Hip-hop constrói pontes entre gerações e periferias

Da foto de Gordon Parks às quebradas brasileiras, o movimento transforma comunidades e mantém viva a herança cultural negra
por
Mariane Beraldes
Victória Miranda
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28/10/2025 - 12h

Em 12 de novembro é celebrado o Dia Mundial do Hip Hop, a imagem “Um grande dia para o Hip Hop” (1998), de Gordon Parks, disponível na exposição “A América sou eu” realizada no Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, traz destaque para o movimento. A foto, que reuniu mais de 177 artistas, produtores e influenciadores em frente a um prédio no bairro Harlem, em Nova York, vai além do registro histórico e se conecta às periferias brasileiras, onde o movimento continua a ocupar espaços, narrar realidades e afirmar a força da cultura negra. 

Gordon Parks (1912–2006) foi um renomado fotojornalista, escritor, compositor e cineasta norte-americano que retratava em suas obras o que não gostava na América: a pobreza, o racismo e a discriminação. Assim como o Hip Hop, o fotógrafo traz em sua narrativa a realidade das periferias, contestação social, violência policial e desigualdades. Sua imagem sobre o movimento foi publicada pela primeira vez na capa da sétima edição da revista XXL como uma homenagem à fotografia de Art Kane, feita em 1958, que reuniu 57 músicos do jazz na escadaria de arenito do Harlem para a revista Esquire. 

"Um grande dia para o Hip Hop" (1998). - Foto: Victória Miranda
"Um grande dia para o Hip Hop" (1998). - Foto: Victória Miranda

O Hip Hop é composto pela junção de quatro segmentos: rap, DJs, breakdance e grafite. O rap é a forma musical, baseada em rimas faladas sobre batidas, usada para expressar ideias, experiências e críticas sociais. Os DJs são responsáveis pelas bases sonoras, mixagens e manipulação de discos. O breakdance é a vertente de dança, marcada por movimentos acrobáticos, coreografias e sincronização com a música. E o grafite é a expressão visual que transforma muros e espaços urbanos em telas que refletem a arte, identidade e mensagens políticas. 

Há mais de 50 anos, o movimento nasceu nas periferias de Nova York como forma de resistência e expressão coletiva. A foto de Gordon Parks, simboliza essa força ao retratar a influência da música entre gerações e comunidades. No Brasil, o movimento chegou nos anos 1980, especialmente em São Paulo. Desde então, movimenta a cena musical, dita tendências e reafirma o poder da cultura negra nas ruas e nos palcos. 

Inaugurado em 2023, o Museu da Cultura Hip Hop, localizado no Rio Grande do Sul se dedica a preservar e difundir o impacto social do movimento no país. O local reúne salas expositivas, estúdio de gravação, biblioteca, loja, café, acervo, salas multiuso para oficinas, área para grafite, breaking, discotecagem, espaços para shows, sala administrativa, anfiteatro e quadra poliesportiva, que se tornam um verdadeiro espaço de referência do estilo no país. 

Museu do Hip Hop no Rio Grande do Sul. -Foto: Leo Zanini/TMDQA!
Museu do Hip Hop no Rio Grande do Sul. - Foto: Leo Zanini/TMDQA!

Outro elemento central do movimento que ganha destaque nas periferias brasileiras e entre a juventude negra são as batalhas de rima. Essas competições, que se tornaram uma forma de expressão cultural e resistência, se espalharam pelo mundo e também se consolidaram no Brasil. Em São Paulo, a Batalha da Aldeia (BDA), a Batalha da Leste, a Batalha da Norte, entre outras, mostram o talento das ruas e impulsionam o rap nacional do gueto para os palcos. 

Mais do que música ou dança, o hip-hop se afirma como um espaço de identidade e resistência que une ritmo, moda, poesia, arte e movimento. Uma expressão cultural que continua a influenciar gerações e transformar a paisagem urbana brasileira. 

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