Grime é novo estilo de música perférica

Conversamos com Maximilian, vulgo SD9 que nos contou um pouco mais sobre sua vida e o Grime
por
José Pedro dos Santos
Renan Barcellos
|
27/09/2023 - 12h

 

 

“O Meu nome é Maximilian Campani da Costa Souza, meu vulgo é SD9 e eu faço Grime”, esse é o começo da entrevista que Maximilian deu para Wesley Brasil em 2022, disponível no Youtube. Na entrevista que ele deu para nós, SD estava na “Reprezent Radio” rádio londrina que foi uma das pioneiras em tocar o estilo musical Grime, naquele periodo o MC havia viajado para Londres, o berço do Grime para conhecer algumas rádios e ver alguns amigos de lá.

Maximinian, o SD9, apelidado como O Fenômeno, em referência ao Ronaldo, o que também explica o 9 no seu nome, é um MC de Grime, estilo que surgiu nas periferias londrinas e mistura as batidas pesadas da eletrônica com rimas aceleradas do Rap. Referência dentro do gênero, o artista afirma que  junto com o programa Brasil Grime Show foram peças chaves para difundir o estilo. Disponível no youtube o BGS é um canal fomentador da cultura Grime, fazendo Grime shows, que são sets de Dj’s com um ou mais Mc que rimam em cima das batidas, SD participou de inúmeros programas, inclusive do primeiro onde cantou com JXNVS e com ANTCONSTANTINO na controladora, na nossa conversa o artista comentou sem muito peso sobre como ele é o número um dentro do Grime nacional e que é impossível falar do gênero sem falar dele e do Brasil Grime Show.

SD9 no clipe 40°.40, a cena é igual a cena no banheiro do filme La haine
SD9 no clipe da sua música 40°.40, essa intro do clipe é uma homenagem a cena do banheiro do filme francês La Haine de Mathieu kassovitz / imagem: Reprodução

Ainda falando sobre o BGS, ele afirma que o programa é muito importante para a cena, apesar de a maioria dos participantes não serem dentro da esfera do Grime, diz que o estilo no Brasil é muito pequeno mas que apesar de ter grandes nomes da música inglesa que tocam Grime, como Skepta, Stormzy e AJ Tracey a cena londrina também não é muito grande. 

Seguindo a conversa, Maximilian demonstrou todo seu conhecimento de Grime, ele aprendeu a formula através de Grime shows gringos, porém o primeiro Grime que ele ouviu foi em 2006, Kickback do Lethal Bizzle, do Fifa street 2, ainda sem saber que era Grime. Em 2015, um amigo dele mostrou um som do Skepta, onde a partir daí, SD passou a procurar, aprender e querer fazer o estilo, ele afirma ter diversas referências, dentro e fora do Grime, o que é perceptível em sua obra, onde ele mistura Grime e funk proibidão. 

Após falar sobre suas referências, perguntamos a ele sobre o seu último trabalho 40°.40 Deluxe, já que durante as pesquisas para a entrevista achamos uma matéria onde Maximilian explica a história da versão base do álbum, que é um álbum conceitual inspirado em Good Kid, M.A.A.D City, do Kendrick Lamar, queríamos saber qual seria a ideia dessa nova versão, sua resposta é que a versão deluxe foi lançado para falar de coisas que ele não havia falado, “eu não queria assustar tanto”, ele usa de exemplo a faixa Hediondo da versão deluxe, que conta a história de um menino que entra para o tráfico e descobre que sua irmã foi estuprada, a vingando ao matar o seu agressor, “as pessoas precisavam ouvir o papo reto e minha vivência mas sem assustar, chocar sem assustar”.

capa azul do album 40°.40 Deluxe
Capa do segundo álbum de estúdio de Maximilian, 40°.40 Deluxe / Imagem: Reprodução

‘’No deluxe eu já não me segurei, eu taquei o fodase, eu preciso falar as paradas e o povo já conhece meu pique’’. Segundo ele o 40°.40 é mais eletrônico também, para ele o original tem 6 Grimes, 2 Drill e isso faz com que ele tenha um cara mais rap como estamos acostumados, são dois álbuns diferentes, um é a história dele e de seu bairro, enquanto o segundo é mais pesado em letras e sonoridade.

“Hoje em dia você não vê nenhum MC falar do Rio de Janeiro da forma que eu falo, pessoal fala de Grime Br e tal, mas antes disso sou carioca”, Max diz se considerar bairrista e que parte da imagem do álbum, a construção e o conceito do álbum passar por essa vivência, segundo ele, há áudios no disco de amigos que foram mortos pouco tempo depois, de exes e isso forma suas vivências e por isso para ele o Pitchfork fez uma resenha do seu trabalho, este site pega diversos lançamentos e fazem um review sobre o álbum, além de uma nota que vai de 0 a 10, 40°.40 recebeu nota 7.8 no site. Seguindo adiante passamos a conversar sobre como foi o trabalho para misturar o Grime e o Funk e como o estilo brasileiro, muito forte na cidade do Rio de Janeiro com os proibidões, fizeram Maximilian ter um trabalho tão plural, “Eu peguei o Funk e peguei o Grime e juntei, isso eu bato no peito pra falar e ninguém pode tirar isso de mim, foi um negócio que pensei na Bad Boy, que foi a primeira de todas, eu quero fazer Grime mas a sonoridade tem que ser diferente”, porém sua frase seguinte que mostra a sua relação com a cidade, “eu tinha que fazer diferente até porque eu não moro em Londres, eu moro no Rio”, para ele o proibidão é muito marginalizado, então se ele só fizesse proibidão, a indústria e a massa não dariam atenção ao seu trabalho. 

SD continuou comentando sobre o funk, afirmando que o que ele faz é funk proibidão, pois foi onde ele teve referências, mas se ele só fizesse funk ele ficaria “pixado” pela polícia, por outras favelas, o que é comum neste meio, visto que ao entrar no proibidão muitos cantores passam a defender a bandeira da facção do lugar em que mora e por conta da discriminação que fazem com os funkeiros ele não teria o reconhecimento também, como por exemplo o MC Poze do Rodo, que era um MC de proibidão e só ficou realmente famoso quando saiu do estilo e passou a produzir funks convencionais, além da perseguição, Poze aparecia no jornal como um criminoso segundo Maximilian, “se eu parar de cantar o crime vai acabar? As meninas vão parar de engravidar cedo? Vai melhorar a saúde? A polícia vai parar de bater em nois, matar nois, querer dá tapa na nossa cara? não vai, entendeu mano, nois retrata o que acontece desde sempre”, após essa frase indaguei ele se talvez não falar tornava tudo pior por não colocar a debate e ele respondeu que se talvez ele não tivesse ouvido Racionais, Mv Bill, Cidinho e Doca talvez ele fosse querer ser bandido ao invés de MC.

Como última pergunta, questionamos em quanto tempo ele achava que o Grime conseguiria chegar no nível do Plug e do Trap, gêneros novos do Hip-Hop que fazem muito sucesso hoje em dia e SD9 respondeu na lata “Não vai, as pessoas subestimam muito o Grime, percebi isso aqui aqui em Londres, a cena aqui é pequena e surgiu aqui, o Drill engoliu o Grime, só faz grime mesmo quem ama, eu sempre bati nessa tecla, o Grime vai ficar para sempre como um gênero underground, artistas de Grime podem sim ser grandes, mas o gênero nunca vai ser, é difícil fazer e ser um bom MC de Grime, precisa estudar a parada, Grime não vai ser um trap, não vai ser um drill e vai continuar sendo subestimado, é animador mas vai ser subestimado, mas infelizmente ou felizmente o gênero não vai ser de chegar nesse nível”.

Para entender melhor a história do SD9 e consequentemente do Grime no Brasil, gravamos a entrevista na íntegra e disponibilizamos ela no SoundCloud, deixaremos o incorporado abaixo, para que possam ouvir no durante da leitura, ou para que entrem no app

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