FUNK: som de preto, de favelado e também de mulheres

Mulheres se unem para enfrentar o preconceito de gênero dentro de um dos estilos musicais mais populares do País
por
Laura Mariano
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25/05/2022 - 12h

Por Laura Mariano

Entre batidas, graves e tambores, o funk brasileiro nasce. Derivado da soul music, gênero musical inspirado no rhythm and blues (R&B), o ritmo chega ao Brasil na década de 1970. Assim como outros gêneros musicais, durante muito tempo, a indústria do funk foi majoritariamente ocupada por homens. Mesmo quando falamos de um estilo musical tão popular, mulheres sempre tiveram menos espaço. Mas essa realidade pode estar mudando agora. Com letras que retratam o dia a dia das favelas, o funk conta com letras que muitas vezes explanam machismo, objetificação da mulher, pornografia e até estupro. Em contrapartida, as mulheres encontraram meios de atacar isso de uma forma não criminalizante. Em vez de pregar prisão das pessoas, elas acabam dando respostas para os homens, sejam pelas letras, ou conquistando cada vez mais palcos e views em plataformas de streamings.

Como Valesca Popozuda, Anitta, Ludmilla, MC Karol e MC Dricka, por exemplo, suas músicas demonstram uma autonomia e empoderamento feminino. A socióloga, pós-graduanda em história e DJ de funk e hip hop, Dayeh, retrata como a sociedade encara o papel das mulheres nesse gênero musical. “Existem vários tipos de sociabilidade. Quando digo que sou DJ, me perguntam o que eu toco e eu respondo funk, as pessoas olham meio esquisito”, afirma.

Além disso, o discriminação está atrelada à misoginia e a falta de liberdade das mulheres. “A própria sociedade nos desencoraja muito, porque assim, quando se fala que é DJ as pessoas já pensam que essa menina é ‘da vida’, fica por aí à noite, usa drogas, bebe e fuma. Tanto que, não é uma coisa que eu coloco no meu currículo quando eu vou entregar currículos para vagas de professora. [...] As pessoas não enxergam como um trabalho sério”, relata a DJ.

Nessa trajetória, onde facilmente é identificado um traço machista entre os profissionais da música, a socióloga conta que por vezes mulheres são vistas apenas como público nesses locais e temas de músicas, pois quase nunca estão à frente de shows e não estão presentes nas line ups: “Já vivenciei várias situações em que eu penso ‘cara, tenho certeza que nenhum homem DJ passou por uma situação dessas’’, seja desde uma passagem de som, até o cachê que se recebe da casa [de show]. [...] Não é algo natural, parece que pelo menos uma das pessoas do line up tem que ser mulher, para preencher uma cota, senão pega mal”.

A música tem a força para iniciar uma discussão importante sobre machismo, cultura de estupro e violência. Cantoras, DJs, produtoras ou quaisquer outras profissionais dentro desse contexto tem o poder de problematizar esse comportamento retrógrado. “Cada vez mais nós vamos conquistando nosso espaço, isso é um fato. Depois que as ‘mina’ começa a se unir começa a fazer uma diferença”, explica a socióloga. “Se tem 4,5 DJs que fazem um set parecido com o meu, elas tocam na mesma balada que eu, vou ser amiga delas, vou trocar ideia com elas, vamos sempre nos fortalecer”, acrescenta.

Para Dayeh, conforme essa união vai acontecendo mais forte o posicionamento das mulheres dentro do movimento, buscando medidas igualitárias de trabalho e reconhecimento. Para isso, cada vez mais é preciso disposição para dar respostas que devem ser, acima de tudo, preventivas, em que tais temáticas devem ser enfrentadas no cotidiano, problematizando-as e entendendo-as pelo contexto, para que o funk represente ainda mais as meninas periféricas.

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