Na última quinta-feira, 8, o Memorial da América Latina recebeu diversas entidades da comunidade LGBTQUIA+, com a iniciativa da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP). A feira reuniu estandes de gastronomia, artesanato e conversas com temáticas LGBTQUIA+, além de show com artistas queer.
O encontro surpreendeu aqueles que esperavam encontrar apenas diversão. Houve debates sobre as realidades de cada grupo e as devidas mudanças nos cenários de acessos à saúde; à educação; à segurança e também à legislação. Aliás, o evento proporcionou os devidos recursos de acessibilidade, desde a atenção especializada na retirada dos ingressos por canais de mensagem, até intérpretes de LIBRAS, informações autodescritivas e espaços reservados para pessoas com deficiência.
Pelo menos 24% das pessoas se identificam com alguma deficiência, correspondendo a 45 milhões de brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021. Porém, do número total do território nacional, um pouco mais de 23% está no mercado de trabalho, enquanto mais de 63% é ocupado pelas pessoas sem deficiência. Todas as políticas são inclusivas? Apenas em 2008, a Organização das nações Unidas (ONU) lançou uma política nacional de educação inclusiva, por meio de uma emenda constitucional, que assegura os direitos educacionais em todos os níveis dessa parcela.
O encontro também abriu espaço para os criadores comercializarem suas obras por meio do estande Casa dos Criadores, para a experenciação da vida drag queen, em parceria da Casa Fluida e a retificação do nome social patrocinada pela empresa Amstel.
A presença de órgãos públicos foi essencial para afirmar o objetivo da Parada este ano: "Políticas para LGBT+ queremos por inteiro e não pela metade". As secretarias estaduais de Justiça e da Cultura e a municipal dos Direitos Humanos estavam disponíveis para discutirem os respectivos trabalhos para com a parcela. O reconhecimento da cidadania também ocorreu com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que atendeu àqueles que não possuíam ainda o título de eleitor, visto a medida tomada em 2018 que permite a inclusão do nome social no documento.
Outro tópico relevante foi a politização da saúde da minoria. Uma das ações foi a distribuição gratuita de autoteste de infecções como Sífilis e Aids. Em 2020, um marco nos direitos sociais foi conquistado. "OSTF entendeu como institucional o impedimento à doação de sangue por homens que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo.", declaração feita pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM, que promoveu o julgamento. A polêmica surgiu a partir da preconcepção de que esse grupo transmitia o vírus da imunodeficiência humana, o HIV.
Atualmente, entende-se que a propagação dessa doença é irradiada por instrumentos cortantes não esterilizados, agulhas compartilhadas, durante a gravidez de uma mãe infectada e sexo não seguro, e, portanto, não produz relação direta com os homossexuais e bissexuais. Mas sim, o estigma que impedia discutir e acessar a saúde sexual de todas as pessoas.
A coordenadora do Centro de Referência e Apoio à Vítima (CRAVI), Luane Natalle, conversou coma AGEMT sobre a importância da feira para o seu trabalho. "O nosso principal foco hoje é promover ações de prevenção À violência e ampliação do serviço". O CRAVI oferece oficinas mensais abertas a toda a população, no Fórum Criminal da Barra Funda e em outras unidades espalhadas pelo país.
Em 2022, a cada 34 horas, uma pessoas LGBTQUIA+ era assassinada ou vítima de suicídio, segundo o dossiê realizado pelo Observatório de Mortes e violências contra LGBTQIA+ no Brasil. O tema deste ano prevê combater esses números coma inclusão da minoria em políticas públicas. "Pouco é falado do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O SUAS deveria garantir a proteção social aos cidadãos, prestando apoio à comunidade no enfrentamento de suas dificuldades. No entanto, mostra-se fragilizado quando se trata do público LGBT+." - trecho do manifesto de 2023 desenvolvido pelo APOLGBT-SP.
Em outro estande, o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas promoveu a apresentação do projeto e dos objetivos para um plano de âmbito nacional. "Queremos chegar na política nacional, no marco regulatório, orientar todas as federações e movimentos", explicou uma das representantes do Conselho.
Disponibilizadas no site da APOLGBT-SP, as reinvindicações são claras: os serviços não representam todo mundo. "A maior parte dos seus serviços e benefícios são disfarçadamente direcionados às famílias e indivíduos cisgêneros e heterossexuais."A comunhão reforça que não há nenhum olhar específico para eles e atencioso às suas necessidades.
Essa feira antecede a atração que reúne milhões de pessoas na Avenida Paulista, a Parada LGBTQIA+, que, este ano, reforça a temáticas de representatividade na políticas e nas leis. Em 2022, o mote "Vote com Orgulho" foi referente ao ano de eleições e recebeu mais de 2 milhões de integrantes dentro e fora da comunidade.
A Parada é utilizada não apenas como arte de comemoração e orgulho, mas também como um instrumento de voz e ação para evidenciar a realidade de coletivos que são excluídos tanto pelas condições de saúde quanto pelas identidades de gênero e orientações sexuais.