A falta de incentivo do skate no Brasil e a dificuldade das mulheres ao ingressar no esporte

A modalidade chegou nas Olimpíadas esse ano e já apresenta problemáticas que envolvem a precarização do esporte e o machismo no meio.
por
Nathalia Teixeira, Flora de Andrade Barros e Thais Mollo Leoni
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03/09/2021 - 12h

O skate como modalidade esportiva ganhou destaque esse ano, principalmente pela chegada nas Olimpíadas de Tóquio 2020. Porém, apesar de já ser reconhecido como esporte olímpico, o skate ainda sofre preconceito e é marginalizado por ser majoritariamente periférico. Segundo pesquisa do Datafolha, esse esporte é predominantemente praticado pela classe C, e, a partir dos dados da CBSk (Confederação Brasileira do Skate), nota-se que apenas 10% desses praticantes são mulheres. Apesar das análises, uma das skatistas que ganhou mais destaque, levando a medalha de prata para o Brasil nas Olimpíadas foi a jovem de 13 anos Rayssa Leal, que hoje sustenta a sua família através do esporte.

A fim de entender como funciona o incentivo ao skate, conversamos com o projeto social Skate Cidadão, localizado na cidade de São Carlos, no estado de São Paulo.  Ao questionar sobre os apoiadores, a representante Patricia explica: “O Projeto conta com o apoio da Prefeitura, Unimed, Rotary Club de São Carlos e de algumas pessoas físicas. [...] Só em 2019 é que conseguimos aprovar o Projeto na Prefeitura através de emenda parlamentar”. No início da ONG, em 2017, Patricia revela que eles possuíam apenas 3 skates que eram revezados entre os alunos e quem os ajudava com a manutenção eram os próprios skatistas.

Apesar do apoio de algumas prefeituras em pequenos projetos como o do Skate Cidadão, os skatistas que sonham em seguir carreira profissional ainda sentem muita dificuldade. Conversamos com a skatista Kathleen Bernardino, de 20 anos, que compartilhou as dificuldades que sente na sua carreira: “Para os meus treinos eu necessito apenas do skate, que por sinal não é algo tão barato, e os tênis adequados [...]. Atualmente conto com duas marcas que me incentivam e me dão os materiais necessários para a prática do skate”. Kathleen é um dos casos que necessita do apoio privado para seguir em frente na sua carreira e, além disso, ela coloca a dificuldade da mulher nesse esporte: “No Brasil dá para contar nos dedos as mulheres que conseguem praticar o esporte profissionalmente, isso devido à marginalização do esporte e a invisibilidade das mulheres dentro deste cenário. Mesmo com a inserção do skate aos jogos olímpicos, a popularidade do esporte não tornou esse cenário um dos quais apoiam e incentivam as mulheres com os requisitos necessários para sua prática profissional”. A skatista explica que, não só pela tripla jornada de trabalho, mas também por ser um cenário predominantemente masculino, considerado “esporte para homens” que as mulheres sofrem ao tentar seguir carreira.

A vitória de Rayssa Leal no skate olímpico é apenas o começo de uma trajetória que essa modalidade tem a oferecer. Mais que esporte, o skate é um ato cultural, pois ele é resultado do que chamamos de cultura underground, como explica o pessoal do Projeto Skate Cidadão: “O skate é liberdade e, ao contrário de outras classes sociais, o skate pode afrontar o sistema. Sistema esse que muitas vezes condenou e reprimiu a prática de skate.”. Além disso, ele é uma ferramenta de educação a partir do momento em que tem o poder de mudar a vida dos cidadãos periféricos, traçar novas perspectivas e caminhos que inspiram e dão esperança a esses jovens. A inclusão do esporte nas Olimpíadas e as conquistas brasileiras já repercutiram o suficiente para o investimento no skate crescer, mas ainda não é o suficiente. Mais do que grandes marcas, que só visam lucrar e não se aprofundam na importância social do skate, esse esporte tem o potencial para ser um dos mais reconhecidos no país, basta um incentivo financeiro maior, por parte do governo.