O Comitê Olímpico Internacional (COI) discutiu no dia 28 de fevereiro de 2022, a quebra da trégua olímpica pelos governos da Rússia e Belarus com a invasão e a guerra travada na Ucrânia. Diante das circunstâncias, diversas organizações esportivas se manifestaram promovendo um boicote às competições internacionais. Segundo Gustavo Aguiar, jornalista e criador do To Fly Volleyball, a situação é bem mais complexa, e difícil de apontar o certo: “Por um lado, a Rússia como nação tem um histórico de conflitos, invasões, agressões e desta vez Belarus apoia isso. Por outro, os atletas não têm culpa direta nisso e diversas vezes são até contrário a essas posições”. Além disso, para Guilherme Costa, jornalista do Sportv, as sanções para os atletas da Rússia em quase todas as modalidades são um certo exagero: “Diversos países invadiram vários locais nos últimos anos e não foram punidos. Mas é uma questão delicada, já que o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) ameaçou manter os dois países nos jogos paralímpicos de inverno em fevereiro deste ano, e teve que voltar atrás na decisão”.
Diante da situação, o COI junto com o IPC de início autorizou a participação dos atletas da Rússia e Belarus nas Paralimpíadas de Inverno, mas sob uma bandeira neutra e as medalhas não seriam contabilizadas. Em uma declaração o Comitê disse evitar punir os atletas pelas decisões de seu governo. Mas declarou que o conflito cria um dilema “enquanto os atletas da Rússia e Bielorrússia poderiam continuar a participar de eventos esportivos, muitos atletas da Ucrânia estão impedidos de fazê-lo por causa do ataque”. Já na quinta-feira (3), as organizações voltaram atrás em suas decisões e anunciaram que os atletas de ambos os países foram excluídos dos Jogos Paralímpicos de Inverno de Pequim devido à invasão na Ucrânia. Em um comunicado o CPI afirma: "Para preservar a integridade dos Jogos e a segurança de todos os participantes, decidimos rejeitar as participações de atletas do RPC (Comitê Paralímpico Russo) e do NPC Belarus (Comitê Nacional Paralímpico de Belarus)".
Para Costa, a maioria dos atletas não têm nada a ver com a invasão, muitos sequer moram no país “claro que a Rússia usa bastante o esporte para se promover politicamente, mas ao mesmo tempo uma bandeira que não seja da Rússia ali na representação dos atletas já mostraria ao mundo que há algo de errado por lá. Não precisaria banir todos os atletas". O anúncio reverteu a decisão feita dias antes que permitia a presença dos atletas dos dois países no evento. Como explicação da atitude o CPI justificou a decisão ao afirmar que muitos comitês de países participantes, equipes e atletas haviam ameaçado não competir caso fosse permitida a presença de russos e bielorrussos, o que “colocava em risco a viabilidade” do evento.
Sobre a punição, Aguiar diz não achar a punição injusta, mas deveria haver um critério mais transparente para esse tipo de suspensão “a Rússia não é a única potência a infringir direitos humanos de forma clara. Israel é um país que ataca civis palestinos, a situação do Afeganistão teve intervenção direta e armada dos Estados Unidos, a guerra na Síria teve participação de EUA e Rússia. Então também teria que remover esses países do âmbito olímpico neste caso.”
Na primeira semana de março, a presença de atletas medalhistas olímpicos russos com grandes influências como as irmãs Dina e Arina Averina da ginástica rítmica, Evgeny Rylov da natação, e os patinadores artísticos Victoria Sinitsina, Nikita Katsalapov, Evgenia Tarasova e Vladimir Morozovno, estiveram no Estádio Olímpico Evgeny Luzhniki, em Moscou, participando de um evento organizado pelo presidente Vladimir Putin. A intenção foi celebrar os oito anos da anexação da Crimeia e mostrar forças em relação à invasão na Ucrânia que repercutiu negativamente no mundo do esporte.
A maioria dos atletas apareceram em fotos oficiais do ato vestindo jaquetas com um “Z” no peito. A letra, que não faz parte do alfabeto russo, tornou-se simbólica com a invasão da Ucrânia pela Rússia e foi vista pintada na lateral de tanques e veículos militares, além de ser usada por políticos pró-guerra, e alguns atletas na Rússia. Em relação a esse posicionamento, Aguiar comenta que "diversos atletas e clubes foram obrigados a participar dessas manifestações de apoio a Putin. Grande parte deles depende de investimentos governamental. No vôlei, Lokomotiv, um clube da região de Kaliningrado, promoveu e utilizou a distribuição de cartazes com mensagens de apoio à guerra e a Putin." Já Costa afirma: "Acho que atletas que se manifestaram a favor da Rússia nessa invasão em eventos extra esporte ou nas redes sociais também não devem ser punidos. Mas aqueles que se manifestaram durante as competições (como o ginasta que usou o Z no peito no pódio), esses sim merecem punição ou banimento".