Após mais de seis meses de isolamento social, morando em Ubatuba para fugir da pandemia, duas gerações distintam decidiram reviver passatempos da infância. Nasceu assim a Liga de Itamambuca, incluída na Federação Internacional de Futebol de Mesa (FIFUME), que foi criada por José Wladir, de 81 anos, meu avô e Marco Antonio, 49, meu pai.
Em uma conversa com amigos, relembrando os velhos tempos, falavam sobre suas brincadeiras preferidas, entre elas, empinar pipa e jogar futebol de botão. Com essa nostalgia, veio a ideia de reviver antigos hobbies. Agora, porém, com novas tecnologias e materiais. Compraram então uma mesa, os times, e começaram a estudar as regras.
“Lá em casa tinha uma mesa oval, e todo mundo gostava de jogar lá, pois parecia o Pacaembu, e todos queriam jogar lá”. Essa é apenas uma das lembranças que o futebol de botão traz para o meu avô. E, para o meu pai, não é diferente.
Mesa de futebol de botão montada para a partida (Foto: acervo pessoal)
“Após 70 anos, recordei os velhos tempos de criança, os velhos amigos, os botões que tinha, que furtava das roupas escondido da mãe para poder jogar. A trave era feita de madeira, pedaços de graveto. As bolas feitas com miolo de pão e os goleiros eram caixas de fósforo”, conta Wladir. “Hoje em dia é tudo mais fácil, mais moderno. As traves têm rede, as são bolinhas melhores, os botões já vêm com distintivo dos respectivos times”.
Marco sempre gostou muito de colecionar e os times de botão viraram sua nova coleção. Aos poucos foi adquirindo novos times e atualmente tem todos os times do Campeonato Brasileiro, alguns da Europa, da Argentina e seleções da Copa do Mundo.
Após muita pesquisa e estudo das regras, fizeram adaptações e aderiram, simbolicamente, a FIFUME, e criaram Liga de Itamambuca, onde atualmente jogam, apenas por diversão, com amigos próximos. Além disso, montaram uma apostila com as regras que adotaram, as quais devem ser seguidas à risca por quem for jogar. O caderno onde marcam, religiosamente, o placar de todas as partidas, já soma mais de 50 jogos.
Pipas temáticas produzidas por Marco Antonio (Foto: acervo pessoal)
Não apenas os botões foram revigorados, Marco voltou também a produzir pipas. Ele, que não tem muita afinidade com trabalhos manuais, afirma: “No começo errei algumas, mas aos poucos fui pegando o jeito. Agora faço lisas, coloridas, listradas, temáticas de times de futebol, xadrez, entre outras, e a produção continua”. Ao todo, fez mais de 80 pipas em poucos meses, sendo que cerca de metade doou para crianças da região. Dessa forma, consegue ocupar o tempo livre, resultado de vários meses de isolamento social, e entreter as crianças.