O conhecido programa Big Brother foi lançado em 1999, na Holanda, e teve sua origem inspirada no livro “1984”, de George Orwell, que conta a história de uma cidade distópica ditatorial na qual todos são vigiados 24 horas por dia. O reality show se inicia com um grupo de pessoas confinadas em uma casa, que vão sendo orientadas pelo “Grande Irmão” - o apresentador - ao longo de meses, com jogos, festas, e eliminações.
O programa foi ao ar pela primeira vez no Brasil em 2002, e se tornou o reality show mais famoso no país, tomando proporções gigantescas. No ano passado, por exemplo, com o avanço da pandemia do novo coronavírus, o BBB20 foi um escape da tragédia que acontecia, e acontece, no Brasil, e se tornou uma edição histórica. Naquela edição, foi criada uma nova dinâmica: metade dos participantes seriam celebridades (camarote) e metade, pessoas não famosas (pipoca).
No início parecia ser uma ótima ideia para as celebridades que queriam se divulgar e aumentar sua popularidade nas redes. Entretanto, o jogo pode ser mais difícil do que parece. Alguns acabam se “perdendo” ao longo dele, mostrando comportamentos não esperados e inaceitáveis aos olhos da audiência, afinal, são observados por milhões de pessoas durante 24 horas por dia.
A famosa cultura do cancelamento foi um tema bastante discutido nas edições de 2020 e 2021. Na edição atual, um grupo formado dentro da casa se destacou bastante, negativamente, nesta questão. O chamado “gabinete do ódio”, composto por Karol Conká, Nego Di, Projota, Pocah e Lumena. Esta última é a única ‘pipoca’, ou seja, não famosa, e teve um grande destaque movido principalmente por seu posicionamento quanto ao participante Lucas Koka Penteado - ator paulista que enfrentou diversas críticas do grupo.
Três deles, já eliminados do programa, foram os grandes alvos da audiência e tiveram os maiores índices de rejeição já vistos como consequência de seus comportamentos e posicionamentos dentro da casa.
Para o rapper Projota, 35, as consequências incluem a diminuição de ouvintes nas principais plataformas de streaming e de público no youtube, além da grande onda de cancelamento. Já o comediante Nego Di, 26, perdeu grande parte de sua credibilidade na carreira de comediante e cerca de 200 mil seguidores na rede social Instagram. Contudo, Nego Di lidou de uma forma conturbada com a onda de cancelamentos do público, e mais precisamente com a emissora Globo, responsável pela transmissão do programa, que o tratou de forma diferenciada depois de sua saída.
O comediante, em entrevista ao programa Pânico na Band, além de quebrar um contrato milionário com a Globo por não poder participar de outros programas que não fossem da própria emissora por um determinado período, contou que após a sua saída da casa, a Globo não lhe deu nenhum espaço na programação para que ele tentasse recuperar a sua imagem, "O que me intrigou foi o acolhimento que a Karol Conká teve. Começou a me incomodar. Porque eu fiquei: 'Será que a minha família não importa tanto quanto a dela?'. Porque eu fui ameaçado, meu filho foi ameaçado, meu filho não pode mais ir para escola, tive que sair de lá de carro blindado, coisa que eu nunca tinha vivido", desabafa Nego Di.
Apesar de ter assinado um contrato de exclusividade com a Rede Globo, o artista disse ao programa da Band que não tem medo da multa de quebra de contrato. "A situação é a seguinte: os caras não me deram espaço. Eu tenho que ir aonde a galera está me acolhendo, fazer meu contraponto", afirmou. O comediante conta que pretende tirar vantagem da sua participação e rejeição de 98% dos votos no BBB, e que vai transformar a experiência em um novo show. "O nome eu já estou escrevendo: '98% o que a edição não deixou você ver'. Eu vou contar tudo, tem muita história lá dentro que eu ainda não contei e que eu já transformei em piada", garantiu.
Apesar de tudo, Projota e Nego Di, que eram amigos dentro da casa e hoje não se falam, conseguiram recuperar parte de suas perdas reconhecendo seus erros, comportamentos e falas, já que na internet tudo é muito rápido, e as pessoas cancelam e ‘descancelam’ a todo tempo.
Já a cantora Karol Conká, 35, foi de longe a mais prejudicada da edição. Com falas inquietantes contra o participante Lucas Koka, a artista foi altamente julgada pelo seu posicionamento dentro do programa. A cantora, que ficou conhecida pela força negra e o empoderamento feminino dentro do rap, chocou muitos fãs e amigos com sua participação, e foi eliminada com 99,17% dos votos, maior rejeição da história do reality show.
Dentre as perdas sofridas pela artista, se acumulam menos 500 mil seguidores em sua conta na rede social Instagram; a não exibição de seu programa na GNT, “Prazer Feminino”, o cancelamento de sua apresentação no festival virtual Rec-beat, e a perda de cerca de 48 mil reais por mês com posts patrocinados - o que não deverá se repetir por um tempo. No total, as perdas estimadas com patrocínio podem chegar a 5 milhões de reais, já que muitas marcas se afastaram da cantora.
Em entrevista ao Fantástico, Karol Conká contou que durante sua infância foi vítima de altas críticas, e que por isso sente que precisa sempre estar na defensiva: "Eu era muito rejeitada, não pela minha família, mas no colégio. Um menino no colégio falou: 'mergulhe numa piscina de água sanitária para falar comigo.' Eu fiquei pensando: mas por que?”. Além disso, ela diz que o rap foi um escape do racismo e da rejeição: “Foi tipo uma gincana. Cada um entrega alguma coisa e eu falei: deixa que eu escrevo um som. Desde aquele dia, os meninos pararam de me xingar. Aí não era só a neguinha boba. Eu era a Karol Conká, a menina que faz umas rimas, que entende de rap.”
Apesar de muitas marcas, público, e celebridades terem se afastado da cantora, a Rede Globo anunciou a decisão de criar um documentário sobre a trajetória da artista no programa. “A Vida Depois do Tombo” estreou dia 29 de abril no serviço de streaming Globoplay, numa tentativa de limpar a imagem de Karol.