em 2020. Segundo o presidente da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, a colocação atual se deve aos “multifacetados ataques à imprensa, que seguem uma estratégia cada vez mais bem estruturada de semear desconfiança no trabalho dos jornalistas”.

Pedro Duran
Pedro Duran, jornalista da CNN (foto: reprodução Twitter)

Os ataques mais recentes a jornalistas foram destinados a profissionais da CNN. Durante as manifestações a favor do governo de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, no dia 23 de maio, o jornalista Pedro Duran, da CNN, ex-aluno do curso de Jornalismo da PUC-SP, foi alvo de agressões verbais e físicas por parte dos apoiadores do presidente, que gritavam “vai para casa” e “vagabundo” para Duran. Três dias depois, no dia 26, a jornalista Daniela Lima virou alvo dos bolsonaristas – e do próprio presidente, que a chamou de “quadrúpede”. Esses ataques se deram por conta de um erro da jornalista enquanto dava uma notícia ao vivo, quando disse que “infelizmente, a gente vai falar de notícia boa, mas com valores não tão expressivos”.

A frase foi tirada de contexto e utilizada para atacar a jornalista e a imprensa em geral. Para Breiller Pires, esses ataques demonstram bem o tempo conturbado que o Brasil vive: "o jornalismo vive um período difícil, um período crítico em que está em xeque não só a liberdade de imprensa, mas a própria liberdade de expressão”, afirmou. Pires ressalta, sem citar de quem está falando, que muitos veículos que estão sofrendo esses ataques normalizaram esse discurso extremista e autoritário do atual presidente. “O extremismo se apropria de um veículo de imprensa, se aproxima de um comentarista ou jornalista que é favorável a ele e demonstra simpatia. Mas, a partir do momento que se faz jornalismo, o extremismo descarta esse dito aliado”.

Essa ofensiva contra jornalistas é maior quando se trata de mulheres exercendo a profissão, que são vítimas de xingamentos machistas. Os casos de Daniela Lima, de Patrícia Campos Mello e Vera Magalhães se destacam nesse ponto. Isso foi ressaltado por pela pesquisadora do objETHOS Janara Nicoletti, na 43° semana de jornalismo da PUC-SP.

A doutora em jornalismo mostrou que, em 2020, 64 dos 428 ataques a profissionais de imprensa eram destinados a mulheres. Desses 64, cerca de 26% foram realizados por pessoas na rua, 23% pelo próprio Jair Bolsonaro e 18% por anônimos da internet. A pesquisadora conclui dizendo que o objetivo desses ataques é intimidar as jornalistas e causar o que ela chamou de uma “autocensura”, ou seja, calar o profissional da imprensa.

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