Grupos de Telegram Bolsonaristas não pararam de mandar mensagens de cunho golpistas desde o final das apurações das urnas no último domingo (30). Dentre as mensagens encaminhadas estão prints de um grupo com nome “Carla Zambelli.br” (nome que não corresponde ao canal oficial da Deputada) criado em apoio à Deputada com mensagens como: “o Brasil terá a resposta” e “Muitos acham que o jogo acabou. Eu digo que não. A guerra ainda não acabou!”.
Desde ontem, as reações aos resultados das eleições tiveram tons anti democráticos, mas essa conduta foi anunciada e incentivada antes mesmo das eleições iniciarem. Com barricadas e piquetes nas estradas de diferentes estados do Brasil feitos por caminhoneiros apoiadores do governo federal, o cenário anti democrático pelo qual o país está passando é revelado mais uma vez.
Em um canal do Telegram chamado “Selva e Aço”, foi circulado um vídeo no qual Augusto Dalçoquio Neto, dono da Transportes Dalçoquio - transportadora com mais de 170 veículos em operação e 12 filiais em 8 unidades da federação - anuncia que “pela primeira vez nós [brasileiros] estamos aqui dizendo: ‘eu não aceito o comunismo'''. Pede para os ouvintes aguardar as próximas horas e, para quem tiver, falar com “amigos do agronegócio”.
Dalçoquio acrescenta: “Por enquanto pacificamente, por enquanto. Agora vai ficar no coração de cada um aceitar o Brasil ser comunista ou não. Eu não aceito!”, vocifera. A esse ponto no vídeo, pessoas presentes começam a gritar e concordar com o empresário.
“Eu vou morrer, nós vamos morrer, mas não vamos entregar pra filha da puta do comunismo (sic) e acabou! Saiam e vão defender o Brasil também.” O empresário ainda diz que esse momento definirá quem é “homem e quem é menino, quem é mulher e quem é menina”.
Também circulou um vídeo do vereador Major Elitusalem (PSC), do Rio de Janeiro, no qual convoca os patriotas para agir. “Eu falei que o golpe tava armado. Não erramos na previsão”. No vídeo, o vereador ressalta que o relatório das Forças Armadas sobre as eleições ainda não foi entregue e que, portanto, “vamos aguardar e confiar no presidente da república”. Para outros vídeos que também circularam no aplicativo, a falta do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) indica que as votações não acabaram.
Outro assunto recorrente nos grupos é o Artigo de número 142 da Constituição, que estipula os deveres das Forças Armadas que “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. A interpretação desse artigo nesses grupos é a de que deve haver intervenção política por parte das Forças Armadas.
Uma característica desses grupos bolsonaristas é a capilaridade que eles têm. O grupo “Carla Zambelli.br” foi criado no dia 31 de outubro e conta com 9.700 pessoas, com um engajamento médio de 9.500 visualizações por mensagem. Os envios desse grupo totalizaram 401 mil visualizações - as mensagens podem ser compartilhadas entre diferentes grupos, o que aumenta seu engajamento.
Atualmente, existem 673 mil registros de CACS (Caçador, Atirador Desportivo e Colecionador) no Brasil, número que cresceu em 474% durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). O Exército Militar Brasileiro tem 360 mil militares na ativa em 2022, segundo a Global FirePower.
Dentro da sigla CACS, os caçadores têm direito a ter até 15 armas, atiradores até 60 e colecionadores não têm limites de posse. Atualmente, mais de um milhão de armas circulam no Brasil na mão dessas pessoas
No Brasil também existem 2 mil clubes de tiros, a maioria dos quais inaugurada nos últimos 4 anos, que defendem a liberdade de se praticar esportes de tiro e de se defender. O aumento não só no número desses estabelecimentos, mas também dos registros feitos para se portar arma no brasil durante os anos do mandato de Jair Bolsonaro pode revelar a facilidade com a qual mensagens e informações pró-governo circulam dentro dos grupos de Telegram.