Impactos da Covid tornam fontes renováveis mais atrativas

Segundo agência reguladora, após as hidrelétricas, energia eólica e biomassas seguem como referências na distribuição de energia
por
Artur Ferreira
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02/07/2020 - 12h

A pandemia atingiu de forma inesperada diversos segmentos da sociedade. Entre eles, a área energética. Combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás tiveram queda tanto na demanda quanto no preço.

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a demanda global por energia, nos primeiros meses de 2020, sofreu um declínio sete vezes maior do que o ocorrido após a crise financeira de 2008. Neste cenário, os investimentos em energias renováveis, antes vistos como pouco lucrativos, aparecem agora como um  caminho para tirar o setor da crise.

Para compreender a situação do Brasil, é necessário analisar sua matriz elétrica. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 59,6% da energia elétrica distribuída pelo país é gerada por hidrelétricas.

E, mesmo que seja um processo menos poluente, a geração hidrelétrica causa graves consequências ambientais, como inundações, desvios de rios e emissão de dióxido de carbono.

Outras fontes que se destacam na matriz elétrica brasileira são a eólica (9,3%), biomassas (8,6%), gás natural (8,6%), petróleo (5,2%) e a solar/fotovoltaica (1,7%), entre outras que também fazem parte do mercado nacional.

De acordo com Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), o setor da energia eólica pouco sentiu a crise causada pelo coronavírus.

Segundo a executiva, o mercado eólico é bastante guiado por leilões e licitações para construção de aerogeradores [equipamentos que convertem energia eólica em energia elétrica]. Sendo assim, as construções realizadas neste ano e em 2019 já haviam sido negociadas três ou quatro anos antes.

“A energia eólica também gera os efeitos multiplicadores nas regiões em que os aerogeradores são instalados”, explica Gannoum. Os efeitos multiplicadores são os investimentos e o aquecimento das economias locais de pequenas fazendas e comunidades, estimulados pela energia renovável.

“Principalmente no semiárido do Nordeste, e no Sul do país”, diz a presidente, acrescentando que, ao todo, 12 estados têm aerogeradores instalados. Gannoum explica que, mesmo com todos benefícios, a geração eólica não poderia ocorrer em todo o Brasil, devido à necessidade de fortes ventos, que em alguns biomas não existem.

Dependendo de onde mora um cidadão e seu poder aquisitivo, é mais vantajoso “que ele invista em painéis fotovoltaicos”, considera Gannoum. Segundo ela, o investimento em aerogeradores faz mais sentido para grandes consumidores, como empresas e o poder público, do que para uma única família. A executiva cita como exemplo estruturas que demandam muita energia, como fábricas e shopping centers.

De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o crescimento previsto para a área de energia solar era de 260% em 2020, em um cenário sem a pandemia global. A associação também estimava a geração de mais de 120 mil empregos neste ano.

Porém, o setor  foi afetado por questões de importação e distribuição. Foi o que registrou a We Brazil Energy, empresa especializada em energia solar, que atesta que o mercado de energia fotovoltaica é totalmente dependente de países como a China.

De acordo o CEO da rede, Alex Magno, a expectativa era que “este poderia ser o melhor momento para aproveitar a curva de crescimento exponencial”. Os números demonstraram altas taxas de crescimento no ramo de 2017 a 2019.

Porém, o custo para se produzir equipamentos fotovoltaicos nas indústrias nacionais é 25% maior do que o produto importado. E, com a instauração da quarentena, a velocidade nas importações está bem abaixo do habitual.

Entre os principais consumidores dos painéis fotovoltaicos estão estabelecimentos comerciais, residências e, após esses dois, a indústria seguida pelo setor rural.

Tanto Magno quanto Gannoum deixam claro que possuir uma casa com equipamentos como esses é um custo ainda considerável, para a maior parte da população. O valor médio de um sistema para duas pessoas é de R$ 10.673, e para uma família de quatro a cinco pessoas o preço pode chegar a mais de R$ 20 mil.

Mas não é só no consumo doméstico que um cidadão pode investir em novas fontes de energia. As biomassas, como o etanol, são uma forma de motoristas utilizarem uma energia menos poluente em seus carros.

Segundo o professor Marcos Silveira Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, a sociedade deveria buscar novas fontes de energia para todos os setores de uma cidade, e não só nas casas.

Buckeridge, que é coordenador do programa USP Cidades Globais, vinculado ao Instituto de Estudos Avançados (IEA), estuda, principalmente, o etanol. “Queremos revolucionar realmente essa questão da energia renovável.”

Buckeridge também desenvolve pesquisas sobre a qualidade de vida tanto humana quanto da natureza na cidade de São Paulo. Ele diz que cada vez mais o paulistano tem utilizado o etanol em vez da gasolina.

Mas lamenta: “Infelizmente não temos o etanol para caminhões, que seria o ideal, já que a poluição feita pelo diesel é muito grande”.

A produção do etanol pode ser feita através de diversas formas, como a cana-de-açúcar, milho, beterraba, mandioca, entre outras plantas. Buckeridge pondera que, mesmo com o avanço tecnológico que o etanol traz para o cotidiano de metrópoles como São Paulo, o combustível ainda é de difícil acesso no restante do Brasil.

“O etanol está sempre bem mais caro. São Paulo é o lugar em que você realmente encontra o etanol com um preço que você possa usar”, diz.