Segundo Andrea, os líderes de extrema-direita sabem utilizar a desinformação, o medo, o ódio e a rebeldia de jovens como instrumentos de captação ideológica e política. A extrema-direita institucional, através de organizações privadas, oferece cursos de política para jovens a partir dos dezesseis anos do mundo inteiro, grande parte da América Latina, como uma das formas de cooptação.
Jornalista com foco em direitos humanos, listada entre os três mil jornalistas brasileiros mais premiados e autora do livro-reportagem “Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder”, Andrea investiga os movimentos pessoalmente e trouxe à aula magna resultados que podem explicar esse aumento de apoiadores.
A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. O resultado das eleições legislativas na Alemanha em que o partido de direita radical, Alternativa para Alemanha (AfD), obteve 20% dos votos, resultado recorde desde o pós-guerra, apesar de ter ficado em segundo lugar, fazem uma parte do tabuleiro político mundial que explicita o crescimento dos movimentos de extrema-direita no mundo, que aumentam na medida da expansão dos movimentos sociais progressistas e por caminhos não tão orgânicos quanto pode parecer.
Esses movimentos possuem formas e narrativas que são essencialmente direcionadas e arquitetadas por indivíduos influentes no âmbito político, jornalístico e, muitas vezes, empresarial. No caso dos Estados Unidos e Alemanha, um fator em comum: o apoio do empresário Elon Musk, dono da rede social X. O empresário sublinha o discurso de anti-imigração defendido pelo partido AfD.
Esse crescimento das extremas-direitas traz à tona a questão: quais são os elementos que levam a esses resultados alarmantes no setor político e, também, no midiático?
“Eles sabem instrumentalizar o medo da rejeição” afirmou Andrea.
Ela cita a existência de congressos organizados por políticos de extrema-direita do mundo inteiro, em que eles se encontram e debatem questões como: a inexistência de emergência climática, que os imigrantes roubarão os espaços dos nativos e que serão oferecidas resoluções rápidas para a democracia e para as crises econômicas e, ainda, como invisibilizar questões de gênero. Também pontua que essas soluções irreais “empurram as pessoas para a direita” que, além de arquitetar um futuro utópico e com soluções fáceis, também se apodera de discursos falaciosos para falar do passado, ignorando qualquer viés de verdade.
O apoio de empresários donos de grandes sistemas de comunicação, como Elon Musk e Mark Zuckerberg, dono da Meta, traz preocupações acerca da propagação desses discursos sem uma supervisão responsável e, também, da liberdade que isso traz aos discursos de ódio dentro das redes sociais que, em tempos pós-modernistas, tem se tornado uma das mais perigosas formadoras de opinião.