“Moro no Capão redondo, lugar que se você não for o homem com cabelinho na régua e postura de malzinho, você será taxado de gay”, diz Renan Caide, 30, que expõe as dificuldades que homens, em específico, não heteronormativos sofrem em uma sociedade que impõe esse comportamento.
Heteronormatividade é uma idealização de expressão de gênero, obrigação social para que todos sejam e se comportem como heterossexuais. Os homens, em particular, devem ser fortes, viris, insensíveis, “pegadores”, não andar com meninas, usar cores “másculas” entre outras imposições. Quem não se submete a essas normas enraizadas, tem sua sexualidade questionada, é excluído e enfrenta dificuldades.
O entrevistado afirmou como era discriminado ao usar roupas consideradas femininas pelos heteronormativos, como a calça skinny e por ter franja, penteado mal visto por eles. Caide relata questionamentos e dúvidas sobre sua sexualidade ao ser afetuoso, isso porque os homens já não costumam demonstrar seus sentimentos devido a julgamentos que terão da sociedade. Caide conta como para ele é mais fácil se enturmar com LGBTs+, já que esses não ligam para a quebra do padrão, e diz como não tem muitos amigos heteronormativos; “Geralmente não ando com a galera hetero top”, afirma ele. Ele disse também como não ter filhos, reforça a discriminação e a especulação da orientação sexual dele.
Renan ainda conta que as retaliações estão presentes desde sua infância até hoje, já que é discriminado por pessoas de sua comunidade e família. Apesar de ser seguro da sua sexualidade e não se culpar por não ser heteronormativo, ele conta como existe a exclusão por parte dos que seguem o padrão, disse como já teve, várias vezes, correções de comportamento durante sua infância, tem sua sexualidade (que é heterossexual) questionada todo dia, e é discriminado por seu comportamento.
Todos os relatos apontados por Caide evidenciaram o machismo estrutural enraizado na sociedade. Uma pesquisa feita através do Google Forms pela AGEMT sobre heteronormatividade apresentou a maioria dos entrevistados abertos aos padrões, contradizendo a vivência de Caide. A pesquisa apontou que 88,9% das respostas foram de que não existem coisas de meninos e meninas; 88,9% disseram ter algum amigo próximo fora desse esteriótipo; 44,4% disseram nunca terem discriminado - mesmo que em pensamento.