Com um jogo de palavras que revela a relação humana com o mundo exterior, 'Eu de você', solo estrelado por Denise Fraga, está em exibição no TUCA, em São Paulo, até 5 de novembro. A temporada tem sessões lotadas. Idealizado pela atriz em conjunto com o diretor e produtor Luiz Villaça e José Maria, respectivamente, 'Eu de Você' é alegre, triste, angustiante e libertador: um retrato fiel de diversas facetas da vida.
Senta que lá vem história
Três paredes brancas são o cenário no qual Fraga incorpora, ato após ato, a vida de diversos brasileiros e brasileiras. A peça foi composta por relatos reais, de cenas da vida de pessoas pertencentes a várias classes sociais, raças, orientações sexuais e idades, enviadas à produção em 2018. “Abrimos uma chamada para histórias”, conta a atriz à Folha de S. Paulo.
Com muita energia e entrega, Denise Fraga hipnotiza seu público pelas 2 horas de duração. São as expressões faciais, o tom de voz, a música – performada ao vivo pela atriz e banda – que revelam este tesouro das artes cênicas, em uma produção que dialoga com o público em todos os sentidos: causa identificação, empatia e a atriz entrega carinho, recepção e empatia quando conversa com sua plateia.
'Arte da vida', 'vida da arte'
Em entrevista à Teté Ribeiro, da Folha de S. Paulo, Fraga defende a arte como "mais do que um direito, é saúde mental (...) quem vive com arte vive mais amparado" e diz que "viver é um negócio rico".
A seleção de enredos, comprova. São histórias reais, coletadas em 2018, que navegam entre temas como burnout, agressões e outros, mais corriqueiros e leves, como as peculiaridades de relacionamentos e memórias de vida dos representados - encenadas com sensibilidade e seriedade, mas sem deixar de lado a leveza.
Eu de você
Mesmo diante de dilemas que podem ser iguais ou semelhantes àqueles vivenciados nos cotidianos de cada telespectador, a experiência emociona e é um exercício de diálogo. Uma peça que fura-bolhas, pois aproxima aquele que a vê um pouco mais da pele alheia, na íntima vivência de ouvir o outro falar de si. Rara oportunidade em uma sociedade marcada pela segmentação e exclusão.
“Todos os meus preconceitos em dia (risos), é muito tocante ver uma pessoa tida como ´de direita´ e outra ´de esquerda´, lado a lado e ambos emocionados”, conta Denise Fraga à Teté Ribeiro, da Folha de S. Paulo. Levando em conta as tensões históricas e recentes no espectro político, este relato é a pura potência do teatro, e da arte, como importante participante da construção de uma sociedade mais equânime, empática e democrática.
“O teatro é um pacto coletivo. Eu e você, você e eu, escolhemos estar aqui e entregues a esta experiência. E eu acredito no teatro", clama a atriz ao seu público no início da apresentação.
Muito além do que falar das artes da cena, este "combinado" revela que diante da alteridade, da divergência, o encontro é possível. Na vida e na arte. Com muita entrega e uma energia de reverência e respeito à existência humana - como só seria possível vir de alguém, também, de igual riqueza interior: um viva à Denise.