Em meio à crise econômica e à guerra entre Rússia e Ucrânia, os brasileiros têm visto um forte aumento no preço dos combustíveis. De acordo com uma pesquisa feita pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), na última semana de março de 2022, o preço máximo do litro da gasolina vendida no Brasil chegou a quase R $9,00. Especialistas apontam que o Preço de Paridade Internacional (PPI) adotado pela Petrobras desde 2016 também colabora para o impacto negativo na mobilidade urbana do País.
Após o dia 24 de fevereiro, quando foi anunciado o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, os preços dos combustíveis sofreram impacto em todo o mundo, já que o país presidido por Putin é responsável pela exportação diária de cerca de 7 milhões de barris de petróleo. Na segunda semana do mês de março, o valor do barril chegou a quase US$140, o que indica forte aumento quando em comparação com o preço anterior à escalada do conflito, que era de US$ 101,29.
A importância da Rússia para a venda internacional do combustível fóssil se dá pelo fato de que o país é o terceiro maior produtor mundial de petróleo, e o segundo maior exportador. Com isso, mudanças geopolíticas impactam diretamente o comércio mundo afora, como aconteceu em 2014, durante a anexação da Crimeia ao território russo. Segundo o especialista da Valor Investimentos, Davi Lelis, na época, o valor do barril chegou ao que hoje seria equivalente a US $112. A atual tensão entre a Rússia e a Ucrânia tem sido amplamente observada e a expectativa é de que haja queda nos preços conforme o conflito seja amenizado.
Pesquisadores apontam que, apesar da guerra ter alavancado o preço dos combustíveis no Brasil, o País já enfrentava uma crise. Tal fator está diretamente relacionado à postura adotada pelo Oriente Médio de diminuir a oferta de petróleo para conter os preços frente à menor demanda devido ao isolamento social adotado como medida de contenção da pandemia de Covid-19.
Com o avanço da vacinação, a maior flexibilização dessas ações e consequente aumento da mobilidade urbana, a retomada da oferta não conseguiu acompanhar o intenso aumento da demanda, elevando os preços dos combustíveis. No Brasil, a organização adotada colabora para a escalada de preços. Desde 2016, a Petrobras utiliza a política do Preço de Paridade Internacional, que é quando as refinarias vendem os combustíveis para as distribuidoras a partir de um valor paralelo ao mercado internacional, definido pela cotação do barril e pelo câmbio. A companhia argumenta que a política é seguida para maximizar o lucro e manter o mercado competitivo.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Petrobras fornece 70% dos combustíveis consumidos pelo Brasil. Dessa forma, em meio à crise gerada pela pandemia, à instabilidade internacional impulsionada pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e ao atual quadro político nacional, os preços sofrem aumento ainda maior no Brasil.
A PPI não tem sido negativamente debatida como um dos principais desencadeadores do aumento do preço dos combustíveis apenas atualmente. Em 2018, a alta no valor gerou a greve dos caminhoneiros, a qual suspendeu temporariamente a atividade de diversos setores da economia brasileira.
Além disso, a mobilidade urbana tem sido limitada, afetando também motoristas de carro, moto e quem trabalha com serviços de transporte por aplicativo. Sérgio*, motorista da Uber, contou que o aumento da gasolina impactou fortemente seu trabalho, diminuindo o lucro obtido em cada corrida. Além disso, ele relatou que a empresa comunicou uma mudança na política de repasse do valor adquirido nas corridas: “A Uber divulgou que nós receberíamos um acréscimo de 60 centavos a cada dez reais de lucro, mas, na prática, nós não sentimos diferença, principalmente porque está cada vez mais caro abastecer o carro”.
Agora, os brasileiros que dependem do transporte público também estão sentindo no bolso o impacto dessa crise. No dia 10 de março, a Petrobras comunicou um reajuste de 24,9% do óleo diesel nas distribuidoras. Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), os aumentos acumulados pelo combustível já elevaram em 10,6% os custos da locomoção por ônibus só neste ano, e podem crescer ainda mais, caso o poder público não compense a correção do diesel.
*O entrevistado não quis informar seu nome completo.