Por Otávio Preto
Dia 10 de abril, uma tarde ensolarada de um domingo acompanhado de vento gelado. Os vagões da linha amarela estavam cheios como era de se esperar, a estação do metrô Paulista não diferia muito, pois como todo bom paulistano sabe, aos domingos, a principal avenida da metrópole é muito movimentada, mas não de carros, e sim de pessoas, pois a Avenida Paulista fica fechada apenas para pedestres. Em uma das travessas mais famosas, a Rua Augusta estava como de costume, movimentada e cheia de energia, bares lotados, música alta e muita pluralidade, havia pessoas de todos os estilos, raças e culturas, nada representa mais a cidade de São Paulo do que essa enorme diversidade.
O que mais impressionou naquela tarde, não foram as performances artísticas que se encontravam nos faróis, a movimentação da rua, ou nem mesmo a diversidade de bares e baladas que estavam a todo vapor em plena luz do sol, mas sim um amontoado de pessoas que estavam na tentativa de formar uma fila em frente à Galeria Objectos do Olhar. Um número incontável de pessoas esperando na porta para ter a oportunidade de visitar e conhecer a exposição de Susano Correia, apresentação denominada “À Melancolia”. Muitas pessoas estavam lá apenas para conhecer a obra de um autor que para elas era desconhecido, entrar na galeria, olhar, e seguir seu rumo, já para outras era um grande evento, já que o autor é muito popular nas redes sociais e é considerado um dos artistas brasileiros com mais obras tatuadas pelo País.
Ao entrar na galeria, havia pessoas das mais variadas idades que se espalhavam pelo espaço não tão grande para apreciar as pinturas e esculturas do artista. Nas paredes geladas feitas de tijolos cinza estavam suas obras, feitas de óleo sobre tela, as quais já estavam enquadradas para serem comerciadas. Ao fundo se ouvia um Jazz suave, que ornava perfeitamente com a dinâmica do local, dando um ar calmo, deste modo, todos contemplavam com tranquilidade cada detalhe.
Embora muitos dos visitantes estavam ali apenas para ver desenhos e esculturas que nunca tinham visto e que em breve cairiam no esquecimento, muitos ficavam minutos e minutos olhando para apenas uma tela, de modo que toda a profundidade da pintura que ali estava, fosse absorvida, pois as obras de Susano, para muitos, não eram apenas um desenho, mas sim uma tradução de sentimentos. Para uma jovem de 22 anos que visitava o local, as obras exemplificavam os sentimentos mais profundos que já havia vivido, como angústia, agonia, ansiedade e diversos outros obstáculos que já encontrou com seu eu. Já para um rapaz de 33 anos, o mais interessante não era a profundidade que as pinturas traziam, mas sim o traço do autor e o processo de criação.
Além das pinturas óleo sobre tela, também tinha diversas esculturas que enfeitavam o local, como a obra denominada “O homem brincando de ser só”, composições que a maioria dos que estavam ali ficavam admirando durante muito tempo, pois como todas as outras, trazia uma profundidade e podia sentir o sentimento que foi colocado.
Ao descer as escadas os visitantes se deparavam com uma das obras que foi inspirada em uma vivência do autor, a primeira da série que influencia toda a exposição, denominada “Cante para mim”, foi uma cena vista de um cadeirante solitário carregando um pássaro engaiolado, a imagem traz a tona, diversas interpretações e sensações.
Já noutro andar da galeria, a maneira como eram feitas as obras já mudava, em vez de tinta, telas enormes e esculturas, era algo mais simples, ali estavam desenhos feitos no papel e lápis, cada traço em cada desenho era singular, toda composição tinha sua particularidade e atingia um sentimento ou experiência que muitos já passaram. Uma longa fila se estendia pelo corredor, pessoas visivelmente ansiosas esperando por algo, ao final encontrava-se o autor de toda aquela obra, de pele clara e cabelo liso, camisa leve, solta e usando uma calça jeans, Susano Correia enrolava seu próprio cigarro com uma taça de vinho ao lado. Ao terminar de fumar, começou a autografar obras compradas por quem estava ali, a cada pessoa que passava, Correia fazia um rápido desenho no verso das obras ou nos livros, com uma mão rápida e habilidosa, tracejava rosas, borboletas entre outros desenhos para os visitantes.
O que inspira Susano a fazer suas obras é a própria vida, seus encontros e desencontros da experiência humana, percebe-se também que há uma influência clara de El Greco até o pintor italiano Caravaggio. As trocas de ideias entre amigos, familiares e poetas nem tão conhecidos também contribuem para suas produções.
Um dos principais quadros de Correia, chamado “Enquanto a Luz Durar”, mostra uma vela com característica humana, a obra tem grande importância para o autor, pois durante a comemoração do lançamento de seu terceiro livro, se envolveu com sua namorada em uma experiência psicodélica com cogumelos, ele acabou exagerando na dosagem e entrou na chamada ‘bad Trip’, naquele momento a arte estava incompleta sob um cavalete e durante os devaneios da viagem, o que lhe salvou foi sua gata, as velas que costumava colocar para iluminar sua casa e o quadro inacabado, o que foi uma experiência bem intensa.
Os desenhos de Susano Correia, de modo geral, tem uma mensagem e sempre foca no sujeito com ele mesmo, percorre entre questões psicológicas e existenciais, é o que une o trabalho em geral. Questões que as pessoas têm em comum, como a vida, a morte, a saúde e a perda.