O futebol feminino está em constante evolução e tendo uma visibilidade maior, porém, muitas vezes o esporte para as mulheres ainda é estigmatizado pela sociedade, fruto de um preconceito enraizado que se desfaz em um processo lento. O interesse das mulheres pelo esporte sempre existiu, mas por ser tratado como atividade feita apenas para os homens, foi reprimido por anos.
No entanto, as mulheres que decidiram encarar o preconceito de frente, seguindo sua paixão pelo futebol, enfrentaram muitos obstáculos para consolidar uma carreira séria e reconhecida. Enquanto para os homens a prática desse esporte gerava riqueza e fama, para as mulheres ele gerava preconceito e desprezo. Enquanto eles nunca precisaram provar seu lugar no esporte para terem visibilidade, para as mulheres isso é uma luta constante que mesmo com a evolução do pensamento da sociedade ainda permanece.
Muitas jogadoras que possuem as mesmas habilidades de atletas homens não têm seu trabalho reconhecido e valorizado apenas por serem mulheres. Um grande exemplo disso é a comparação entre o salário da camisa 10 da seleção brasileira feminina, a jogadora Marta, e o camisa 10 da seleção masculina Neymar.
Marta já foi eleita 6 vezes a melhor jogadora do mundo pela FIFA, prêmio cobiçado pelo camisa 10 da seleção masculina, e ainda sim, a campanha, voltada para igualdade salarial entre homens e mulheres no esporte, mostrou que Marta recebe o equivalente a 1% da receita e Neymar durante toda uma temporada.
A equipe da AGEMT conversou com a jogadora Adriana Oliveira, atleta que atuou profissionalmente de 2000 a 2013, que ressaltou o fato de em todos esses anos jogando por clubes como Corinthians, Palmeiras, São Caetano, São Bernardo, nunca ter obtido um patrocínio. “Na minha primeira participação com o Palmeiras, eles só davam a camisa e ponto, nós nem treinávamos no centro de treinamento, não tínhamos direito a usar estádio ou qualquer outra coisa do clube. Então, essa coisa de patrocínio é algo muito recente.
Há também uma grande importância na atuação das mulheres fora de campo, especialmente em modalidades femininas. Ter um modelo feminino para incentivar as próximas gerações de atletas a seguirem no esporte e lutarem por mais direitos é essencial para a constante evolução da modalidade, servindo também como uma inspiração por quem admira e ama o esporte. Adriana reforçou a importância da representação feminina nos esportes. “Eu me considero até mãe dessas meninas, por ser de outra geração e participar dessa evolução ao longo dos anos”, afirmou a ex-atleta.
Mídia e visibilidade
A mídia também tem contribuição para a evolução do futebol feminino, quanto maior o número de notícias mostrando ídolas do esporte e prestigiando seu trabalho maior a visibilidade para o grande público.
Em 2022, o Campeonato Brasileiro Feminino passou a ser televisionado tanto na TV aberta quanto em canais fechados, além de algumas competições como o Campeonato Paulista, transmitirem os jogos pelas redes sociais.
A técnica da seleção brasileira Feminina, Pia Sundhage, em entrevista a AGEMT destacou a importância da mídia e das redes sociais na valorização da modalidade. “É ótimo quando se tem a mídia por perto e eu sempre tento fazer um bom trabalho ao contar histórias, histórias pessoais sobre o quão importante é o futebol é pra mim, além de você ter as redes sociais, que é um papel importante para espalhar boas notícias", salienta a treinadora.
Vencedora de dois ouros olímpicos com a seleção feminina dos Estados Unidos em 2008 e 2012, e prata com a seleção da Suécia em 2016, Sundhage também falou sobre a motivação para seguir na carreira. “Começou com a paixão, sem me importar com os obstáculos e ser persistente, então se você tem essas duas palavras para si você pode superar qualquer tipo de obstáculo. É desconfortável quando você é a única mulher, é desconfortável quando você é excluída em discussões algumas vezes, mas persistir é um começo, mesmo que seja desconfortável sua paixão vai te fazer passar por isso”, disse a treinadora sueca.
A popularização das competições e a visibilidade na mídia, atrai o público para os estádios, a final do Brasileirão entre Corinthians e Internacional, em 24 de setembro deste ano, estabeleceu não apenas o recorde de público do futebol feminino no Brasil como na América do Sul. Com um público de 41.070 pessoas na NeoQuímica Arena, o Corinthians bateu o Inter por 4 a 1 e levantou mais uma taça.
E aí, CBF ?
A luta por igualdade e direitos das mulheres deve ter participação também das instituições. Até 2013, por exemplo, não exista nenhum tipo de competição oficial de futebol brasileiro feminino organizado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Em 2022, o campeonato brasileiros feminino passou a ter primeira e segunda divisão, um modelo inédito, com 16 times nas duas divisões.
Um passo de cada vez
Nos últimos anos a modalidade tem obtido pequenos avanços, fundamentais para a afirmação das mulheres no futebol. Um grande exemplo disso é o fim da diferença no pagamento das diárias das jogadoras convocadas para a Seleção. Agora, homens e mulheres que atuam pelo Brasil recebem o mesmo valor.
Um acordo entre a empresa de material esportivo Puma e as jogadoras do Palmeiras também é motivo de comemoração. Pelo acordo, as "palestrinas" são patrocinadas individualmente pela marca, algo inédito no futebol feminino.
Esse reconhecimento é importante e essencial para as atletas superarem os obstáculos e continuarem na luta pelos seus sonhos, afinal, o lugar delas é dando espetáculo com a bola nos pés.