O encontro realizado pelo TF1 e France 2 na noite de quarta-feira (20), opôs o centrista Emmanuel Macron (República Em Marcha!) e a líder de extrema-direita Marine Le Pen (Reunião Nacional), para o primeiro debate das eleições de 2022. Os candidatos estavam menos truculentos do que no debate do 2º turno de 2017. Curiosamente, ambos vestiram ternos azul marinho, parecidos com os que usaram no debate da eleição passada.
A proposta diferente na forma de atuação no debate tinha objetivo, os candidatos queriam convencer os eleitores indecisos, e principalmente, atrair os eleitores de Jean-Luc Mélenchon, terceiro colocado na disputa do 1º turno, com 21,95% dos votos. No 1º turno, Macron conquistou 27,8% dos votos, e Le Pen alcançou 23,1%.
Em 2017, Macron foi o vencedor do 2º turno, obtendo 66,06% dos votos, contra 33,04% de Le Pen. Porém, na atual disputa, as pesquisas de intenção de voto mostravam um cenário diferente, onde a tradicional líder de extrema-direita havia diminuído a vantagem do atual presidente em relação a eleição passada, e já sonhava com uma possível vitória.
O Debate
Apesar de menos truculento em relação ao do pleito passado, as duas horas e meia de debate foram de tensão, ironia e troca de acusações. Os candidatos falaram sobre temas como educação, segurança, reforma da aposentadoria, indústria, relações internacionais, imigração, e também, meio ambiente e saúde.
O início do debate tratou sobre a queda do poder aquisitivo, principal bandeira da campanha de Le Pen, que se colocou como “porta-voz dos franceses”. Para a candidata, “a população foi negligenciada nos últimos anos”. O atual presidente retrucou, e disse que as propostas de sua opositora não são realizáveis e que o plano de governo dela não trata sobre o desemprego.
“O Mozart das finanças, como o senhor às vezes foi apresentado, teve um balanço econômico muito modesto e um balanço social que é ainda pior”, ironizou a líder da extrema direita.
Quando o assunto foi relações internacionais, Le Pen defendeu que a França continue apoiando os ucranianos, mas disse que o país não pode parar de comprar gás-natural russo. Enquanto isso, Macron fez questão de lembrar da ligação entre Le Pen e a Rússia na eleição de 2017. “Quando a senhora fala com a Rússia, não está falando com outros dirigentes, e sim com seu gerente de banco”, disse Macron com sarcasmo. Em 2017, a líder do RN recebeu dinheiro de um banco russo para financiar a campanha eleitoral.
Sobre a União Europeia, Macron exaltou a aliança franco-alemã durante a pandemia da COVID-19. Le Pen, que possui histórico de declarações anti-europa, afirmou que quer se manter no bloco europeu, porém, “quer mudá-lo profundamente”. A candidata também criticou os acordos de livre comércio e afirmou ser contra as exigências para a compra do frango brasileiro.
Nesse momento, Macron falou sobre o respeito ao Acordo de Paris e a biodiversidade. “Nós lutamos contra o desmatamento graças à Europa e a escolha de nossos agricultores”, afirmou o presidente.
A questão climática foi tratada de forma secundária no debate, Le Pen falou em “acabar com a hipocrisia”, ao admitir que as importações representam 50% das emissões de gases do efeito estufa, a candidata aproveitou para voltar a tecer críticas sobre o livre comércio, e defendeu a ideia de evitar a importação de frutas e legumes, do que chamou de “patriotismo econômico”.
Macron disse que o programa climático de Le Pen não tinha “nem pé nem cabeça” e chamou a adversária de “climatocética”. De imediato, a líder de extrema-direita respondeu: “Não sou climatocética, mas o senhor é climatohipócrita”.
A polêmica
O assunto que já vinha causando polêmica durante a campanha acirrou os ânimos no debate. Pauta fundamental no programa de governo de Le Pen, a imigração é um assunto de grande divergência entre os candidatos. A candidata do RN ligou a insegurança no país a imigração, e disse que “é preciso resolver esse problema”, afirmando que a imigração “contribui para a violência no país.”
Desde a campanha, Le Pen tem defendido um referendo à Constituição sobre a imigração, o que facilitaria a expulsão de criminosos estrangeiros e dificultaria o direito à nacionalidade francesa para filhos de estrangeiros nascidos no país. “A nacionalidade francesa se merece”, insistiu a candidata.
O tom do debate subiu quando o assunto foi a proibição do uso do véu islâmico em locais públicos, pauta defendida por Le Pen, que disse que “muitas mulheres não tem escolha” e “é preciso libertá-las”. Macron disse ser totalmente contra a ideia, lembrando que o país seria o primeiro no mundo a ter tal proibição. “Se a senhora fizer isso, vai criar uma guerra civil”, disse o centrista.
2º Turno
O segundo turno está previsto para este domingo (24), e segundo o Ifop, a expectativa é de que pelo menos 74,5% dos eleitores compareçam às urnas. Ao final do debate, em pesquisas de intenção de votos preliminares, a atuação de Macron pareceu ter convencido mais os eleitores do que Le Pen.