Com 58,5% dos votos, cerca de 18.779.641 votos, Emmanuel Macron (República Em Marca!), candidato à reeleição, venceu o segundo turno realizado neste domingo (24) contra a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen (Reunião Nacional), que conquistou 41,5% dos votos, equivalente a 13.297.760 votos. O resultado fez de Macron o primeiro presidente reeleito nos últimos 20 anos, o último a se reeleger havia sido o conservador Jacques Chirac (1995-2007).
A eleição também foi marcada pelo expressivo número de abstenções. De acordo com o Ministério do Interior francês, a taxa de abstenção foi de 28%, a maior marca para um segundo turno desde 2002.
"O presidente de todos"
Pouco menos de duas horas da divulgação das projeções de sua vitória, e ao som do hino europeu conhecido como "Ode à Alegria", de Friedrich Schiller, Emmanuel Macron foi recepcionado por seus apoiadores no Champs de Mars, próximo a Torre Eiffel, para seu discurso da vitória. “Desde agora não sou mais o candidato de um lado, mas o presidente de todos”, afirmou Macron.
Em seu discurso, o centrista disse saber que muitos foram às urnas não para apoiá-lo ou para votar em favor de seus projetos, mas sim, “para barrar as ideias da extrema-direita”, porém, afirmou que governará também por eles. Sobre os votos direcionados a Le Pen, Macron disse que é dever dele, enquanto presidente, encontrar as respostas para os votos na extrema-direita. “Será minha responsabilidade e de quem me cerca”, disse o presidente reeleito.
Sobre os 28% de abstenção, Macron disse que o “silêncio é uma negação ao direito de responder”, e tem um significado.
Para seus eleitores, Macron falou sobre seu compromisso no novo governo. “Hoje (vocês) escolheram um projeto humanista, ambicioso pela independência do nosso país, pela nossa europa, um projeto republicano nos seus valores, um projeto social e ecológico, um projeto baseado no trabalho e na criação”.
O presidente afirmou, também, que continuará trabalhando pela igualdade. “Este projeto, quero levá-lo com força para os próximos anos, sendo também um repositório das divisões que se manifestaram e das diferenças, e garantindo a cada dia o respeito de cada um, e continuando a trabalhar por um sociedade e igualdade entre mulheres e homens”.
Macron ressaltou que os próximos cinco anos não são continuidade de seu mandato, mas uma “invenção coletiva a serviço do nosso país e da nossa juventude”. “Esta nova era não será a continuação do quinquénio que está a terminar, mas a invenção coletiva de um método revisto por mais cinco anos, ao serviço do nosso país, da nossa juventude. Cada um de nós terá uma responsabilidade. Cada um de nós terá que se comprometer com isso”, disse o presidente francês.
No encerramento de seu pronunciamento, Macron disse que terá “orgulho de servir novamente”, e foi ovacionado pelos eleitores.
“É isso que faz do povo francês essa força singular que amo tão profundamente, tão intensamente, e que tenho tanto orgulho de servir novamente. Viva a república e viva a França!” - Emmanuel Macron
"Histórico"
O relógio marcava por volta das 20h15, horário local de Paris, quando Marine Le Pen discursou a seus apoiadores reconhecendo a derrota, em um pavilhão no Bois de Boulogne, região oeste de Paris. A manifestação ocorreu cerca de 15 minutos depois do fechamento das urnas e da divulgação das projeções. “Um grande vento de liberdade poderia ter soprado sobre nosso país, mas as urnas decidiram o contrário”, disse Le Pen em seu pronunciamento.
Em 2002, Jean Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen, causou espanto na política francesa ao conseguir avançar com a extrema-direita ao segundo turno. Na ocasião, houve uma grande união das forças democráticas para apoiar e reeleger o presidente republicano Jacques Chirac, que venceu o segundo turno com 82% dos votos.
Exatos 20 anos depois, Marine Le Pen comemorou o crescimento da Frente Nacional regida por sua família nas últimas décadas, e disse que o resultado conquistado nesta eleição foi “histórico” e uma “vitória brilhante” que colocou seu partido em uma “excelente posição” para as eleições parlamentares de junho.
“O jogo ainda não acabou” - Marine Le Pen
Líderes europeus e das américas parabenizam Macron
Após o resultado, representantes da União Europeia parabenizaram Emmanuel Macron pelo resultado. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que a Europa poderá “contar com a França por mais cinco anos” e disse que “nestes tempos difíceis precisamos de uma Europa forte, e uma França comprometida com uma União Europeia mais soberana e estratégica”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, também parabenizou Macron e disse esperar que continuem com a excelente cooperação. “Caro Emmanuel Macron, gostaria de parabenizá-lo por sua reeleição como presidente da República. Espero continuar nossa excelente cooperação. Juntos, vamos fazer a França e a Europa avançarem”, disse através do Twitter.
O chanceler Olaf Scholz, da Alemanha, e os presidentes Alberto Fernández, da Argentina, Ivan Duque, da Colômbia, e o primeiro-ministro Pedro Sánchez, da Espanha, exaltaram a vitória de Macron e o fortalecimento da democracia.
3º Turno
Com a divulgação do número de abstenções nesta eleição pelo Ministério do Interior, o candidato de esquerda e terceiro colocado no 1º turno, Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa) foi às redes sociais para criticar Macron. “Macron é o presidente eleito nas piores condições da V República. Ele nada em um oceano de abstenção, votos brancos e nulos”, falou Mélenchon.
Mesmo com a crítica ao presidente eleito, o progressista parabenizou os franceses pela derrota da extrema-direita, o que classificou como “uma boa notícia para o país”.
Mélenchon convocou os franceses para participarem das eleições parlamentares que ocorrem em junho, e pediu “coragem e determinação”. O candidato pretende liderar uma coalizão entre partidos de esquerda e ambientalistas, com o objetivo de se eleger primeiro-ministro. “O terceiro turno começa hoje à noite”, disse o líder de esquerda.
“Eu peço aos franceses que me elejam primeiro-ministro ao votarem por uma maioria de deputados insubmissos e de integrantes da União Popular”, acrescentou Mélenchon.
As eleições parlamentares acontecem entre 12 e 19 de junho. Vale lembrar que é a Assembleia Nacional, parlamento francês, que indica o primeiro-ministro, podendo ou não ser aliado do presidente.