“Eu respeito a tua fé e você respeita o meu Axé”

Mãe de santo Landa Vera Maria Bulgarini Delci enfrenta o preconceito religioso por ser da Umbanda.
por
Julia da Justa Berkovitz
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24/05/2023 - 12h

 

Durante 20 anos no Candomblé e na Umbanda, Landa Vera Maria Bulgarini Delci enfrentou olhares tortos na rua, julgamentos de pessoas próximas, entre outras questões. Ela nunca se importou com esse preconceito e criou seu lema “Eu respeito a tua fé e você respeita o meu Axé”.  

Ela nasceu em Porto Alegre em 1962. Cresceu em um lar católico, seu pai italiano e sua mãe de família alemã sempre participavam de retiros e reuniões religiosas. Aos 14 anos, Landa passou a palestrar sobre vivência de fé no Curso de Liderança Juvenil da Igreja. 

Com 19 anos, Landa se mudou para a Alemanha e lá morou dois anos. Ao voltar para o Brasil ela começou a trabalhar em uma empresa petroquímica e, aos 21 anos, se mudou para São Paulo devido ao seu emprego.  

Na Páscoa de 1985, Landa foi para o Rio de Janeiro e lá ela visitou pela primeira vez uma casa de santo de Candomblé. Seu contato foi a partir de uma tia que conhecia a mãe de santo que trabalhava naquele terreiro. 

Landa ficou completamente maravilhada pela beleza do lugar, mas também passou muito mal ao ponto de perder os sentidos. Mesmo não tendo entendido o que havia acontecido, a sensação de encanto ficou marcada na sua mente e ela quis buscar o significado daquilo. 

A mãe de santo de sua tia frequentemente vinha a São Paulo fazer atendimentos de jogos de búzios então Landa querendo compreender melhor sua espiritualidade decidiu ir visitá-la.  

Ela descobriu que era médium, que tinha se sentido mal por ter tido sua espiritualidade aflorada e que Iemanjá era sua orixá. Dessa maneira, ela começou a frequentar essa casa de santo. Após dois anos ela decidiu passar pelo ritual de entrada do Candomblé e, para isso, teve que se demitir do trabalho, já que ficaria 5 meses em resguardo. 

Nesse momento, houve uma retaliação da sua família, seu pai ficou dois anos sem falar com ela e sua mãe chorava sem entender. Landa encarou o desafio e aos poucos mostrou para os pais que tudo estava bem. 

Sendo assim, Landa passou catorze anos dentro do Candomblé. Nos primeiros 7 anos ela fez sua obrigação em que reafirmava periodicamente o primeiro contato com a sua orixá. Após concluir essa etapa, Landa atingiu a maioridade dentro da casa de santo e se tornou uma Ègbómi. 

Com essa nova denominação, ela recebeu a missão de ter uma casa de santo. Landa teve seu terreiro no RJ, mas aos poucos foi se assustando com a responsabilidade de ir até lá, ajudar todos que frequentavam a casa e ao mesmo tempo lidar com as demandas do trabalho. 

Dessa forma, ela decidiu sair do Candomblé. Após dois anos ela começou a ter contato com a Umbanda a partir de uma amiga. Landa se encontrou dentro desta religião, que têm menos obrigações com os santos e que trabalha com as entidades como pretos velhos, caboclos, ciganos, entre outros. 

Landa entrou para a Umbanda, fez curso de sacerdote durante dois anos para aprender os preceitos, o funcionamento e preparação para as giras, e o mais importante para ela: o respeito com as entidades, que “são energias que emanam e fazem bem”.  

Landa é apaixonada pelos atendimentos que faz, ela afirma ser um trabalho de amor ao próximo em que ela é o instrumento para o conforto daqueles que buscam os santos. Ela sente uma enorme satisfação ao prestar esse serviço voluntário de alívio dos consulentes e diz que a Umbanda é seu amor e seu porto seguro.  

 

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