Exposições imersivas estão revolucionando a arte ou tornando-a ‘instagramável’?

Tecnologia atrai novo público a museus, mas pode estimular relação superficial com obras
por
Yasmin Solon
|
28/06/2023 - 12h

As chamadas exposições imersivas fazem parte da arte digital contemporânea. Sua proposta é trazer ao público uma experiência intensa em um ambiente multissensorial, que faz uso de recursos como projeções sincronizadas de vídeo, luzes, sons, trilhas sonoras e por vezes até essências olfativas. Entretanto, os debates sobre esta tendência dividem tanto o público quanto os críticos. Alguns acham que as exposições imersivas tornam a arte mais conhecida, outros temem que o real sentido das obras esteja sendo trocado por objetivos mercadológicos.

As exposições imersivas puderam trazer uma experiência única aos visitantes. Rafael Reisman, CEO da Blaist Entreteniment, foi fundador e curador de grandes projetos de sucesso no Brasil. Desde a primeira, Elvis Experience em 2012, até as recentes “Space Adventure”, “Beyond Van Gogh”, “Van Gogh 8K”, “Frida Kahlo” e “The Art of Bansky”.  

Reisman explicou em entrevista à AGEMT como esses eventos são montados: “As exposições, que geralmente ficam quatro meses em cada cidade selecionada, são complexas. Envolve toda uma curadoria cinematográfica e tecnológica de alta performance.” O empresário ainda disse que Beyond Van Gogh contou com mais de 70 projetores a laser de última geração, conectados a servidores de alto desempenho, sendo necessária “muita dedicação de um time grande”.  

Para o CEO, as exposições tiveram um grande alcance pelo “ineditismo”. “As pessoas se interessaram porque foi uma novidade completa aqui, é uma experiência completamente diferente de ir ao museu tradicional”, completou ele. As exposições tiveram grande alcance nas redes sociais, o que contribuiu muito para a divulgação dos projetos. Além de conquistar quem já era fã do artista em exposição, as redes sociais proporcionaram um conhecimento e um interesse de outras pessoas que até então poderiam nem saber sobre seus trabalhos. Reisman concordou em dizer que “as redes influenciaram completamente as exposições, sendo excelentes ferramentas de divulgação”.  

O público, que pode estar mais interessado em registrar o momento e postar, se sente influenciado a fazê-lo mesmo quando o artista em exposição critica fortemente a arte elitista, como Bansky, e o capitalismo, como Kahlo.  As empresas responsáveis pelos projetos veem uma boa opção para lucrar e então, cada vez mais, a programação dos museus inclui ambientesinstagramáveis, fazendo incluir pessoas que talvez, a princípio, não se interessam pelo que acontece na exposição, mas pelo ato de publicar que esteve presente.  

Mesmo assim, apesar da polêmica que pode ser interpretada como arte clássica e arte contemporânea, e agora também digital, existe um público ainda excluído do debate e das exposições. Apesar de as redes sociais propagarem os projetos, o preço dos ingressos é determinante para transformar a vontade em realização, e nesse tipo de exposição não há uma inclusão total.  

Reisman explicou que o preço elevado dos ingressos é justificado pelas altas tecnologias usadas, que ele qualifica como “caríssimas”. Mesmo assim, o CEO explicou que alguns projetos, como “Beyond Van Gogh”, que tem ingressos até R$ 90, tinham iniciativas para tornar a experiência mais acessível: “Às segundas, terças e quartas-feiras tinham ingressos a partir de R$ 35, não é tão caro. Obviamente, os horários e os dias mais concorridos refletiam em preços mais elevados, mas tentamos e conseguimos muito bem dar o acesso a todos. O empresário precisa lucrar e retornar os valores que os projetos demandam, a própria tecnologia é caríssima”.  

Controvérsias à parte, a nova modalidade merece ser visitada porque, assim como disse Reisman, “é cultura”, e as pessoas deveriam conhecer o que pode estar cada vez mais infiltrado no cotidiano moderno. 

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