O crescimento da extrema-direita em diversos países, incluindo o Brasil, tem sido acompanhado por uma estratégia de mobilização focada também em um público específico: os jovens. A extrema-direita contemporânea não se baseia apenas em partidos e lideranças políticas tradicionais, utilizando plataformas como X, TikTok e Instagram para espalhar sua ideologia, além de se adaptar a novas tecnologias e criar uma estética que ressoa com o público jovem: memes, vídeos curtos e discursos polarizados que prometem soluções simples para problemas complexos. Utilizando redes sociais, influenciadores digitais e um discurso voltado para a insatisfação com a política tradicional, o movimento tem conseguido atrair uma nova geração de apoiadores.
Na última quinta-feira (27/03), a jornalista e pesquisadora Andrea Dip ministrou uma aula magna sobre a cobertura da extrema-direita no Brasil, abordando suas estratégias de comunicação e sua experiência em congressos de direita. A jornalista destacou como a extrema-direita tem se adaptado rapidamente às novas plataformas, explorando o engajamento emocional. Segundo Andrea Dip, que estuda a ascensão da extrema-direita no mundo, o movimento se fortaleceu ao dominar o ecossistema digital. “A extrema-direita compreendeu o funcionamento dos algoritmos e explorou o engajamento emocional dos jovens, criando narrativas que geram indignação e senso de comunidade”, explicou a jornalista.
Durante a aula, foram discutidos casos emblemáticos do Brasil e do exterior, nos quais partidos e líderes políticos utilizaram essas táticas para mobilizar a juventude. O evento também abriu espaço para um debate entre os alunos, que refletiram sobre o papel do jornalismo na cobertura desse fenômeno e os desafios para combater a desinformação sem reforçar discursos extremistas. Andrea Dip ressaltou a importância de compreender os métodos da extrema-direita para desenvolver estratégias eficazes de enfrentamento. “O jornalismo precisa estar atento às novas formas de comunicação política. Se não entendermos como essas narrativas são construídas e disseminadas, ficamos um passo atrás na disputa pela informação”, concluiu.
A pesquisadora também apontou que a extrema-direita construiu uma identidade visual e discursiva capaz de dialogar diretamente com a juventude, apropriando-se de memes, jargões e símbolos populares na internet. Além disso, o uso de narrativas de conflito, como a suposta “ameaça comunista” ou a “censura da mídia tradicional”, fortalece a lealdade desses jovens ao movimento, gerando discursos eugenistas, misóginos, homofóbicos e xenofóbicos. O discurso da “guerra cultural” — que denuncia supostas ameaças da esquerda à liberdade de expressão, à família e aos valores tradicionais — é também um dos principais atrativos. Portanto, a disseminação de notícias falsas decorrentes da manipulação em massa entre jovens e jovens adultos atrai figuras influentes desse espectro político, que se apresentam como alternativas aos veículos de mídia tradicionais, criticando o jornalismo convencional e incentivando um consumo seletivo de informações. Isso ficou evidente em uma postagem na rede social X, onde Nikolas Ferreira disse: "O golpe 'armado' que não teve arma", referindo-se ao Golpe de Estado de 2022, que resultou na inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Manifestantes invadindo o Congresso nacional no dia 8 de janeiro de 2023.
Andrea Dip revela não apenas os bastidores da extrema direita, mas também as estratégias usadas para capturar as emoções dos mais jovens, especialmente diante de um cenário em que discursos ultraconservadores ganham espaço sob disfarce de liberdade e tradição.