A crise provocada pela pandemia de Covid-19 representou um duro golpe para o setor aéreo. Após a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendar medidas restritivas para tentar conter a propagação do novo coronavírus, as empresas de aviação sofreram com o fechamento das fronteiras e o cancelamento e adiamento de voos. Para amenizar os impactos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está coordenando, em parceria com o Banco do Brasil e um consórcio de bancos privados – integrado por Bradesco, Itaú e Santander – um pacote de financiamento para as três maiores empresas do setor: (Gol, Latam e Azul).
Os recursos serão destinados ao pagamento de fornecedores e despesas administrativas e fixas, como aluguel, manutenção, estacionamento dos aeroportos e salários de funcionários, a fim de evitar a falência das empresas. Outra medida usada para amenizar a crise na aviação é incentivar os funcionários a tirarem licença não remunerada, antecipar férias, reduzir de maneira temporária jornadas de trabalho e salários, inclusive de executivos, para assim impedir demissões em massa.
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), em matéria publicada no portal UOL em 11 de abril, cerca de 85 a 87% dos passageiros estão fazendo a prorrogação ou alteração da data das viagens. De 13 a 15% dos viajantes, por sua vez, têm pedido reembolso. O prazo para que as empresas devolvam o dinheiro dos passageiros foi prorrogado por até 12 meses.
A Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) divulgou um estudo que aponta que o cancelamento e adiamento de viagens causou um impacto de aproximadamente R$ 3,9 bilhões no turismo em relação ao mês de março, ou seja, 25% do faturamento de 2019. Os cancelamentos afetaram 98% das companhias aéreas. Para 36% das empresas, a suspensão das viagens ficou entre 70 e 100%.
Em relação ao final de março e início de abril do ano passado, o volume de voos regulares está 48% menor e foram removidos mais de 20 milhões de assentos das empresas aeroviárias mundiais. A Latam anunciou redução de 95% das operações em abril deste ano e a Gol fez a suspensão de todos os voos internacionais até o fim de junho, além de uma redução das operações domésticas e internacionais em 70%.
A demanda por viagens aéreas domésticas registrou uma queda de 32,84% no mês de março, em comparação ao mesmo mês no ano de 2019, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O número de passageiros transportados em voos domésticos teve um recuo de 35,46% ainda em março, diante de igual período do ano passado. No total, foram transportados 4,9 milhões de pessoas, o que indica a menor quantidade para o mês desde 2009.
Além disso, a procura por viagens aéreas internacionais entre as empresas de aviação nacionais recuou 45,38%, na comparação com o mesmo mês de 2019. Com isso, o estudo indica o menor volume de demanda para março desde 2010. Fazendo uma comparação no setor de transporte de carga e correio, a redução foi de 17,52% no segmento doméstico em relação a 2019. No mercado internacional a queda foi de 21,17%.
Perspectivas para as companhias aéreas pós-pandemia
Fabio Falkenburger, sócio de infraestrutura do escritório de advocacia Machado Meyer e especialista no setor aéreo, analisa que todas as medidas anunciadas pelo governo para amenizar os efeitos da Covid-19 são essenciais para o restabelecimento do turismo. "Para voltar a ter um nível de receita, as empresas teriam de redimensionar o tamanho para ter uma operação lucrativa e rentável. Cada companhia vai ter de medir os impactos que teve", destaca.
Fabio diz que a retomada será tênue e que as pessoas começarão a perder o medo de viajar para fora aos poucos, encorajadas pela política de prevenção de cada empresa no período pós-pandemia. "A primeira onda de retomada vai ser de voos domésticos, relacionados a trabalho, e após, os voos de lazer", avalia.
Levando em consideração as medidas adotadas até agora, o especialista projeta para o segundo semestre a retomada do transporte aéreo. Apesar do cenário incerto, Fabio avalia que não há possibilidade de falência das empresas do setor e que será possível garantir a manutenção dos empregos e minimizar os impactos causados pela crise.