Expresso Catar: Camarões

Com polêmica na convocação, seleção de Camarões chega ao Catar com possibilidade de aprontar no grupo G.
por
Matheus Monteiro da Luz
José Pedro dos Santos
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15/11/2022 - 12h

A República dos Camarões é uma nação africana que se localiza na região central do continente fazendo fronteira com Nigéria, Chade, República Centro Africana, Guiné, Gabão e Congo, com parte do litoral banhada pelo Oceano Atlântico.

Com uma população de 27,2 milhões de habitantes, o país tem o Inglês e Francês como línguas oficiais. Apesar disso, boa parte do seu povo ainda tem contato com a cultura local, sendo preservadas mais de 250 línguas nativas e um pouco mais de 25% da população adaptada a crenças tribais.

Camarões tem Yaoundé como capital, mas Douala é a cidade mais populosa e importante economicamente. O país ainda conta com uma agricultura rica e diversificada, sendo um grande produtor de cacau, banana-da-terra e inhame. 

 

Roger Milla marcando em jogo contra a Colômbia, em 1990 Foto: Getty Images

Histórico em Copas do Mundo


Camarões está em sua oitava participação em Copas tendo alcançado sua melhor campanha na Copa de 1990 na Itália, onde chegou às quartas de final.

Em 90, Camarões surpreendeu com vitórias contra a Argentina, que defendia seu título, e sobre a Romênia, se classificando em primeiro do grupo apesar de uma derrota para a União Soviética na última rodada.

No mata-mata, superou a seleção da Colômbia na prorrogação por 2 a 1 com gols de Roger Milla, ídolo nacional do país - atuação essa que ficou eternizada na história das Copas pelas danças de Milla ao comemorar os dois gols.

O sonho camaronês acabou na partida seguinte onde fizeram um jogo duríssimo contra a seleção inglesa e só acabaram eliminados com um gol de pênalti na prorrogação, encerrando assim a excelente campanha de uma forte geração camaronesa de jogadores que encantou nos gramados italianos com um futebol ofensivo, alegre e imponente, rendendo o apelido de "leões indomáveis".

 

Eliminatórias


Camarões não teve uma classificação para a Copa das mais tranquilas. Por mais que a campanha de 5 vitórias e 1 derrota na fase de grupos transmita uma sensação de segurança. Camarões só ficou 2 pontos na frente da Costa do Marfim, responsável pela derrota camaronesa nessa fase.

Com a classificação assegurada, bastava Camarões superar a Argélia num confronto ida-e-volta. Derrotada por 1 a 0 em território camaronês, a seleção garantiu sua vaga na Argélia após vencer por 2 a 1, com gol nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação, numa partida dramática.
 


Deixa o Ataque Brilhar


A seleção camaronesa não possui grandes nomes individuais, por isso deposita grande parte do seu futebol em organização tática e dominância física. Mas é fato que seus melhores jogadores estão no setor ofensivo.

Toko Ekambi é um ponta esquerda de 30 que joga no Lyon, jogador veloz, driblador, é o "ás" de talento da seleção. Ekambi chega com moral pelo bom ano no Lyon jogando ao lado de Lucas Paquetá - antes do brasileiro se transferir para o West Ham. É ele o cara do time ao lado de Vincent Aboubakar, tendo dividido a artilharia da seleção.

Por falar em Aboubakar, o jogador é a principal referência da seleção, um 9 clássico (apesar de usar a 10). Grande, forte, excelente pivô e goleador. O atacante de 30 anos tem 89 jogos pela seleção e 33 gols acumulando também a função de capitão.

Esse ataque ganhou um reforço no meio do ano para as partidas decisivas contra a Argélia. A adição de Eric Maxim Choupo-Moting, talvez o nome mais conhecido da seleção camaronesa, não teve um bom ciclo de Copa tendo uma queda de rendimento no futebol europeu. 

Choupo que despontou para o futebol no Hamburgo teve bons anos no futebol Alemão passando por Nuremberg, Mainz e Schalke 04 chegando a atuar na Premier League por Stoke City. Após a Copa de 2018 o atacante teve a grande oportunidade da vida ao fazer parte do projeto milionário do PSG mas teve pouco espaço e acabou se transferindo para o Bayern onde teve mais oportunidades, recuperando seu espaço de titular na seleção nacional.
 

Da terra da Bota para o Catar
 

É da liga Italiana que temos outros dois nomes para ficar de olho: o goleiro Onana, da Internazionale, e o meio campista Anguissa, da Napoli.

Onana era o goleiro daquele Ajax que chegou à semifinal da Champions de 2018/19 e após aquele ano memorável a carreira do goleiro sofreu um revés. Em outubro de 2020, Onana foi pego num exame antidoping e foi punido pela UEFA com 9 meses longe dos gramados. Quando voltou da suspensão, foi pouco aproveitado no Ajax e após fim de seu contrato foi jogar pela Inter nesta temporada.

Apesar disso, o goleiro foi muito importante com atuações seguras nas partidas decisivas das eliminatórias e é um dos principais responsáveis pela classificação da seleção para a Copa.

Frank Anguissa, por sua vez, se encontra num ótimo momento em sua carreira. O volante é um pilar no meio campo do Napoli, líder do Campeonato Italiano. O time com certeza vem surpreendendo a Europa com boas atuações não só no âmbito nacional mas também as partidas da Champions e uma parte desse sucesso passa pelo pés de Anguissa.

Na seleção ele terá um papel diferente do vivido no clube, antes atuando com um primeiro volante de contenção, na seleção camaronesa Anguissa terá um papel de maior construção das jogadas se assemelhando com um 10 clássico com a bola.

Porém Camarões deverá atuar com linhas mais compactadas onde as virtudes defensivas de Anguissa devem ser postas a prova bem como sua capacidade de organização, e coordenação do setor.

Rigobert Song em entrevista coletiva Foto: Journal du cameroun

O que pensa Rigobert Song?

 

Rigobert Song tem apenas 6 jogos no comando da seleção camaronesa, entre os amistosos e as partidas decisivas das eliminatórias. Não teve tanto tempo para preparar a seleção do jeito que gostaria, mas é possível ver a sua mão no jeito de jogar de Camarões.

Sua principal mudança foi o uso de 2 centroavantes de referências (Aboubakar e Choupo-Moting). Mudança essa que foi muito eficiente contra as seleções africanas que jogam com sistemas defensivos mais compactos e reativos, mas que pode expor Camarões contras as seleções do Grupo G.

A Seleção de Song joga num 4-4-2 sem bola com duas linhas de 4 homens bem definidas. No momento com a bola ela se transforma num 4-3-3 com Toko Ekambi se apresentando para se transformar nesse terceiro atacante.

"Não temos medo do Brasil”

Essas foram palavras ditas por Aboubakar em entrevista coletiva após o sorteio da Copa, para não tirar a frase de contexto o capitão da seleção africana ainda completou. "Porque esse time não é como os que conhecemos no passado. É claro que existem bons jogadores. Mas, para ir longe em uma competição como essa, você precisa de um grupo muito unido. Sem esse coletivo, de pouco adianta alinhar grandes nomes".

Essas declarações, obviamente, não foram bem vistas no ambiente nacional, diversas postagens foram feitas ironizando as falas do jogador, a respeito da relevância dele para o futebol.

Outra polêmica que essa delegação enfrentou foi no momento de sua convocação. O técnico Song por diversos momentos, confundiu os nomes de seus convocados, errava pronúncias, o que só evidenciou uma falta de conhecimento e intimidade do treinador com seus jogadores.

Inclusive foi especulado que a definição das lista de convocados não foi feita por ele e sim por Samuel Eto'o, maior jogador da história de Camarões, que atualmente preside a Federação de Futebol do país.

 

Lista de convocados

 

Goleiros:
André Onana (Inter de Milão),
Devis Epassy (Abha)
Simon Ngapandouetnbu (Olympique de Marselha)

Defensores:

Nicolas Nkoulou (Aris)
Enzo Ebosse (Udinese),
Nouhou Tolo (Seattle Sounders)
Olivier Mbaizo (Philadelphia Union),
Collins Fai (Al-Tai)
Jean-Charles Castelletto (Nantes)
Christopher Wooh (Rennes)
Jérôme Onguene (Eintracht Frankfurt)

Meio Campistas:

Gael Ondoa (Hannover)
Samuel Oum Gouet (Mechelen)
Pierre Kunde (Olympiacos)
Martin Hongla (Verona)
Frank Anguissa (Napoli)
Olivier Ntcham (Swansea)

Atacantes

Georges-Kevin N'koudou (Besiktas)
Vincent Aboubakar (Al-Nassr)
Bryan Mbeumo (Brentford)
Jean Pierre Nsame (Young Boys)
Karl Toko Ekambi (Lyon)
Nicolas Ngamaleu (Dynamo Moscow)
Eric Maxim Choupo-Moting (Bayern de Munique)
Cristian Bassogog (Shanghai Shenhua)
Souaibou Marou (Coton Sport)

 

Corre por Fora

Camarões vem apontada por todos com a seleção mais fraca do grupo que ainda conta com Brasil, Sérvia e Suíça. Tirando o Brasil que aponta com amplo favorito, o hiato entre as outras 3 seleções não é tão grande e Camarões pode beliscar uma segunda vaga.

A missão é difícil, seu treinador não tem tanta rodagem com a seleção, mas ele tem um plano de jogo, tem nomes que podem sustentar a seleção em momentos difíceis. Definitivamente não é uma seleção que podemos ignorar.