O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode quebrar precedentes na política americana se não aceitar o resultado das eleições. A opinião é de Cristina Soreanu Pecequilo, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A acadêmica acredita que o pleito estadunidense ficará marcado pelos questionamentos aos resultados e à segurança da votação pelos correios. ”Trump desconfia muito dos correios, já falou publicamente que não julga que sejam seguros e que, se for necessário, irá contestar o resultado das eleições”, disse Pecequilo, em conversa com estudantes de Jornalismo da PUC-SP no dia 15 de outubro.
Segundo ela, os grupos de extrema direita e supremacistas brancos podem atrapalhar uma transição republicana, caso Joe Biden seja eleito. “Todos os grupos supremacistas apoiam Trump. Ele se recusou a condená-los durante o primeiro debate e ainda sugeriu que os Proud Boys aguardassem o momento certo para agir”, afirmou a professora.
Pecequilo julga que Trump deixará o poder caso não seja reeleito. A docente confia na política de pesos e contrapesos das instituições americanas. “O sistema americano funciona. Mesmo que Trump queira desestruturar o establishment, ele não consegue quebrar todas as barreiras”, acrescentou.
O pleito indireto que elege os presidentes norte-americanos pode levar políticos que não obtiveram a maioria dos votos populares à Casa Branca. Os republicanos George W. Bush e Donald Trump conquistaram os seus respectivos primeiros mandatos (2000 e 2016) sem terem sido eleitos pela maioria da população dos Estados Unidos.
A acadêmica avalia que, embora sofra questionamentos, o sistema de colégios eleitorais não será mudado. “O sistema existe para evitar uma suposta ditadura da maioria, é muito tradicional e permite uma rotatividade entre democratas e republicanos, além do fato de que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos, então eles não têm essa consciência da importância do voto.”
A amizade entre o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e Donald Trump também foi alvo de questionamento por parte dos alunos da PUC-SP. “O Brasil é irrelevante para os Estados Unidos. Toda a política externa do governo Bolsonaro de alinhamento a Trump apenas rebaixou o país”, afirmou Pecequilo. A docente julga que o Brasil só é mencionado de uma maneira negativa, principalmente pelas crescentes queimadas na Amazônia, que assustam os investidores estrangeiros.
As redes sociais, alimentadas de maneira feroz pelo presidente americano, instigaram dúvidas quanto a políticas de proteção de dados e desinformação. Para a acadêmica, a importância das redes tem crescido, mas não a ponto de conferir a elas o protagonismo para definir um pleito eleitoral. Contudo, na opinião de Pecequilo, a regulação de empresas como Facebook, Google e Twitter é um passo considerável em busca de coibir as fake news e o compartilhamento de dados dos usuários.
Os alunos indagaram a docente de relações internacionais sobre os recentes conflitos entre Washington e Pequim acerca da tecnologia 5G e da rede social chinesa Tic Toc. “É um novo campo de batalha. A China deve dominar o mercado de inteligência artificial até 2024 e está assumindo um papel importante na geopolítica mundial”, disse Pecequilo, qualificando a guerra entre as duas potências como “totalmente ideológica”.
Pecequilo evitou cravar a vitória de Joe Biden no pleito, mas disse que, a julgar pelos dados, a vitória do democrata está próxima. “A revista The Economist acredita que Joe Biden tem 90% de chances ser o próximo presidente americano e eu confio muito nos dados da revista”, complementou.
Foto da capa: Numa Roades/Creative Commons