Até setembro, será possível um mergulho cultural nas telas do pai do impressionismo, Oscar-Claude Monet. A mostra “A Ecologia de Monet” iniciou dia 16 de maio e reúne, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), 32 obras do pintor, juntamente de uma leitura diante da relação do artista com as transformações da natureza.
A exposição, com curadoria de Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, é dividida em 5 núcleos temáticos de suas pinturas, além de um breve relato biográfico. Na entrada, conhecemos um pouco de quem foi Monet. Nascido em Paris, porém, criado na Normandia, o fundador do impressionismo era filho de merceeiro, com pais que almejavam sua entrada nos negócios da família, mas sua vocação era para a pintura. Sua tia Marie-Jeanne Lecadre, também pintora, foi quem o incentivou a seguir na profissão.

"Voltei a algumas coisas que simplesmente não podem ser feitas: a água, com algas dançando no fundo... É uma visão maravilhosa, mas é de enlouquecer querer fazer isso. Porém é esse tipo de coisa que estou sempre tentando enfrentar.”
-Monet, comentário do artista grafado na exposição
Os Barcos de Monet

O primeiro núcleo é “Os Barcos de Monet”. Nele, estão exibidas duas pinturas de um conjunto de seis obras realizadas entre 1887 e 1890, nas quais há a representação de barcas navegando ao longo do Rio Epte, um dos afluentes do Sena. Todas as obras desta série, com exceção da representada à esquerda da foto acima, mostram as enteadas de Monet a bordo da embarcação.
As telas representam a natureza como sendo um ambiente imersivo, por isso vemos as barcas de um ponto de vista elevado, assim perdemos a noção de uma linha do horizonte. Somando ainda ao fato de que, no quadro à direita, a vegetação da margem funde-se às águas do rio, enquanto na obra à esquerda a margem desaparece por completo. Em ambas as telas, o rio é o protagonista, sendo destacado por pinceladas onduladas em tons de vermelho e amarelo, para simular a correnteza, que somam-se ao verde predominante.
O Sena Como Ecossistema
O segundo núcleo de obras é “O Sena Como Ecossistema” e nele a água mostra-se como inspiração na produção artística de Monet. O artista percorreu grande parte do rio Sena e seus afluentes ao longo de sua vida por meio de seu barco-ateliê, que lhe permitia novos pontos de vista a partir do leito do rio em busca de experiências imersivas. Desde sutis variações de luz e clima na paisagem até eventos naturais de impacto considerável, como inundações e degelos, o rio foi protagonista em suas pinturas.

Na obra da ponte de Argenteuil, Monet justapõe a caminhada bucólica de sua esposa e seu filho às margens do Sena ao trem cruzando a ponte recém-construída. Aqui, vemos não apenas o lazer burguês, como anteriormente, mas também a fusão dele com a modernização de Argenteuil.
Porém, a representação da industrialização nas pinturas de Monet é escassa. Com o passar dos anos, os trens que cortavam a cidade e as fábricas se multiplicavam ao redor de seus cavaletes, mas em suas telas, desapareciam. A historiografia da arte entende isso como um sinal de desilusão diante da perspectiva de uma harmonia entre a industrialização e a natureza. Os temas da modernidade apenas voltariam a aparecer nas pinceladas de Monet quando tornaram-se o próprio tema de suas pinturas, como em suas cenas da poluída névoa londrina.
“Estou seguindo a natureza sem conseguir compreendê-la; esse rio, que desce, volta a subir, um dia verde, depois amarelo, às vezes quase seco, e que amanhã será uma torrente, após a terrível chuva que está caindo agora.” -Monet, comentário do artista grafado na exposição
Por exemplo, ao longo de toda sua produção, Monet pintou frequentemente o rio Sena, responsável por banhar as cidades nas quais viveu a maior parte de sua vida: Havre, Paris, Argenteuil, Vétheuil e Giverny. Ele era fundamental para o transporte de mercadorias no período de industrialização do país, mas na obra “O Sena em Port-Villez” Monet não retrata o rio margeado por indústrias e muito menos barcos, ao contrário, prevalece a sensação de uma paisagem intocada.

Giverny e a natureza domesticada
O tema do terceiro núcleo artístico das pinturas de Monet é “Giverny: natureza domesticada”. O foco agora são os jardins, um refúgio escapista frente à modernização parisiense para o artista. Ele concebeu a jardinagem, uma outra paixão de sua vida, como pintura ao ar livre, uma fusão dos domínios natural e humano.
Em função da catarata, Monet ficou quase cego em seus últimos anos de vida, isso acaba se tornando perceptível em suas obras, a forma dos temas representados se dissolvia à medida que a definição da imagem cedia lugar aos efeitos das manchas na superfície da tela, como vemos no quadro “A ponte japonesa" (1918-1926).

Há um debate entre os historiadores da arte de que a escolha de cores com tons mais saturados, sobretudo vermelho e amarelo, era feita para o pintor compensar a perda gradual da visão, afinal, as cores frias tornavam-se terrivelmente distorcidas.
E junto de uma nova escolha de cores, foi em Giverny que Monet dedicou-se às mais conhecidas obras de sua carreira: as enormes pinturas de ninfeias. As pinturas das plantas na lagoa em Giverny desafiam a estrutura tradicional de uma paisagem, em que chão e céu seriam divididos por uma linha do horizonte, ora localizada acima do centro da pintura, ora abaixo, mas raramente se aproximava dos limites da tela. Porém, nessas obras, o impressionista não aplica o esquema de perspectiva linear.

O Pintor Como Caçador
O quarto momento temático das pinturas de Monet vem como "O Pintor Como Caçador". Em um momento de ascensão do turismo moderno, na segunda metade do século 19, Monet viajou pela França e países próximos. Ele buscava pintar os efeitos atmosféricos particulares de cada lugar.
Na costa da Bretanha foi o mar revolto que desafiou o pintor, já na Holanda, as cores dos campos de tulipas criaram um pretexto que antecipou o seu trabalho nos jardins floridos em Giverny e, em Normandia, destacou em suas pinturas as paisagens costeiras.
Passou a se aventurar por trilhas em busca de pontos de vista originais, caminhar até um local que desejava pintar passou a influenciar a composição de suas obras, isso influenciava a própria presença do corpo do pintor imerso na paisagem pintada.
“A minha é uma vida de cão, e eu nunca paro de andar, eu subo e desço, por toda parte. Saio em explorações por todos os caminhos que encontro, sempre à procura de algo novo.”
-Monet, comentário do artista grafado na exposição

Na costa normanda da França, Claude Monet produziu um conjunto de seis telas pintadas a partir de um processo de produção em série, o artista levava para o campo diversas telas às quais dava início em momentos diferentes do dia, ou em questão de minutos, o que era o suficiente para haver alguma alteração de luz. Por exemplo, pela manhã, a vegetação sobre as falésias é banhada pelo Sol, assumindo cores alaranjadas e rosadas. Já a luz suave da manhã projeta a cor lilás dos penhascos.
“Neblina e Fumaça”
A exposição chega ao fim com “Neblina e Fumaça”. Aqui, Monet trata como tema central aquilo que durante muito tempo tentou ignorar em seus painéis: a modernidade. O ambiente das cidades passou a ameaçar a natureza idílica tão frequentemente tematizada na produção artística do período.
Entre suas representações mais famosas desse mundo em transformação estão suas pinturas de Londres, como “A Ponte de Waterloo”(1903). O artista retratou a vista da ponte Waterloo da janela de seu hotel, às margens do rio Tâmisa. Apesar de ter iniciado as pinturas de Londres, as obras só foram finalizadas posteriormente, em Giverny.
