A luta indígena é uma pauta notavelmente marginalizada nos setores social e político, sendo o histórico da colonização europeia o responsável pela posição em segundo plano assumida por esse grupo nas discussões. Entre os meios em que essa exclusão é evidente, o jornalismo não pode ser descartado por negligenciar as vozes dos povos originários, oferecendo mínimo espaço para a exposição de suas agendas. Embora as redes sociais representem um novo meio de comunicação para disseminação e acessibilidade a esse debate, para o entrevistado Anápuàka Tupinambá “seja nas mídias, redes sociais, plataformas, e estruturas midiáticas digitais, ainda há muito para se manifestar e ocupar”.
Respeitando uma lógica de mercado, os jornais sempre buscam voltar suas pautas para aquilo que gera maior lucro, ‘’o jornalismo é preguiçoso para ir atrás de coisas significantes, busca muito mais uma contemplação pelos views, a quantidade de jornais que são vendidos, [...] do que fazer sua função de comunicação social”, argumenta Anápuàka. Além disso, ao falar sobre o papel da mídia jornalística para as lutas indígenas, o entrevistado acredita ser “insignificante”, já que sempre notou certa indiferença jornalística com os movimentos indígenas, seja dentro das redações, da TV ou do rádio.
Segundo o radialista, o racismo estrutural é o grande culpado por essa desigualdade de protagonismo nas notícias dos meios de comunicação: "Existe o racismo, existe um preconceito muito grande, mas o racismo é um dos fatores que mais leva a gerar a desigualdade de repercussão dentro das mídias de massa não indígenas”. Ainda nesse sentido, argumenta que essa herança disseminada na sociedade é refletida na formação dos jornalistas: “Existe uma ignorância e estupidez na formação do jornalista [...] não há uma formação antropológica dentro desse ambiente para entendimento da diversidade dos povos indígenas e isso não tem grande expressão na abordagem das pautas”.
Em busca de maior representatividade das vozes indígenas nas mídias, Anápuàka fundou a primeira rádio indígena do país, a Rádio Yandê, um espaço voltado para uma educação a respeito dos povos originários. Iniciativas como essas são importantes para que haja uma reeducação mais assertiva sobre a história e as tradições indígenas. Para ele, as etnomídias representam o início de um processo de ressignificação “estamos em ascensão, construindo nossas próprias mídias, até porque as mídias não indígenas não nos representam [...]. Nós indígenas não temos espaço, somos invisibilizados por conta do racismo estrutural e do holocausto indígena que até então permanece”.